sábado, 7 de fevereiro de 2015
Logo que cheguei ao meio espiritual, tive a sensação de estar em minha casa
Tomo-o à revista Light (1927, pág. 230). O diretor dessa revista,
Sr. David Gow, precedeu a narrativa deste caso de uma breve nota,
donde extraio os períodos seguintes:____________________________________________
Os trechos, que se vão ler, de mensagens mediúnicas, foram
tirados de um longo relatório que nos enviou um ministro anglicano da
Nova Escócia. O Espírito comunicante foi, ao que parece, conhecida
personagem americana, que ocupou, quando na Terra, alto cargo
municipal. O médium, de cujo nome se nos deu conhecimento, é uma
senhora distinta, muito conhecida, igualmente, pela elevação de seu
caráter e pela excelência de suas faculdades mediúnicas.
O Espírito começou assim:________________________________________________________
Desejo principiar a minha narrativa, do dia em que deixei o
corpo material no meu quarto de Blankville. Via quão grande era a dor
que despedaçava a alma de meus filhos e muito me afligia o achar-me
impossibilitado de lhes dirigir a palavra.
De súbito, verifiquei que em mim uma mudança se operava, que
eu não compreendia bem. Fui presa de estranha sensação que, conquanto
inteiramente nova para mim, era um tanto análogo à que uma pessoa
experimenta quando desperta repentinamente de profundo sono. No
primeiro momento, nada compreendi, dada a situação em que me
encontrava. Pouco a pouco, porém, fui percebendo o meio que me
cercava, como sucede ai quando a gente desperta do sono. Vi-me
estendido, calmo e imóvel, no meu leito, circunstância que me encheu de
espanto, longe que estava de supor que morrera. Após algum tempo, cada
vez mais desperto, percebi que minha defunta mulher se achava ao meu 72 –
lado, a me sorrir, com uma expressão radiante de ventura. Esse nosso
encontro se dava depois de longa separação. Foi ela quem me comunicou
a terrificante noticia de que eu estava morto e me encontrava também
no meio espiritual. Disse-me que, desde muitos dias, velava à cabeceira
do meu leito, aguardando o momento de acolher o meu Espírito e de
conduzi-lo à morada celeste.
Sentia-me de mais em mais revigorado por uma vitalidade nova,
como se todas as minhas faculdades entrassem num período de atividade
grande, após o prolongado torpor em que me achara... Era a sensação de
uma beatitude difícil de descrever-se... Afigurava-se-me que me tornara
parte integrante do meio que me rodeava. Minha mulher me tomou
então pelas mãos e, assim unidos, nos elevamos através do teto do
quarto, subindo para o alto, sempre mais alto, pelo espaço em fora.
Entretanto, se bem que me houvesse afastado muito do melo terrestre,
continuava a ter conhecimento do que ocorria em minha casa. Via minha
filha acabrunhada de dor. Esse estado da alma parecia deslizar como
uma nuvem escura, entre ela e mim; insinuava-se no meu ser, produzindo
nele um sentimento penoso de torpor. Desejo saiba as crises excessivas de
dor, junto dos leitos mortuários, constituem imensa barreira interposta
entre os vivos, que delas se deixam tomar, e o Espírito do defunto por
quem eles choram. Trata-se de uma barreira real e intransponível, que
nos não permite entrar em comunicação com os que se desesperam pela
nossa morte. Mais ainda: as exageradas crises de dor retêm presos ao
meio terrestre os Espíritos desencarnados, retardando-lhes a entrada no
mundo espiritual.
De fato, se é certo que, com a morte, cessam necessariamente
todas as relações entre os Espíritos desencarnados e o organismo físico
dos vivos, em compensação os Espíritos dos defuntos se tornam
extremamente sensíveis às vibrações dos pensamentos das pessoas que
lhes são caras. Concito, pois, os vivos que percam alguns de seus parentes
— qualquer que possa ser a importância da perda e da dor
correspondente — a que, a todo custo, se mostrem fortes, abafando toda
manifestação de mágoa e apresentando-se de aspecto calmo nos
funerais. Comportando-se assim, determinarão considerável melhoria na
atmosfera que os cerca, porquanto a aparência de serenidade nos
corações e nos semblantes das pessoas que nos são caras emite vibrações
luminosas que nos atraem, como, à noite, a luz atrai a borboleta. Por
outro lado, a mágoa dá lugar a vibrações sombrias e prejudiciais a nós
outros, vibrações que tomam o aspecto de tenebrosa nuvem a envolver
aqueles a quem amamos. Não duvideis de que somos muito sensíveis às 73 –
impressões vibratórias que nos chegam, por efeito da dor dos que nos são
caros. Nossos corpos etéreos estão, efetivamente, sintonizados por uma
escala vibratória muito alta, que nada tem de comum com a escala
vibratória dos corpos carnais...
Aqui não se usa da palavra para conversar. Percebemos os
pensamentos nos olhos daquele que conversa conosco. O nosso
interlocutor, a seu turno, percebe em nossos olhos os pensamentos que
nos acodem. Deste modo, percebemos integral e perfeitamente a
significação dos discursos dos outros, o que se não pode realizar na
Terra...
Logo que cheguei ao meio espiritual, tive a sensação de estar em
minha casa. Parentes, amigos, conhecidos vieram todos me receber; todos
se congratulavam comigo, por haver, afinal, chegado ao porto. Era, pois,
natural que fizessem nascer em mim à impressão de estar em minha
casa. Para me adaptar ao novo meio, menos tempo me foi preciso, do que
me seria na Terra, para me adaptar a uma mudança de residência...
Aqui, todos podemos obter facilmente os objetos que desejamos:
não temos mais do que pensar neles, para que os criemos. Nessas
condições, compreende-se que ninguém pode desobedecer ao
mandamento de Deus: Não desejareis o que pertença ao vosso próximo.
Nada aqui se compra com dinheiro; coisa alguma pode haver que tenha
valor, senão para aquele que a criou, destinada a seu uso pessoal, por
necessitar dela. Cada um se acha em condições de conseguir para si, se o
quiser, tudo o que seu vizinho possua.
Bem entendido, falo apenas de objetos materiais de toda espécie.
Digo materiais, para me fazer compreendido, pois que semelhante
qualificativo não se adapta às criações etéreas...__________________________________--extraído do livro A CRISE DA MORTE de Ernesto Bozzano (décimo caso)
Que impressão tiveste da tua primeira entrada no mundo espiritual?
Reproduzo um último caso de data antiga, que extraio do livro
do Doutor Wolfe: Starling Facts in Modern Spiritualism (pág. 388). Jim
Nolan, o Espírito-guia do célebre médium Senhor Hollis, que disse e
demonstrou ter sido soldado no curso da Guerra de Secessão da
América e haver morrido de tifo num hospital militar, responde da
maneira seguinte às perguntas de um experimentador:_______________________________________________________
P. — Que impressão tiveste da tua primeira entrada no mundo
espiritual?
R. — Parecia-me que despertava de um sono, com um pouco de
atordoamento a mais. Já não me sentia enfermo e isso me espantava
grandemente. Tinha uma vaga suspeita de que alguma coisa estranha se
passara, todavia, não sabia definir o de que se tratava. Meu corpo se
achava estendido no leito de campanha e eu o via. Dizia de mim para
mim: Que estranho fenômeno! Olhei ao mau derredor, e vi três de meus
camaradas mortos nas trincheiras diante de Vicksburg e que eu
enterrara. Entretanto, ali estavam na minha presença! Olhavam a sorrir.
Então, um dos três me saudou, dizendo:
— Bom-dia, Jim; também és dos nossos?
— Sou dos vossos? Que queres dizer?
— Mas... que te achas aqui, conosco, no mundo dos Espíritos. Não
te apercebeste disto? É um meio onde se está bem.
Estas palavras eram muito fortes para mim. Fui presa de
violenta emoção e exclamei: — Meu Deus! Que dizes! Estou morto?
— Não; estás mais vivo do que nunca, Jim; porém te achas no
mundo dos Espíritos. Para te convenceres, não tens mais do que atentar
no teu corpo.
Com efeito, meu corpo jazia, inanimado, diante de mim, sobre a 19 – A CRISE DA MORTE
tarimba. Como, pois, contestar o fato? Pouco depois, chegaram dois
homens que colocaram meu cadáver numa prancha e o transportaram
para perto de um carro; neste o meteram, subiram à boleia e partiram.
Acompanhei então o carro, que parou à borda de um fosso, onde o meu
cadáver foi arriado e enterrado. Fora eu o único assistente do meu
enterro...
P. — Quais as sensações que experimentaste na crise da morte?
R. — A que se experimenta quando o sono se apodera da gente, mas
deixando que ainda se possa lembrar de alguma ideia que tenha tido
antes do sono. A gente, porém, não se lembra do momento exato em que
foi tomado pelo sono. É o que se dá por ocasião da morte. Mas, um pouco
antes da crise fatal, minha mentalidade se tornara muito ativa; lembrei-
me
subitamente de todos os acontecimentos da minha vida; vi e ouvi tudo
que fizera, dissera, pensara, todas as coisas a que estivera associado.
Lembrei-me até dos jogos e brincadeiras do campo militar; gozei-os,
como quando deles participei.
P. — Conta-nos as tuas primeiras impressões no mundo espiritual.
R. — Ia dizer-vos que os meus bons amigos soldados não mais me
abandonaram, desde que desencarnei até o momento em que fiz a minha
entrada no mundo espiritual; lá, tinha eu avós, irmãos e irmãs, que,
entretanto, não me vieram receber quando desencarnei. Ao entrar no
mundo espiritual, parecia-me caminhar sobre um terreno sólido e vi que
ao meu encontro vinha uma velha, que me dirigiu a palavra assim: —
Jim, então vieste para onde estávamos?
Olhei-a atentamente e exclamei: — Ó, avozinha, és tu? — Sou eu
mesma, meu caro Jim. Vem comigo.
E me levou para longe dali, para sua morada. Uma vez lá, disse-me
ser necessário que eu repousasse e dormisse. Deitei-me e dormi
longamente...
P. — A morada de que falas tinha o aspecto de uma casa?
R. — Certamente. No mundo dos Espíritos, há a força do pensamento, por
meio do qual se podem criar todas as comodidades desejáveis..._________________________________Livro A CRISE DA MORTE de Ernesto Bozzano ______(terceiro caso)
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