domingo, 13 de junho de 2021
Maria João de Deus
Chegara o dia 2 de Novembro de 1915 e mais de mês já havia transcorrido sobre a data de minha
desencarnação.
Nesse dia, sob o império de grande dissabor, que me advinha daquela incompreensão, dirigi-me
tristemente à Igreja para orar, aproveitando a quietude de sua soledade, Lá penetrando, porém,
compreendi que não me achava só, pois percebia que outras almas, talvez padecendo a mesma dor que
eu experimentava, conservavam-se estáticas ao pé dos altares, onde foram buscar um pouco de consolo
e de esclarecimento.
Todavia, assim que me entreguei aos arrebatamentos da prece, senti uma intraduzível vibração
percorrer todas as fibras do meu ser, como se fosse sofrer um vágado, afigurando-se-me invadida pela
influência do sono; mas durou poucos instantes, semelhante estado.________________________________
Livro Cartas de uma Morta - Psicografia Chico Xavier
sábado, 22 de maio de 2021
Consolai-vos
Consolai-vos, pois, vós todos que sofreis, esquecidos na sombra de males cruéis, e vós que sois desprezados por causa da vossa ignorância e das vossas faculdades acanhadas. Sabeis que entre vós se acham Espíritos eminentes, que abandonaram por algum tempo as suas faculdades brilhantes, aptidões e talentos, e quiseram reencarnar como ignorantes para se humilharem. Muitas inteligências estão veladas pela expiação, mas no momento da morte esses véus cairão, deixando eclipsados os orgulhosos que antes as desdenhavam. Não devemos desprezar pessoa alguma. Sob humildes e disformes aparências, mesmo entre os idiotas e os loucos, grandes Espíritos ocultos na matéria expiam um passado tenebroso.
Oh! vidas simples e dolorosas, embebidas de lágrimas, santificadas pelo dever; vidas de lutas e de renúncia, existências de sacrifício para a família, para os fracos, para os pequenos, mais meritórias que as dedicações célebres, vós sois outros tantos degraus que conduzem a alma à felicidade. É a vós, é às humilhações, é aos obstáculos de que estais semeadas que a alma deve sua pureza, sua força, sua grandeza. Vós somente, nas angústias de cada dia, nas imolações da matéria, conferis à alma a paciência, a resolução, a constância, todas as sublimidades da virtude, para então se obter essa coroa, essa auréola esplêndida, prometida no espaço para a fronte dos que sofrem, lutam e vencem! Leon Denis em Depois da Morte
Espíritos Imperfeitos
O Espírito puro traz em si próprio sua luz e sua felicidade, que o seguem por toda parte e lhe integram o ser. Assim também o Espírito culpado consigo arrasta a própria noite, seu castigo, seu opróbrio. Pelo fato de não serem materiais, não deixam de ser ardentes os sofrimentos das almas perversas. O inferno é mais que um lugar quimérico, um produto de imaginação, um espantalho talvez necessário para conter os povos na infância, porém que, neste sentido, nada tem de real. É completamente outro o ensino dos Espíritos sobre os tormentos da vida futura; aí não figuram hipóteses.
Esses sofrimentos, com efeito, são-nos descritos por aqueles mesmos que os suportam, assim como outros vêm patentear-nos a sua ventura. Nada é imposto por uma vontade arbitrária; nenhuma sentença é pronunciada; o Espírito sofre as conseqüências naturais de seus atos, que, recaindo sobre ele próprio, o glorificam ou acabrunham. O ser padece na vida de além-túmulo não só pelo mal que fez, mas também por sua inação e fraqueza. Enfim, essa vida é obra sua: tal qual ele a produziu. O sofrimento é inerente ao estado de imperfeição, mas atenua-se com o progresso e desaparece quando o Espírito vence a matéria. _____Leon Denis ____Depois da Morte
sexta-feira, 21 de maio de 2021
Adrien, médium vidente
Todo aquele que pode ver os Espíritos sem auxílio de terceiros é, por isto mesmo, médium vidente. Mas, em geral, as aparições são fortuitas e acidentais.
Nós ainda não conhecíamos ninguém apto a ver os Espíritos de maneira permanente e à vontade. É dessa notável faculdade que é dotado o Sr. Adrien, membro da Sociedade de Estudos Espíritas. Ele é, simultaneamente, médium vidente, escrevente, auditivo e sensitivo. Como psicógrafo, escreve o ditado dos Espíritos, mas raramente de modo mecânico, como os médiuns inteiramente passivos, isto é, mesmo escrevendo coisas estranhas ao seu pensamento, ele tem consciência do que escreve. Como médium auditivo escuta as vozes ocultas que lhe falam. Temos na Sociedade dois outros médiuns que gozam desta faculdade no mais alto grau e que, ao mesmo tempo, são ótimos psicógrafos. Enfim, como médium sensitivo, ele sente o contato dos Espíritos e a pressão que sobre si eles exercem. Sente até comoções elétricas muito violentas que afetam as pessoas presentes. Quando magnetiza alguém, pode, à sua vontade, desde que isso seja necessário à saúde, produzir sobre essa pessoa a descarga de uma pilha voltaica.
Uma nova faculdade que nele acaba de revelar-se é a dupla vista. Sem ser sonâmbulo e conquanto inteiramente desperto, vê à vontade, a uma distância ilimitada, mesmo além dos mares, aquilo que se passa numa localidade. Vê as pessoas e aquilo que estão fazendo; descreve os lugares e os fatos com precisão cuja exatidão tem sido confirmada.
Digamos logo que o Sr. Adrien não é um desses homens fracos que se deixam arrastar pela imaginação. Ao contrário, é um homem de caráter frio, muito calmo e que vê tudo isto com o mais absoluto sangue frio, mas não diremos que com indiferença; longe disto, pois que ele leva a sério as suas faculdades e as considera como um dom da Providência que lhe foi concedido para o bem e, assim, dele se serve apenas para coisas úteis e jamais para satisfazer à vã curiosidade. É um moço de família distinta, muito honesto, de um caráter suave e benevolente e cuja educação apurada se revela na linguagem e em todas as suas maneiras. Como marinheiro e como militar já percorreu uma parte da África, da Índia e de nossas colônias.
De todas as suas faculdades como médium, a mais notável e a nosso ver a mais preciosa é a vidência. Os Espíritos lhe aparecem sob a forma descrita em nosso artigo anterior sobre as aparições. Ele os vê com uma precisão da qual podemos fazer uma ideia pelos retratos que damos a seguir, da Viúva do Malabar e da Bela Cordoeira de Lyon.
Ação do Homem sobre os Espíritos Infelizes
A nossa indiferença para com as manifestações espíritas não nos privaria somente do conhecimento do futuro de além-túmulo, pois nos desviaria também da possibilidade de agir sobre os Espíritos infelizes, de amenizar-lhes a sorte, tornando-lhes mais fácil a reparação de suas faltas. Os Espíritos atrasados, tendo mais afinidade com os homens do que com os Espíritos elevados, em virtude de sua constituição fluídica ainda grosseira, são, por isso mesmo, mais acessíveis à nossa influência. Entrando em comunicação com eles, podemos preencher uma generosa missão, instruí-los, moralizá-los e, ao mesmo tempo, melhorarmos, sanearmos o meio fluídico em que todos vivemos. Os Espíritos sofredores ouvem o nosso apelo e as nossas evocações. Os nossos pensamentos, simpáticos, envolvendo-os como uma corrente elétrica e atraindo-os a nós, permitem que conversemos com eles por meio dos médiuns. O mesmo se dá com as almas que deixam este mundo. As nossas evocações despertam a atenção dos Espíritos e facultam-lhe o desapego corpóreo; as nossas preces ardentes são como um jato luminoso que os esclarece e vivifica.
É-lhes agradável perceber que não estão abandonados a si próprios na imensidade, que há ainda na Terra seres que se interessam pela sua sorte e desejam a sua felicidade. E, quando mesmo esta não possa ser alcançada por preces, contudo elas não deixam de ser salutares, arrancando-os ao desespero, dando-lhes as forças fluídicas necessárias para lutarem contra as influências perniciosas e ajudando-os a subirem mais alto.
Leon Denis - Depois da Morte
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021
Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1863 > Janeiro > Identidade de um Espírito encarnado
Estando em viagem, nosso colega, Sr. Delanne, nos transmite o relato seguinte, sobre a evocação do Espírito de sua esposa, viva, que ficara em Paris.
“...A 11 de dezembro último, estando em Lille, evoquei o Espírito de minha mulher, às 11h30 da noite. Ela me disse que uma de suas parentas casualmente havia dormido com ela. O fato deixou-me dúvidas, pois não julgava isso possível, mas, dois dias depois, dela recebi uma carta, confirmando a realidade. Remeto a minha conversa, embora nada encerre de particular, porque oferece uma prova de identidade.
l. ─ Estás aí, querida amiga? ─ Sim, meu gordo. (É seu termo favorito)
2. ─ Vês os objetos que me rodeiam? ─ Vejo-os bem. Estou feliz por estar perto de ti. Espero que estejas bem agasalhado! (Eram 11h30; eu acabara de chegar de Arras; o quarto não tinha aquecimento; eu estava envolvido na capa de viagem e ainda não tinha tirado meu cachenê).
3. ─ Estás contente por ter vindo sem o corpo? ─ Sim, meu amigo. Eu te agradeço. Tenho o corpo fluídico, o perispírito.
4. ─ És tu que me fazes escrever? Onde te postas? ─ Junto a ti. Certamente tua mão ainda tem dificuldade em mover-se.
5. ─ Estás bem adormecida? ─ Não, ainda não muito bem.
6. ─ Teu corpote retém? ─ Sim, sinto que me retém. Meu corpo está um pouco doente, mas o Espírito não sofre.
7. ─ Durante o dia tiveste a intuição de que te evocaria esta noite? ─ Não, contudo não posso definir o que me dizia que eu te veria. (Neste instante tive um acesso de tosse). Tu tosses sempre, amigo; cuida-te um pouco.
8. ─ Podes ver meu perispírito? ─ Não. Só posso distinguir o corpo material.
9. ─ Tu te sentes mais livre e melhor do que com o corpo? ─ Sim, porque não sofro mais. (Em carta posterior eu soube que ela efetivamente havia estado indisposta).
10. ─ Vês Espíritos em volta de mim? ─ Não, posto o deseje muito.
11. ─ Receias estar só em casa? ─ Adélia está comigo. (Esta parenta jamais dorme em nossa casa; só a vemos raramente).
12. ─ Como é que Adélia está contigo? Ela dormiu contigo? ─ Sim, por acaso.
13. ─ És tu mesma que falas comigo, cara esposa? ─ Sim, amigo. Sou eu mesma.
14. ─ Vês bem claro aqui? ─ Sim, tudo irradia melhor que tua fraca lâmpada. (Eu não tinha senão uma vela, num quarto grande).
15. ─ Tu te comunicas comigo por intuição ou mecanicamente? ─ Eu atuo mais particularmente sobre o teu cérebro, que é adequado para receber mais facilmente; contudo, ao mesmo tempo, dirijo tua mão.
16. ─ Como podes ver que meu cérebro é apto a receber as comunicações espíritas? ─ É pelo desenvolvimento adquirido por teus órgãos há pouco tempo, o que prova que foi preciso... (Neste instante soa meia noite e o Espírito para).
17. ─ Ouves o som do pêndulo? ─ Sim, mas eu continuo impressionada com esse som inusitado. Ele é parecido com a música celeste que eu ouvi no sonho que te contei. (Com efeito, pouco antes de minha partida ela tinha tido um sonho delicioso, no qual ouvira uma harmonia singular. Nesse momento, tenho certeza de que eu não pensava no sonho, que havia esquecido completamente. Assim, não podia ser reflexo de meu pensamento, porque, como ninguém mais dele tinha conhecimento, e na ocasião eu estava só, vi nessa revelação espontânea uma nova prova da identidade do Espírito de minha mulher. O Espírito termina espontaneamente a frase começada acima) ... muita força em tão pouco tempo.
18. ─ Queres que eu evoque meu anjo da guarda para controlar tua identidade? Isto te aborreceria? ─ Podes fazê-lo.
19. (Ao meu anjo da guarda) ─ É mesmo o Espírito de minha mulher que acaba de me falar? ─ É tua esposa que te fala e está satisfeita por te ver.
20. (À minha mulher) ─ Viste meu anjo da guarda? ─ Sim. Ele é resplandecente de luz. Apenas apareceu e desapareceu.
21. ─ Ele te viu? ─ Sim, olhou-me com olhos de uma celeste clemência, e eu, confusa, prostreime. Adeus, meu gordo. Sinto-me forçada a deixar-te.
OBSERVAÇÃO: Se o controle se tivesse limitado à resposta do anjo da guarda, teria sido insuficiente, pois, por sua vez, teria sido preciso controlar o anjo da guarda, quanto à identidade, porque um Espírito enganador poderia ter usurpado o nome. Nada há, nessa simples afirmação, que revele a sua qualidade. Em casos semelhantes, é sempre preferível controlar por um médium estranho que não esteja sob a mesma influência. Invocar um Espírito para controlar outro nem sempre oferece garantia suficiente, sobretudo se se pede permissão ao suspeito. No caso em tela, encontramos uma prova na descrição que o Espírito faz do anjo da guarda. Um Espírito enganador não poderia ter tomado aquele aspecto celeste. Aliás reconhece-se, em todas as suas respostas, um caráter de veracidade que a charlatanice não poderia simular.
SESSÃO DA NOITE SEGUINTE
22. ─ Estás aqui? ─ Sim. Vou dizer o que te preocupa: É Adélia. Então! Sim, ela dormiu realmente comigo, eu te juro.
23. ─ Teu corpo está melhor? ─ Sim. Não era nada.
24. ─ Hoje vês Espíritos perto de ti? ─ Ainda não vejo nada, mas pressinto algum, pois estou inquieta por estar só.
25. ─ Ora, minha boa amiga, e talvez melhores. ─ Sim. É o que vou fazer. Dize comigo: “Meu Deus, grande e justo, abençoainos e absolvei-nos de nossas iniquidades; perdoai aos vossos filhos que vos amam; dignai-vos inspirar-lhes as vossas virtudes e concedei-lhes a graça insigne de um dia serem contados entre os vossos eleitos. Que a dor terrestre nada lhes pareça em comparação com a felicidade que reservais aos que vos amam sinceramente. Absolvei-nos, Senhor, e prodigalizai-nos vossos benefícios pela intercessão divina da pura e angélica Santa Maria, mãe dos pecadores e a misericórdia encarnada”.
OBSERVAÇÕES: Esta prece, improvisada pelo Espírito, é de uma tocante simplicidade. O Sr. Delanne não conhecia o fato relativo a Adélia senão pelo que havia dito o Espírito de sua esposa, e era tal fato que lhe suscitava dúvidas. Tendo-lhe escrito a respeito, recebeu a seguinte resposta:
“...Adélia veio realmente ontem à tarde, por acaso. Convidei-a a ficar, não por medo, do qual me rio, mas para tê-la comigo. Vês que ficou e dormiu comigo. Fiquei perturbada estas duas últimas noites; sentia um certo mal-estar, do qual não me dava bem conta. Era uma força invencível que me forçava a dormir. Eu estava como que aniquilada. Mas me sinto tão feliz por ter ido ver-te!...”
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