“ CREIO
Que não temos nossa causa em nós mesmos
Que existe acima do homem e superior à natureza um Ser Pensante, Infinito, Eterno, Imutável, um Supremo Legislador
Que a existência de um Criador
De uma Razão primitiva
È um fato adquirido pela evidência material dos fatos.
Que o Universo não é nem surdo, nem cego
Que a vida não é uma confusão sem fim
Um caos informe
Que tudo tem a sua razão de ser, seu alvo, seu fim.
CREIO
Que o Nada é uma palavra vã
Que a Morte não existe
Que nada morre
Que o ser sobrevive ao seu invólucro
Que a morte não é um termo
Mas uma metamorfose
Uma transformação necessária
Um renovamento
Que somos eternos pela base do nosso ser
Que nada do que existe pode ser aniquilado
Que existiremos, porque existimos.
CREIO
Que não há aniquilamento
Mas sempre estados sucedendo outros estados
A eterna transmissão de outra ordem de coisas a outra
De uma economia a outra
De um serviço a outro
Que tudo renasce
Que tudo é o verdadeiro começo
Que nascer não é principiar
Mas mudar de figura
Que nossas existências são mais do que continuações, séries, conseqüências
Que sono ou despertar
Morte ou nascimento
São uma e a mesma coisa
Transição semelhante, acidente previsto.
CREIO
Que tudo evolui e tende para um estado superior
Que tudo se transforma e aperfeiçoa
Que o homem marcha sempre e sempre se engrandece
Que tudo rola, prolonga-se e renova-se
Que a morte não é o único teatro de nossas lutas e de nossos progressos
Que o Universo é sem lacuna
Que há mundos infinitos nesse universo infinito
Que o mundo é um ponto que conduz a outro
Que os há para todos os graus de crescimento.
CREIO
Que, saindo desta vida,
Não entramos em um estado definitivo
Que nada se acaba neste mundo
Que, enquanto um destino humano tem alguma coisa a cumprir, isto é,
Um progresso a realizar
Nada está acabado
Que a morte não deve ser tomada senão como um descanso em nossa viagem
Que a morte é feixe de caminhos
Que irradiam em todas as direções do Universo
Nos quais efetuamos nosso destino infinito
CREIO
Que Deus não criou almas civilizadas
Que a alma humana é o resultado do trabalho da vida
Que todos os homens são cidadãos da mesma pátria
Membros da mesma família
Ramos da mesma árvore
Que todos têm origem, destino e aspiração comuns
Que todos começam a ascensão
Que estão somente mais ou menos altos
Que os mais vis têm por lei alcançar os mais elevados.
CREIO
Que o homem não é o último anel que une a criatura ao Criador
Que não somos os primeiros depois de Deus
Eu temos ao menos tantos degraus sobre a cabeça como abaixo dos pés
Que a vida está em toda a parte
Que a alma está em toda coisa
Que o corpo envolve o espírito
Que o homem não é o único
Que é seguido de uma sombra
Que todos, o próprio calhau miserável, tem atrás de si uma sombra, uma sombra diante deles
Que todos são a alma que vive, que viveu, que deve viver.
CREIO
Que a harmonia do Universo se resume em uma só lei
Que o progresso por toda parte é para todos
Para o animal como para a planta
Para a planta como para o mineral
Que tudo segue a mesma rotação
Que tudo morre da mesma maneira e morre ultimamente
Que a vida sorve todos os seus elementos da própria morte
Que cresce por série contínua de transformações infinitas
Que parte do infinitamente pequeno
Marcha para o infinitamente grande.
CREIO
Que tudo o que vive é encarnação
Que toda evolução, toda transformação é encarnação
Que as criaturas sobem no crescimento d´alma como nos dos invólucros
Que o homem é o espírito encarnado
Que a alma não é criada ao mesmo tempo que o corpo
Que ela é apenas incorporada
Que a encarnação é uma lei da natureza
Uma necessidade absoluta, conseqüência lógica da lei do progresso
Que todo homem é um resumo de existências anteriores
Que se compõem de numerosas personagens, formando um só.
CREIO
Na pluralidade dos mundos
Na multiplicidade das existências
Na universal ascensão dos seres
Na progressão contínua da alma
Com os seus transportes, seus recuos, suas crises e as sansões que daí decorrem.
CREIO
Que neste Universo
Obra da Infinita Sabedoria
Nada acontece pelo jogo do acaso
Que nada se faz sem uma Soberana Justiça
Que toda desordem não existe senão em aparência
Que não há acaso nem fatalidade
Que há forças, leis que ninguém pode derrogar
Que todas as coisas do mundo têm ligação entre si
Que nada é isolado
Que o mundo material é solidário com o mundo espiritual
Que ambos se penetram reciprocamente
Que tudo se mantém,
Tudo se concorda
Tudo se encadeia e se liga
Sobre o ponto de vista moral, como físico
Que na ordem dos fatos
Dos mais simples ao mais complexo
Tudo é regulado por uma lei.
CREIO
Que q lei moral é uma verdade absoluta
Que a Justiça, a Sabedoria, a Virtude
Existem na marcha do mundo
Tanto quanto a realidade física
Que não se pode transpor, sem trabalho e sem mérito, um grau na iniciação humana
Que o espírito deve chegar só, por si, à verdade
E tem de tornar-se merecedor de sua felicidade
Que a felicidade para ter tido o seu preço, deve ser adquirida e não concedida.
CREIO
Que a vida não é um jogo, uma ilusão
Que a verdadeira vida não é a que multiplica os gozos
Que a felicidade tal qual a entendemos não pode existir
Que é preciso que o esforço subsista neste mundo
Que não estamos aqui para gozar
Mas lutar, trabalhar, combater
Que a luta é necessária ao desenvolvimento do espírito
Que o verdadeiro fim da vida consiste no dever
Que incumbe a todo ser humano de subjugar a matéria ao espírito
CREIO
Que o homem é justificado não por sua fé
Mas por suas obras
Que a prática do bem é a lei superior
A condição sine qua nom de nosso futuro
Que a santidade é o alvo a que devemos chegar
Que não se pode fazer tudo impunemente
Que a felicidade e a desgraça dos homens dependem absolutamente da observação da lei universal
Que rege a ordem na natureza
CREIO
Que existem um Inferno e um Paraíso filosóficos, isto é,
Um sistema natural que liga entre si, intimamente, as causas além e aquém do tempo
Que sempre nos sucedemos a nós mesmos
Que sempre determinamos
Por nossa marcha presente a marcha que seguiremos mais tarde
CREIO
Que o presente determina o futuro
Que cada homem tece em volta de si o seu destino
Que se torna sem cessar o que mereceu ser
Que nenhum desvio do caminho reto fica impune
Que os que dele se afastam serão a ele levados fatalmente
Que o progresso é uma lei soberana
A qual ninguém resiste
Que não há um defeito
Uma imperfeição moral
Uma ação má
Que não tenha a sua contradita e suas conseqüências naturais
Que não há ato útil sem proveito
Falta sem sanção
Que não há ação que possa sonegar-se.
CREIO
Que cada um deve a si mesmo a sua sorte
Que cada um cria a si mesmo as suas alegrias como as suas penas
Que o homem é o seu próprio algoz
Que se remunera e se pune a si mesmo
Que colhe o que semeia e nutre-se do que colhe
Debilitado ou fortificado pelos alimentos que ele próprio produziu
Que a alma transporta em si mesma o seu próprio castigo
Em todo lugar em que se possa encontrar
Que o inferno não é um lugar, mas uma condição de ser
Um estado da alma
Que pertence a cada de nós sair dele ou aí nos manter
CREIO
Que a pena não está senão na falta
Que é impossível que essas coisas possam separar-se
Que o sofrimento não é o resultado do acaso
Que toda lágrima lava alguma coisa
Que a dor e culpabilidade são sinônimos
Que o homem em evolução é tributário de seus erros e
De seus maus pensamentos
Que somos nós os instrumentos de nosso próprio suplício.
CREIO
Que toda vida culposa deve ser resgatada
Que toda falta cometida
Todo mal causado é uma dívida contraída
Que deve ser paga no momento ou noutro
Quer em uma existência quer na outra
Que a fatalidade aparente
Que semeia de males o caminho da vida
Não é senão a conseqüência do nosso passado
O efeito produzido pela causa
Que a vida terrestre é ao mesmo tempo reparação e preparação
Que nenhum de nós é o que deve ser e
Que é preciso que a razão se cumpra
Que a justiça se faça e o bem seja feito.
CREIO
Que cada nova existência é um novo ponto de partida
Em que o homem é aquilo que se fez
Que renasce com o seu débito e
Com o seu crédito
Que nada perde do que adquiriu
Que o esquecimento temporário do passado
É a condição indispensável de toda provação e de todo progresso
Que é preciso que o esforço seja livre e voluntário
Que o conhecimento dos fatos anteriores e
Das sansões inevitáveis embaraçaria o homem
Em lugar de ajudá-lo
Que é justo e necessário que
Em seu estado atual, o passado e o futuro lhe sejam ocultos.
CREIO
Enfim, que a revelação é progressiva
Que a verdade se desvenda sempre
Segundo os tempos e os lugares
Que estamos na aurora da vida consciente
E que marchamos, todos, na solidariedade universal
Através de vidas sucessivas para a infinita perfeição
Que o futuro encerra e que tudo foi criado
Tendo em vista um bem final
Que o Bem é a lei do Universo
E o Mal um estado transitório
Sempre reparável
Uma das fases inferiores da evolução dos seres para o bem
Que nada de irremediável pesa sobre nós
Que tudo se apaga
Tudo se dissolve
Que a dor é libertadora
Que nada é negro
Nada é triste
Que tudo acaba bem
E que não se tem senão de esperar a sua hora em um mundo ou em outro.”