quinta-feira, 8 de maio de 2008

O sofrimento é opcional


O jantar tinha sido especial.

Afinal era nossa primeira noite juntos. Todos queriam saber um pouco de cada um. Começávamos nossa caminhada por La Paz na Bolívia e iríamos terminar em Lima no Peru. Buscávamos mais conhecimentos sobre nosso Eu interior.
Sthan Xannia era nosso guia.

Na manhã seguinte deveríamos acordar às 6 horas e o novo dia já se fazia presente. Cansados fomos logo deitar.
Nem bem havia iniciado meu sono alguém batia na porta de nosso quarto. Era Sthan que disse:
- Preciso de você, venha até meu quarto por favor.
Claro, só vou tirar o pijama.
Fui mais rápido que pude e lá encontrei Sthan atendendo-a. Omitirei seu nome pois quem ela é não faz diferença. O importante é o que ela passou e como conseguiu superar.
- Saul, Preciso de sua energia. Disse Sthan...
Claro, conte comigo.
Trabalhamos firme. Ela chorava. Sthan entoava mantras indígenas, usava o chocalho.
A seu pedido dei minha mão a ela e junto todo o carinho e o amor que tinha. A pedido de Sthan fui buscar o Pau de Fogo que havia comprado pela tarde. Trata-se de um defumador poderoso. Fez uso dele.

Contou como seu esposo e filho tinham sido metralhados e a maneira brutal como haviam desencarnado. Um assalto seguido de seqüestro. Sua dor era enorme. Podia sentir a vibração de sua mão transmitindo esta energia.

Aos poucos foi se acalmando, dominando suas forças, trabalhando a sua energia interna e sua mente. Quando Sthan concluiu o trabalho todos transpirávamos.
Olhou para mim e disse: Ela agradece.

Entendi que eu havia concluído minha missão. Beijei-os e fui dormir.
Os dias foram passando e ela sofreu uma transformação incrível. Mudou, tornou-se mais alegre. Um dia, num momento oportuno conversei com Sthan sobre o assunto e a grande transformação que todos havíamos tido em nossa viagem.

Ele disse-me:

- Saul, lamentavelmente a dor é sempre necessária. Faz parte de nossa missão na terra. Porém, o sofrimento é opcional. A dor é necessária, mas o sofrimento é opcional. Insisto em dizer. Ela só compreendeu isso.
Deixou de sofrer por compreender que este sofrimento é desnecessário e só ela consegue abandonar, tomar esta decisão. Viver sem sofrimento é nossa opção.

Hoje eu sei disso e procuro transmitir para as pessoas que me cercam. A verdade é simples, difícil é aceitarmos a sua simplicidade.

Nos veremos em breve. Beijo na alma.

Saul Brandalise Jr. é escritor e colaborador do Vidanova.com
Email: saul@vidanova.com