sábado, 15 de junho de 2013

Prece




De pé sobre a Terra, meu sustentáculo, minha nutriz e minha mãe, elevo os meus olhares para o Infinito, sinto-me envolvido na imensa comunhão da vida; os eflúvios da Alma universal me penetram e fazem vibrar meu pensamento e meu coração; forças poderosas me sustentam, aviventam em mim a existência. Por toda parte onde a minha vista se estende, por toda parte a que a minha inteligência se transporta, vejo, discirno, contemplo a grande harmonia que rege os seres e, por vias diversas, os faz rumar para um fim único e sublime. Por toda parte vejo irradiar a Bondade, o Amor, a Justiça!

O meu Deus! O meu Pai! Fonte de toda a sabedoria, de todo o amor, Espírito Supremo cujo nome é Luz, eu te ofereço meus louvores e minhas aspirações! Que elas subam a ti, qual um perfume de flores, qual sobem para o céu os odores inebriantes dos bosques. Ajuda-me a avançar na senda sagrada do conhecimento, para uma compreensão mais alta de tuas leis, a fim de que se desenvolva em mim mais simpatia, mais amor pela grande família humana; pois sei que, pelo meu aperfeiçoamento moral, pela realização, pela aplicação ativa em torno de mim e em proveito de todos, da caridade e da bondade, aproximar-me-ei de ti, e merecerei conhecer-te melhor, comungar mais intimamente contigo na grande harmonia dos seres e das coisas. Ajuda-me a desprender-me da vida material, a compreender, a sentir o que é a vida superior, a vida infinita. Dissipa a obscuridade que me envolve; depõe em minha alma uma centelha desse fogo divino que aquece e abrasa os Espíritos das esferas celestes. Que tua doce luz e, com ela, os sentimentos de concórdia e de paz se derramem sobre todos os seres!

Léon Denis - O Grande Enigma

domingo, 9 de junho de 2013

Almas muito culpadas


... às vezes, almas muito culpadas poderão ingressar em níveis sociais elevados, desde que reencarnadas entre devedores de idênticos desatinos, ou entre corações generosos que se prontificam a auxiliá-las, pelo amor de Deus, renascendo então, como seria de esperar, enfermiças, nervosas, retardadas, auto-obsidiadas, etc., pois, psiquicamente enfermas, suas mentes estenderão até ao novo envoltório carnal os prejuízos ocasionados pelo pretérito de erros e de remorsos, verdadeiros pesadelos seculares para o delinquente em trabalho de recuperação.

Que assim se arrastarão até que suas condições gerais lhes granjeiem valores pessoais bastantes para as responsabilidades das realizações, quando, então, entrarão a construir no sentido do bem, refazendo o que destruíram e aviltaram, conluiados com o mal.

Que tais dramas, comumente, terão por palco a própria Terra, visto que, se em seus âmbitos sobreviverá `as quedas para o mal, igualmente aí se efetivará a ascensão para o melhor, por mais fácil a tarefa para o culpado e menos penosa a assistência a ele devida pelos seus tutelares, pois que as leis divinas aplicam, quanto possível, a sua misericórdia nesses lamentáveis casos.

E, por tudo isso, para que um serviço de saneamento moral, equilibrado e eficiente, se imponha  nas sociedades terrenas, trazendo termo às desordens e anomalias nelas reinantes, a fim de que o Planeta se eleve à categoria de mundo regenerador - conforme definiu a Revelação Espírita -, é que os servos do Senhor, da Espiritualidade, se multiplicam em dedicações para a propagação, na Terra como no Espaço, da moral evangélica e da Ciência do mundo invisível, únicas vias capazes de levarem o sentimento e a razão da alma humana a uma remodelação geral de si mesma, cumprindo, portanto, aos adeptos encarnados da Terceira Revelação incentivarem os próprios labores no sentido de uma estreita cooperação com aqueles, sob a forma que a cada um for possível, nem que seja somente com o trabalho amoroso da prece, pois que será, esta, poderoso auxílio para o progresso das almas necessitadas de forças para a reabilitação .

Devassando o invisível de Ivonne do Amaral Pereira


Faculdade mediúnica



Camilo Castelo Branco, o eminente escritor lusitano, amplamente conhecido, um dos nossos mais antigos amigos espirituais, que desde os nossos doze anos de idade nos aparecia em visões nítidas, queixava-se amargamente, como Espírito, de se ver, com frequência, corrido de junto dos médiuns, com quem gostaria de se comunicar, enxotado dos Centros Espíritas, sob acusação de mistificador, apenas porque o seu maior prazer seria testemunhar ao mundo a própria imortalidade e o noticiário copioso do Além, o que o levava, necessariamente, a se apresentar com a sua verdadeira identidade. No entanto, aceitavam-no, sem objeções, quando ele, no desejo de falar com os mortais, passava a mentir e enganar, afirmando chamar-se Camilo da Silva aqui, José Camilo Botelho ali, e mais além Camilo da Fonseca, pobre professor português que tivera a desdita de se suicidar por motivo de dificuldades financeiras.

Mas, porque não aceitavam Camilo, o escritor? Porque o grande Camilo não se poderia comunicar com qualquer médium, em qualquer Centro Espírita, para falar aos seus irmãos de humanidade, como tanto desejava, se, como Espírito desencarnado, não passava de entidade sofredora, carente de consolo e estímulo para a reabilitação, embora na Terra houvesse sido mestre da língua portuguesa, romancista emérito? Pois sabemos que o talento, o saber, os títulos honoríficos conferidos pela Terra, a um cidadão desprovido dos dotes morais e qualidades honrosas do caráter e do coração, nada representam na Pátria Espiritual, e até que, na maioria das vezes, somente servem para confundi-lo e sobrecarregá-lo de responsabilidades, porquanto justamente os cérebros mais burilados de cultura são os que deveriam conhecer melhor as leis do Bem e da Justiça, únicas moedas valorizadas no Além-Túmulo. Por isso mesmo, o amigo Camilo Castelo Branco, Espírito necessitado de aprendizado rigoroso, ansioso por servir à causa da Verdade entre os homens, buscando lenitivo para suas muitas dores nas narrativas e lições que, extraídas da própria experiência, sempre desejou oferecer aos encarnados, a fim de aplanar caminhos para os seus resgates futuros, não conseguiu nem médiuns nem Centros Espíritas que lhe aceitassem a palavra, porque os homens o endeusaram tanto, graças a sua copiosa literatura, que até mesmo os espíritas esqueceram que ele, espiritualmente, não passava de entidade vulgar, pela situação moral que seus desacertos terrenos lhe acarretaram no mundo invisível.

Devassando o Invisível - Ivonne A. Pereira

sábado, 8 de junho de 2013

A Intervenção dos Espíritos


O Homem é um pequeno mundo que tem como diretor o Espírito e como dirigido o corpo.

O homem é formado por matéria e espírito.

O Espírito é o ser principal, a razão, a inteligência; o corpo é envoltório de matéria que reveste, temporariamente, o espírito para o cumprimento de sua missão na Terra e a execução do trabalho necessário à sua evolução, ao seu adiantamento.

O corpo, usado, se destrói, o espírito sobrevive à sua destruição. O corpo sem o espírito não é senão matéria. O espírito sem corpo reentra no mundo espiritual de onde saiu para o reencarne.

Ensina o Espiritismo que os homens que viveram na Terra, ao deixarem o corpo físico através da morte, continuam a viver em um outro plano, chamado mundo espiritual. Quando passam para este plano da vida, levam consigo o que tiverem acumulado de virtudes e defeitos, todos, adquiridos durante a existência material, ou seja, a encarnação. Os homens bons trazem consigo a caridade que praticavam, a paz de espírito e a benevolência. Vivem em lugar feliz e trabalham constantemente pelo progresso do Planeta.

Já os homens que, quando encarnados viveram nas sendas do mal, levam para o plano espiritual as más tendências. Continuam suas atividades perniciosas, inspirando-nos todos os vícios e defeitos a que ainda estão apegados. Estes são os que podemos chamar de espíritos maus, nocivos, pois que são absolutamente perniciosos. Não podemos atribuir a Deus estas ações, pois que não se admitiria esta consciência da divindade. Uma concepção de divindade punitiva, carrasco, cruel, tende hoje a desaparecer por que todos, pelo menos os que já temos uma noção dos ensinamentos dos espíritos, sabemos que Deus é bom e justo. Assim, jamais ele estaria envolvido com ações más, perversas ou de qualquer meio ilícito e nocivo.

A maioria dos espíritos que povoam a terra, tanto no estado errante, desencarnados, quanto os encarnados, compõe-se de espíritos imperfeitos, que fazem mais o mal que o bem. Daí a predominância do mal na Terra.

Temos, portanto, o mundo corporal, composto de espíritos encarnados, e o mundo espiritual, composto de espíritos desencarnados.

O homem, por ser composto de matéria, está ligado a Terra; e o Espírito, por sua natureza fluídica, está em toda parte, percorre distâncias enormes com a rapidez do pensamento.

A morte do corpo é a ruptura dos laços que unem corpo a espírito.

Os Espíritos são criados simples e ignorantes, mas com aptidões para tudo conhecer e progredir, dependendo de seu livre arbítrio, de seu próprio trabalho, razão porque tantos somos diferentes uns dos outros. Em nossas reencarnações sucessivas, através do livre arbítrio, da própria vontade. Uns realizam mais rapidamente suas necessidades de progresso, cumprindo as leis naturais, as leis morais da vida, adquirindo uma maior gama de conhecimentos e aprendizado.Outros, também em razão de seu livre arbítrio, vivem “adiando” suas necessidades de trabalho e vivência de melhoramento espiritual-moral, deixando tudo para depois, o que lhes é permitido, entretanto não é recomendável. Desta forma, uns evoluem mais rapidamente e outros permanecem na ignorância por mais tempo.

A falta de vigilância, certamente, é um dos fatores mais sérios e que mais nos atrasam a caminhada, pois que na maior parte das vezes, esta invigilância é que nos faz permitir as influenciações negativas daqueles espíritos errantes que estão procurando apenas uma brecha, uma passagem, uma ação ou pensamento, para se utilizarem de nós e assim satisfazer suas necessidades maléficas.

A felicidade está na razão do progresso alcançado. Os que deixam para depois, adiando a prática do bem, da caridade, do trabalho, do amor ao próximo e as demais leis divinas ou naturais, estes, certamente são mais infelizes e se mantêm na ignorância por mais tempo.

Aí já podemos entender, perfeitamente, o porquê de embora criados simples e ignorantes, uns já se adiantaram no progresso e outros estão ainda muito atrasados.

A compreensão da influência que os Espíritos Desencarnados exercem sobre os Espíritos Encarnados, passa, inicialmente pelo entendimento de que há espíritos mais e menos evoluídos.

Sabemos que estamos constantemente rodeados por Espíritos que nos vêem, ouvem e conhecem nossos pensamentos e até nossos desejos mais íntimos. Quando nos acreditamos sós sempre estamos acompanhados por Espíritos e, com freqüência, somos influenciados por eles através de nosso pensamento.

A interação que existe entre encarnados e desencarnados, muito especialmente daqueles que praticam o mal, é nítida e não nos deixa dúvidas de sua existência.


Vera Meira Bestene

A visão espírita do mal



Para a doutrina dos espíritos o mal é criação do próprio homem e não tem existência senão temporária, transitória, pois no arranjo maior da Vida não tem sentido a permanência do mal. O mal, desta forma, faz parte do aprendizado, porém na condição de resíduo; por isso, ele deve ser descartado em algum momento.

Conforme Kardec aponta em Obras Póstumas “Deus não criou o mal; foi o homem que o produziu pelo abuso que fez dos dons de Deus, em virtude de seu livre arbítrio.” Este pequeno trecho compõe um dos mais belos ensaios que Kardec deixaria, não intencionalmente, para publicação posterior. Trata-se de O egoísmo e o orgulho: suas causas, seus efeitos e os meios de destruí-los.

O mestre lionês, ao desenvolver o tema, parte do pressuposto de que o instinto de conservação, natural e necessário para a sobrevivência do homem está na origem do egoísmo e do orgulho. Este e outros instintos têm a sua razão de ser. No entanto, o homem abusa destes instintos, por conta do apego às sensações que as impressões da matéria lhes causam.

Vive então, (e aqui começa nossa análise), a sua longa epopéia rumo à maturidade, devendo liberar-se de tudo que signifique retenção a esta fase infantil, de imaturidade, de apego ao ego, em que tudo deve girar ao nosso redor.

Na mensagem “A lei de amor”, de Lázaro, presente em O Evangelho Segundo o Espiritismo, o autor afirma que

Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor...

Os instintos, as sensações e os sentimentos estarão presentes na existência humana em determinadas combinações, durante todo o processo evolutivo, com a preponderância de alguns sobre os outros.

Na fase inicial de sua jornada – na condição de simples e ignorante – é possível que o instinto lhe seja o melhor guia; à medida que desenvolve as potências da alma – a inteligência, a vontade – ele tende a apegar-se àssensações, pois não desenvolveu ainda, na mesma proporção os sentimentos, que permanecem como presença latente e promessa futura; como a inteligência desenvolve-se mais rapidamente, na ausência de sentimentos como a fé, a esperança, a caridade, o homem tende a prender-se à sensações materiais; por fim, aliando a inteligência (instruído) e as experiências de vida (depurado), o sentimentos começam a ocupar maiores espaços de manifestações anímicas no homem.

Podemos, assim, afirmar que os instintos e as sensações ainda convivem conosco hoje, pois como espíritos encarnados, imersos em um corpo físico, estamos sujeitos às leis e às atrações da matéria, porém ossentimentos tendem a dominar-nos a alma, aliado à inteligência, que já temos desenvolvido sob as suas diversas modalidades.

Retomando o ensaio de Kardec, este vai insistir no debate em torno do egoísmo e do orgulho, situando-os como causa de todos os males.

Um outro conceito precisamos analisar, porém, neste momento, antes de prosseguirmos e aprofundarmos esta questão. Trata-se do conceito de paixão.

Abel Sidney de Souza