quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mediunidade, o sacerdócio da doação incondicional

O codificador do espiritismo, Allan Kardec, ao pesquisar criteriosa e exaustivamente os fenômenos psíquicos que invadiram todos os continentes, na metade do século IXX, concluía que o dom da mediunidade, por se encontrar em toda parte, nunca foi um privilégio. Pretender o médium fazer da mediunidade um meio de vida, seria desviá-la de sua finalidade providencial.

DOM GRATUITO RECEBIDO DE DEUS

Os médiuns modernos, assim como os apóstolos, que também tinham mediunidade, receberam igualmente de Deus um dom gratuito, que é o de serem intérpretes dos espíritos, para instruírem os homens, para lhes ensinarem o caminho do bem e levá-los a fé, e não para lhes venderem palavras que não lhes pertencem, pois que não se originam de suas idéias, nem nas suas pesquisas, nem em qualquer outra espécie de seu trabalho pessoal.

O MAIS POBRE NÃO PODE SER DESERDADO POR TER COMO PAGAR

É desejo de Deus que a luz atinja a todos, e não que o mais pobre seja deserdado e possa dizer: Não tenho fé, porque não pude pagar; não tive a consolação de receber o estímulo e o testemunho de afeição daqueles por quem choro, pois sou pobre.

OS BONS ESPÍRITOS REPUDIAM FORMAS DE INTERCÂMBIO EGOÍSTA

Allan Kardec adverte que os bons espíritos comunicantes sentem grande repulsa a todas as formas de interesse egoísta, e o menor deslize moral da parte do médium é suficiente para que se afastem.

Enfatizava o codificador que os bons espíritos jamais estarão à disposição do primeiro que os convocar cobrando valores materiais por uma sessão.

INTENÇÕES LEVIANAS ATRAEM COMUNICAÇÕES LEVIANAS

Seria uma profanação, evocar por dinheiro os seres que respeitamos ou que nos são caros. Não há dúvida que é possível obter manifestações dessa maneira, mas certamente, não há como garantir-lhes a veracidade. Os espíritos levianos, mentirosos e espertos, e toda a turba de espíritos inferiores, muito pouco escrupulosos, atendem sempre a esses chamados, e estão prontos a responder ao que lhes perguntarem, sem a menor preocupação com a verdade.

A PRIMEIRA CONDIÇÃO PARA COSEGUIR A BOA VONTADE DOS ESPÍRITOS

Allan Kardec apresenta os fundamentos do processo de intercâmbio mediúnico em termos muito bem definidos: "Aquele que deseja comunicações sérias, deve primeiro procurá-las com seriedade, esclarecendo-se quanto à natureza das ligações do médium com os seres do mundo espiritual". E acrescenta: "A primeira condição de se conseguir a boa vontade dos bons espíritos é a que decorre da humildade, do devotamento e da abnegação: o mais absoluto desinteresse moral e material.

A MEDIUNIDADE NÃO DEVE SER UMA PROFISSÃO

Além da questão moral, hà ainda um outro fator que se refere à própria natureza da faculdade: "A mediunidade séria não pode e jamais será uma profissão, não somente porque isso a desacreditaria no plano moral, colocando os médiuns na mesma posição dos ledores de sorte, mas, porque existe ainda uma dificuldade material para isso: é que se trata de uma faculdade essencialmente instável, fugidia, variável, com a qual ninguém pode contar na certa".

Sendo assim, a mediunidade passa a ser, para o seu explorador, um campo inteiramente incerto, que poderia escapar-lhe no momento mais necessário.

NÃO É UMA ARTE, MUITO MENOS UMA HABILIDADE

Esclarece o missionário de Lyon que a mediunidade, longe de ser uma arte ou uma habilidade adquirida, não pode ser profissionalizada, pois ela só existe graças ao concurso dos espíritos. Se estes faltam, não há mediunidade.

"Não há um único médium no mundo que possa garantir a obtenção de um fenômeno espírita em determinado momento. Explorar a mediunidade, como se vê, é querer dispor de uma coisa que realmente não se possui. Afirmar o contrário é enganar os que pagam", adverte Kardec aos imprevidentes.

SAGRADA MISSÃO

É repugnante o fato de colocar-se à venda o concurso dos mortos e foi justamente esse tráfico, degenerado pelo abuso, explorado pelo charlatanismo, pela ignorância, a credulidade e a supertistição, que provocou a proibição de Moisés.

O espiritismo moderno, esclarece Allan Kardec, compreendendo o aspecto sério do assunto, lançou o descrédito sobre essa exploração, e elevou a mediunidade à categoria de missão. Por esse motivo, o espírita que estuda e se orienta pelas obras do codificador entende a mediunidade como uma coisa sagrada, que deve ser praticada santamente, religiosamente.

OPORTUNA ADVERTÊNCIA AOS MÉDIUNS

Kardec ainda deixa uma oportuna advertência aos que acalentam segundas intenções ao se descobrirem possuidores de faculdades mediúnicas: "Que aquele, pois, que não tem do que viver, procure outros recursos que não os da mediunidade; e que não lhe consagre, se necessário, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os espíritos levarão em conta o seu devotamento e os seus sacrifícios, enquanto se afastarão dos que pretendem fazer da mediunidade um meio de subir na vida."

Não é possível entender o espiritismo sem conhecer a obra de Allan Kardec. Assim, conhecer sua obra significa entender, entre outras revelações, os mecanismos que regem a fenomenologia mediúnica.

Continuemos analisando essa questão do ponto de vista do exercíco da mediunidade, quanto a sua coerência aos princípios éticos espirituais.

NÃO COBRAR POR AQUILO QUE NADA SE APAGOU

"Dai de graça o que de graça recebestes", diz Jesus aos seus discípulos, estabelecendo o preceito da doação incondicional, uma vez que não se deve cobrar por aquilo que nada se pagou. E o que, na verdade, os discípulos haviam recebido de graça era a faculdade de curar doentes e de expulsar espíritos impuros. Esse dom lhes fora dado gratuitamente por Deus, para alívio dos que sofrem e para ajudar a propagação da fé. A advertência do Mestre é clara, alertando-os para não transformarem o dom sublime em objeto de comércio ou de especulação, nem de meio de vida.

INTERMEDIÁRIOS ASSALARIADOS

Um outro fator muito importante do espiritismo está no fato de Allan Kardec ter recebido instruções sobre a questão das preces pagas. Explicam o espíritos que Jesus nos alertou para que não pagássemos e nem cobrássemos por nossas preces: "Não façais que as vossas preces sejam pagas, não façais como os escribas, que 'a pretexto de longas preces, devoram as casas das viúvas', o que quer dizer: apossam-se de suas fortunas. Fazer pagar aquelas que dirigimos a Deus pelos outros (e há muitas formas de receber esse pagamento) é nos transformarmos em intermediários assalariados".

"A PRECE É UM ATO DE CARIDADE, UM IMPULSO DO CORAÇÃO"

Segundo os espíritos que assessoraram Allan Kardec, a prece deve ser um "ato de caridade, um impulso do coração", caso contrário, transforma-se, então, numa fórmula que é cobrada segundo o seu tamanho.

E aí raciocina o codificador do espiritismo: "Ora, das duas, uma: Deus mede ou não mede as suas graças pelo número de palavras; e se forem necessárias muitas, como dizer apenas algumas, ou quase nada, por aquele que não pode pagar? Isso é uma falta de caridade. E se uma palavra é suficiente, as demais são inúteis. Então, por que cobrá-las? É uma prevaricação".

DEUS NÃO VENDE SEUS BENEFÍCIOS, MAS CONCEDE-OS

E aqui está um dos motivos que a lucidez de Allan Kardec incomoda os "intermediários assalariados", sejam eles padres, pastores, médiuns, magos ou gurus: "Deus não vende seus benefícios, mas concede-os. Como, pois, aquele que nem sequer é o seu distribuidor, e que não pode garantir a sua obtenção, cobra um pedido que talvez nem seja atendido? Deus não pode subordinar um ato de clemência, de bondade ou de justiça, que se solicita de sua misericórdia, a um determinado pagamento; mesmo porque, se o fizesse, o pagamento não sendo efetuado, ou sendo insuficiente, a justiça, a bondade e a clemência de Deus ficariam em suspenso. A razão, o bom-senso, a lógica, dizem-nos que Deus é como o Sol, que se distribui para todos, para o pobre como para o rico. Se considerarmos imoral traficar com as graças de um soberano terreno, seria lícito vender as do Soberano do Universo?"

É LÍCITO REDUZIR A EFICÁCIA DA PRECE AO VALOR DA MOEDA CORRENTE?

Refletindo sobre as instruções dos espíritos em seus trabalhos de codificação, o mestre de Lyon incomoda mais ainda ao aprofundar seu racionício irrefutável sobre esse assunto: "As preces pagas têm ainda um outro inconveniente: é que aquele que as compra se julga, no mais das vezes, dispensado de orar por si mesmo, pois considera-se livre dessa obrigação, desde que deu o seu dinheiro. Sabemos que os espíritos são tocados pelo fervor do pensamento dos que se interessam por eles. Mas qual pode ser o fervor daquele que paga um terceiro para orar por ele? E qual o fervor desse terceiro, quando delega o mandato a outro, e este a outro, e assim por diante? Não é isso reduzir a eficácia da prece ao valor da moeda corrente?"

EXPULSANDO OS VENDILHÕES DO TEMPLO

Atualmente o espiritismo nos convida à maturidade espiritual, assim como Jesus já nos convidava, através des seus exemplos. É necessário que também nós expulsemos os vendilhões dos templos modernos, quer seja dominando nossa indisfarçável inclinação a Mamom, quer seja desconsiderando a falsa necessidade de intermediários assalariados. Pois, "Jesus, ao expulsar os vendilhões do templo, condenou assim o tráfico das coisas santas, sob qualquer forma que seja. Deus não vende a sua bênção, nem o seu perdão, nem a entrada no Reino dos Céus. O homem não tem, portanto, o direito de cobrar nada disso".

http://eduardobarros.multiply.com/journal/item/261

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