quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Emmanuel e Jesus

Das águas mansas do lago de Genesaré parecia-lhe emanar suavíssimos perfumes, casando-se deliciosamente ao aroma agreste da folhagem.

     Foi nesse instante que, com o espírito como se estivesse sob o império de estranho e suave magnetismo, ouviu passos brandos de alguém que buscava aquele sítio.

     Diante de seus olhos ansiosos, estacara personalidade inconfundível e única. Tratava-se de um homem ainda moço, que deixava transparecer nos olhos, profundamente misericordiosos, uma beleza suave e indefinível. Longos e sedosos cabelos molduravam-lhe o semblante compassivo, como se fossem fios castanhos, levemente dourados por luz desconhecida. Sorriso divino, revelando ao mesmo tempo bondade imensa e singular energia, irradiava da sua melancólica e majestosa figura uma fascinação irresistível.

     Públio Lentulus não teve dificuldade em identificar aquela criatura impressionante, mas, no seu coração marulhavam ondas de sentimentos que, até então, lhe eram ignorados. Nem a sua apresentação a Tibério, nas magnificências de Capri, lhe havia imprimido tal emotividade ao coração. Lágrimas ardentes rolaram- lhe dos olhos, que raras vezes haviam chorado, e força misteriosa e invencível fê-lo ajoelhar-se na relva lavada em luar. Desejou falar, mas tinha o peito sufocado e opresso. Foi quando, então, num gesto de doce e soberana bondade, o meigo Nazareno caminhou para ele, qual visão concretizada de um dos deuses de suas antigas crenças, e, pousando carinhosamente a destra em sua fronte, exclamou em linguagem encantadora, que Públio entendeu perfeitamente, como se ouvisse o idioma patrício, dando-lhe a inesquecível impressão de que a palavra era de espírito para espírito, de coração para coração:

     - Senador, porque me procuras? - e, espraiando o olhar profundo na paisagem, como se desejasse que a sua voz fosse ouvida por todos os homens do planeta, rematou com serena nobreza: - Fora melhor que me procurasses publicamente e na hora mais clara do dia, para que pudesses adquirir, de uma só vez e para toda a vida, a lição sublime da fé e da humildade... Mas, eu não vim ao mundo para derrogar as leis supremas da Natureza e venho ao encontro do teu coração desfalecido!...

     Públio Lentulus nada pôde exprimir, além das suas lágrimas copiosas, pensando amargamente na filhinha; mas o profeta, como se prescindisse das suas palavras articuladas, continuou:

     - Sim... não venho buscar o homem de Estado, superficial e orgulhoso, que só os séculos de sofrimento podem encaminhar ao regaço de meu Pai; venho atender às súplicas de um coração desditoso e oprimido e, ainda assim, meu amigo, não é o teu sentimento que salva a filhinha leprosa e desvalida pela ciência do mundo, porque tens ainda a razão egoísta e humana; é, sim, a fé e o amor de tua mulher, porque a fé é divina... Basta um raio só de suas energias poderosas para que se pulverizem todos os monumentos das vaidades da Terra...

     Comovido e magnetizado, o senador considerou, intimamente, que seu espírito pairava numa atmosfera de sonho, tais as comoções desconhecidas e imprevistas que se lhe represavam no coração, querendo crer que os seus sentidos reais se achavam travados num jogo incompreensível de completa ilusão.

     - Não, meu amigo, não estás sonhando... - exclamou meigo e enérgico o Mestre, adivinhando-lhe os pensamentos. - Depois de longos anos de desvio do bom caminho, pelo caminho dos erros clamorosos, encontras, hoje, um ponto de referência para a regeneração de toda a tua vida.

     Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo agora, ou daqui a alguns milênios... Se o desdobramento da vida humana está subordinado às circunstâncias, és obrigado a considerar que elas existem de toda a natureza, cumprindo às criaturas a obrigação de exercitar o poder da vontade e do sentimento, buscando aproximar seus destinos das correntes do bem e do amor aos semelhantes.

     Soa para teu espírito, neste momento, um minuto glorioso, se conseguires utilizar tua liberdade para que seja ele, em teu coração, doravante, um cântico de amor, de humildade e de fé, na hora indeterminável da redenção, dentro da eternidade...

     Mas, ninguém poderá agir contra a tua própria consciência, se quiseres desprezar indefinidamente este minuto ditoso!

     Pastor das almas humanas, desde a formação deste planeta, há muitos milênios venho procurando reunir as ovelhas tresmalhadas, tentando trazer-lhes ao coração as alegrias eternas do reinado de Deus e de sua justiça!...

     Públio fitou aquele homem extraordinário, cujo desassombro provocava admiração e espanto.

     Humildade? Que credenciais lhe apresentava o profeta para lhe falar assim, a ele senador do Império, revestido de todos os poderes diante de um vassalo?

     Num minuto, lembrou a cidade dos césares, coberta de triunfos e glórias, cujos monumentos e poderes acreditava, naquele momento, fossem imortais.

     - Todos os poderes do teu império são bem fracos e todas as suas riquezas bem miseráveis...

     As magnificências dos césares são ilusões efêmeras de um dia, porque todos os sábios, como todos os guerreiros, são chamados no momento oportuno aos tribunais da justiça de meu Pai que está no Céu. Um dia, deixarão de existir as suas águias poderosas, sob um punhado de cinzas misérrimas. Suas ciências se transformarão ao sopro dos esforços de outros trabalhadores mais dignos do progresso, suas leis iníquas serão tragadas no abismo tenebroso destes séculos de impiedade, porque só uma lei existe e sobreviverá aos escombros da inquietação do homem - a lei do amor, instituída por meu Pai, desde o princípio da criação...

     Agora, volta ao lar, consciente das responsabilidades do teu destino...

     Se a fé instituiu na tua casa o que consideras a alegria com o restabelecimento de tua filha, não te esqueças que isso representa um agravo de deveres para o teu coração, diante de nosso Pai, Todo-Poderoso!...

     O senador quis falar, mas a voz tornara-se-lhe embargada de comoção e de profundos sentimentos.

     Desejou retirar-se, porém, nesse momento, notou que o profeta de Nazaré se transfigurava, de olhos fitos no céu...

     Aquele sítio deveria ser um santuário de suas meditações e de suas preces, no coração perfumado da Natureza, porque Públio adivinhou que ele orava intensamente, observando que lágrimas copiosas lhe lavavam o rosto, banhado então por uma claridade branda, evidenciando a sua beleza serena e indefinível melancolia...

     Deviam ser vinte e uma horas.

     Leve aragem acariciava os cabelos do senador e a Lua entornava seus raios argênteos no espelho carinhoso e imenso das águas.

(Espírito de Emmanuel - Médium: Francisco C. Xavier - Obra: Há Dois Mil Anos...) 

Perante os sonhos


Encarar com naturalidade os sonhos que possam surgir durante o descanso físico, sem preocupar-se aflitivamente com quaisquer fatos ou idéias que se reportem a eles.
Há mais sonhos em vigília que no sono natural.
Extrair sempre os objetivos edificantes desse ou daquele painel entrevisto em sonho.
Em tudo há sempre uma lição.
Repudiar as interpretações supersticiosas que pretendam correlacionar os sonhos com jogos de azar e acontecimentos mundanos, gastando preciosos recursos e oportunidades da existência em preocupação viciosa e fútil.
Objetivos elevados, tempo aproveitado.
Acautelar-se quanto às comunicações inter vivos, no sonho vulgar, pois, conquanto o fenômeno seja real, a sua autenticidade é bastante rara.
O Espírito encarnado é tanto mais livre no corpo denso, quanto mais escravo se mostre aos deveres que a vida lhe preceitua.
Não se prender demasiadamente aos sonhos de que recorde ou às narrativas oníricas de que se faça ouvinte, para não descer ao terreno baldio da extravagância.
A lógica e o bom senso devem presidir a todo raciocínio.
Preparar um sono tranqüilo pela consciência pacificada nas boas obras, acendendo a luz da oração, antes de entregar-se ao repouso normal.
A inércia do corpo não é calma para o Espírito aprisionado à tensão.
Admitir os diversos tipos de sonhos, sabendo, porém, que a grande maioria deles se originam de reflexos psicológicos ou de transformações relativas ao próprio campo orgânico.
O Espírito encarnado e o corpo que o serve respiram em regime de reciprocidade no reino das vibrações.
“E rejeita as questões loucas...” — Paulo. (II TIMÓTEO, 2:23.)

LIVRO CONDUTA ESPÍRITA
CHICO XAVIER POR ANDRÉ LUIZ

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Coração da Primavera


Irmão,
nada é eterno, nada sobrevive.
Recorda isto, e alegra-te.
A nossa vida
não é só a carga dos anos.
A nossa vereda
não é só o caminho interminável.
Nenhum poeta tem o dever
de cantar a antiga canção.
A flor murcha e morre;
mas aquele que a leva
não deve chorá-la sempre...
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 
Chegará um silêncio absoluto,
e, então, a música será perfeita.
A vida inclinar-se-á ao poente
para afogar-se em sombras doiradas.
O amor há-de ser chamado do seu jogo
para beber o sofrimento
e subir ao céu das lágrimas ...
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 
Apanhemos, no ar, as nossas flores,
não no-las arrebate o vento que passa.
Arde-nos o sangue e brilham nossos olhos
roubando beijos que murchariam
se os esquecêssemos. 
É ânsia a nossa vida
e força o nosso desejo,
porque o tempo toca a finados. 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 
Não podemos, num momento, abraçar as coisas,
parti-las e atirá-las ao chão.
Passam rápidas as horas,
com os sonhos debaixo do manto.
A vida, infindável para o trabalho
e para o fastio,
dá-nos apenas um dia para o amor.
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 
Sabe-nos bem a beleza
porque a sua dança volúvel
é o ritmo das nossas vidas.
Gostamos da sabedoria
porque não temos sempre de a acabar.
No eterno tudo está feito e concluído,
mas as flores da ilusão terrena
são eternamente frescas,
por causa da morte.
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 
 
Rabindranath Tagore, in
"O Coração da Primavera"

Tradução de Manuel Simões

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A casa de hóspedes



O ser humano é uma casa de hóspedes.
Toda manhã uma nova chegada.

A alegria, a depressão, a falta de sentido, como visitantes inesperados.

Receba e entretenha a todos
Mesmo que seja uma multidão de dores
Que violentamente varrem sua casa e tira seus móveis.
Ainda assim trate seus hóspedes honradamente.
Eles podem estar te limpando
para um novo prazer.

O pensamento escuro, a vergonha, a malícia,
encontre-os à porta rindo.

Agradeça a quem vem,
porque cada um foi enviado
como um guardião do além

Rumi .

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Memórias de um toxicômano


Até o momento de redigir esta apresentação, confesso, não havia me dado conta da riqueza da experiência vivida com Tiago.
Espírita desde infância, desde cedo estou envolvido nos trabalhos, inicialmente assistenciais e, posteriormente, doutrinários. O exemplo de meus pais tem sido a bússola que guia os meus passos nessa seara.
Na década de 1990, quando judiciava na Comarca de Carmo de Minas, primeira que me abrigou como Juiz de Direito, tive minha primeira experiência no trabalho de prevenção contra as drogas. Com o auxílio de diversos cidadãos da comunidade local, da então Promotora de Justiça daquela Comarca, Dra. Regina Capelli Pinto, e velando-me da coordenação de minha esposa, Rosa Maria, companheira de todos os momentos, iniciou-se um trabalho envolvendo professores e alunos dos três municípios que integravam aquela Comarca: Carmo de Minas, Soledade de Minas e Dom Viçoso. Foram ministradas palestras para os professores e realizando um concurso com os alunos.
Foi uma grande experiência para os envolvidos. Todos aprenderam muito, inclusive eu. Antes, em Poços de Caldas, já havia tido uma experiência no RENASCER – Centro de Tratamento de Dependentes Químicos, mas só depois da experiência vivida em Carmo de Minas percebi a extensão da magnitude do problema. Constatei que droga não é uma questão somente do dependente químico, mas de seus familiares, amigos, colegas de escola e trabalho, além de toda a comunidade. Todos sofrem na nefasta influência das drogas.
Hoje, ao refletir sobre minha experiência com Tiago, tive a nítida impressão de que ela se iniciou com aquele movimento. A partir daquele momento me interessei pelo assunto, busquei informações, estudei e adquiri um aprendizado que me facilitou o recebimento dos textos psicografados sobre o tema.
Em abril de 1998, aportei, acompanhado de minha família, na Comarca de Espinosa, região norte de Minas Gerais, de onde também guardo grata lembrança. Conseguimos reunir um grupo que ficou conhecido na comunidade como Comissão Pró-Vida. Foi novamente dirigido por minha mulher e composto de professores, representantes de diversas religiões, profissionais liberais, empresários e outros cidadãos. A droga era o objetivo, mas que foi trabalhado por etapas. Em uma primeira fase, a Comissão abordou o tema família. Foram ministradas palestras para professores, pais e alunos, inclusive na zona rural, envolvendo os municípios de Espinosa e Mamonas. Foram formados grupos que atendiam, em domicílio, casos especiais de alunos que eram indicados pelos professores em razão de problemas de convivência demonstrados em sala de aula.
Essa etapa durou cerca de um ano e, posteriormente, iniciou-se uma segunda etapa, com a mesma forma de atuação sobre “Cidadania”.
Foi exatamente nessa época que tive meu primeiro contato com psicografia. De início, a experiência foi bastante difícil, principalmente porque me trazia muitas dúvidas e insgurança.
Mesmo a distância, por telefone e e-mail, fui recebendo orientações do Dr. Reynaldo Leite, pessoa de saudosa memória, a quem sou muito grato.
Quando em Espinosa, recebo muitas mensagens e orientações. Mas, quando me transferi para Muzambinho, na região sul de Minas Gerais, em janeiro de 2001, é que a minha atuação na psicografia tomou maior vulto. Muitas foram as mensagens recebidas e muitas orientações quem me auxiliaram na realização de palestras.
Na manhã de 15 de maio, depois da oração e do estudo, uma surpresa. Recebi o primeiro capítulo de que me pareceu ser um livro. Nascia, ali, o Memórias de um Toxicômano. Somente alguns dias depois vim tomar o conhecimento do nome do autor espiritual, por meio do texto do próprio livro.(...)
No início de 2003, tive uma experiência que muito me emocionou. Era fim de tarde e início da noite de um domingo, quando me reuni com a família, mulher e filhos, no escritório de minha casa, para que juntos proferíssemos uma oração. Como de costume, lemos uma página edificante e minha esposa fez a oração. Naquele momento, me foi permitida a visão do Plano Espiritual, de forma que jamais vou esquecer.
Na minha frente, estavam reunidos diversos espíritos amigos e familiares desencarnados. Entre eles, pela primeira vez, tive a grata oportunidade de visualizar a presença de meu pai e de minha avó paterna. Foi um momento de grande emoção...

Acesse o site da Revista Cristã de Espiritismo para ler este artigo na íntegra!




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