sábado, 5 de novembro de 2016
Memórias de um suicida
No ano de 1944, a médium Yvonne do Amaral Pereira, orientada pelos Espíritos Bezerra de Menezes e Charles, dirigiu-se à Federação Espírita Brasileira, levando dois livros, de sua lavra mediúnica, para exame, no intuito de posterior publicação.
No topo da escadaria principal, encontrou o Sr. Manuel Quintão, na época, um dos diretores e examinadores das obras literárias que chegavam à Federação. Tão logo tentou explicar o seu objetivo, teve cortada a sua palavra por ele que lhe afirmou que ali somente entravam livros mediúnicos de Francisco Cândido Xavier.
Ademais, ele estava muito ocupado, tinha duzentos livros para examinar, traduzir e não dispunha de tempo para mais…
Recém-chegada ao Rio de Janeiro, a médium ficou chocada. Mesmo a tentativa favorável do Dr. Carlos Imbassahy, a seu favor, naquele momento, resultou inexitosa. O Sr. Quintão se manteve na mesma posição.
Yvonne se retirou. Pensou que poderia se tratar de uma grande mistificação e, assim, chegando à sua residência, tomou de uma caixa de fósforos e dos originais dos dois livros e se dirigiu ao quintal, a fim de os queimar, pois nem mesmo tinha um local conveniente para guardá-los.
Ao riscar o fósforo, viu, no entanto, o braço e a mão de um homem, transparentes e levemente azulados estendidos, como num gesto de proteção às páginas. Ao seu ouvido, uma voz assustada lhe dizia que esperasse e guardasse as obras.
Ela identificou a voz como sendo a de Bezerra de Menezes.
Transcorrido algum tempo, em certa manhã, enquanto orava, o Espírito Léon Denis, o grande apóstolo do Espiritismo, se lhe apresentou e lhe disse que um dos livros estava incompleto e ele ali estava para o refazer.
E, naquele mesmo momento, começou a grande revisão e complementação da extraordinária obra Memórias de um suicida.
Yvonne entendeu, então, que o Sr. Quintão havia sido inspirado pelos amigos espirituais para não receber o livro, quando ela fora à Federação. O Espírito Camilo, que o escrevera, não o completara devidamente, não lhe dera feição doutrinária, o que, agora, Léon Denis vinha fazer.
Concluída a revisão, Yvonne retornou à Federação, que frequentava semanalmente. Paternalmente recebida pelo Presidente, Dr. Wantuil de Freitas, tendo-lhe narrado o que sucedera da primeira vez, recebeu dele os parabéns pela sua postura.
Dispôs-se a analisar as obras, com espírito de atenção e fraternidade. Contudo, uma outra dificuldade agora se apresentou: era necessário fosse tudo datilografado, para maior comodidade do exame.
Como Yvonne não dispunha de uma máquina de escrever, muito menos de dinheiro para adquiri-la, nem a quem recorrer para empréstimo de uma, guardou novamente os manuscritos.
Decorreram sete anos até ela ser presenteada com o instrumento por um sobrinho seu, de nome César Augusto. Por isso, somente no ano de 1954, ela voltou à Federação para entregar a sua produção mediúnica.
É desse mesmo ano a primeira edição. A obra descreve a condição do Espírito que busca a desencarnação através do suicídio. Focaliza as experiências tormentosas vividas por esse, para que reflitamos nas consequências de tal ato.
Em sua primeira parte, relata os padecimentos do Espírito, após a desencarnação voluntária, relacionando as regiões, os seus habitantes e os sofrimentos atrozes a que são arrastados. São os réprobos do Vale dos Suicidas, onde Camilo Cândido Botelho, por seu gesto suicida, foi parar, a partir de 1º de junho de 1890.
O nome é, em verdade, o pseudônimo de Camilo Castelo Branco, romancista português fecundo e talentoso, senhor de cultura muito vasta.
Narra o trabalho de resgate e socorro dos irmãos infortunados, pelos Servos de Maria, descrevendo o local do recolhimento, o tratamento e as impressões vividas pelos assistidos.
Descrições minuciosas desses lugares desfilam pelas mais de quinhentas páginas, detalhes que a médium via e ouvia nitidamente. Descreve ela que era levada, por Camilo e outros amigos espirituais, ao convívio do mundo invisível e tudo lhe era narrado, mostrado, exibido à sua faculdade mediúnica para que, ao despertar, maior facilidade encontrasse para tudo colocar no papel.
Yvonne, na Introdução do livro explica a forma como viu, sentiu, viveu as cenas e as transcreveu. No prefácio da segunda edição, o compilador espiritual Léon Denis fala da revisão que se impunha e escreve que se, procurando esclarecer o público, por lhe facilitar o entendimento de fatos espirituais, nem sempre conservei a feitura literária dos originais que tinha sob o olhos; no entanto, não lhes alterei nem os informes preciosos nem as conclusões, que respeitei como labor sagrado de origem alheia.
O livro é, com certeza, o mais extraordinário tratado a respeito do suicídio, suas terríveis consequências ao Espírito e, se traduz os sofrimentos escabrosos dos que se entregam a esse ato, acena com a esperança de que os que assim partiram, recebem auxílio espiritual para a recomposição de suas personalidades.
Informação preciosa é fornecida de que é Maria de Nazaré, esse ser angélico e sublime que na Terra mereceu a missão honrosa de seguir, com solicitudes maternas a Jesus, o Cristo, quem tem sob sua guarda esses infelizes.
Por isso desfilam as descrições do Hospital, a Colônia Correcional, a Torre de Vigia, os Departamentos de Reconhecimento e Matrícula, o Hospitalar, tudo sob a atenção dos Servos de Maria.
Narra o trabalho mediúnico realizado em vários Centros Espíritas no Brasil, no auxílio aos suicidas. A esses discípulos de Allan Kardec, Camilo denomina Nossos amigos.
Focaliza os trabalhos de instrução necessários para uma nova reencarnação, onde todos buscarão a reabilitação perante as leis da Natureza.
Bibliografia:
1.PEREIRA, Yvonne A. Dados biográficos de Yvonne A. Pereira para a Federação Espírita Brasileira. In.:___. À luz do consolador. Rio de Janeiro: FEB, 1997.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário