sábado, 20 de fevereiro de 2010
Refutando os exegetas dogmáticos
Os profitentes espíritas, possuidores da fé raciocinada, utilizam a razão e o bom senso na análise e discussão de seus argumentos, em oposição aos que aceitam servilmente conceitos religiosos dogmáticos.
A Doutrina Espírita respeita todas as crenças religiosas, reconhecendo que cada criatura se encontra em determinada faixa evolutiva espiritual. Contudo, como iluminador das consciências, o Espiritismo não pode ficar alheio ao exame das asseverações religiosas dogmáticas, com suas apresentações confusas, pueris e desatualizadas, as quais são responsáveis, em grande proporção, pelo crescimento do materialismo, no mundo.
Ainda hoje não se ensina a criação do mundo em seis dias? Além disso, no sétimo dia, o criador antropomórfico não descansou? A Teologia escolástica, até o momento, não prega a respeito de uma divindade, arrependida de ter criado o homem e de ter elevado Saul ao trono? Um ser que cria as almas, sabendo que definharão, em sua grande maioria, por todo o sempre, no famigerado inferno?
Através de preceitos humanos eclesiásticos, surgiu o dogma da “Santíssima Trindade” e, concomitantemente, a aceitação, no Concílio de Niceia, no ano de 325, da deificação de Jesus, sendo apontado o Mestre como o próprio Deus.
Os exegetas dogmáticos citam a afirmativa do Cristo: “Eu e o Pai somos um” (João10: 30), como uma prova bíblica segura da divindade de Jesus.
O importante é não confundirmos a essência ou centelha divina, que nos dá a vida, que é criação do Pai, tendo saído Dele, com o próprio Criador. É claro que todos nós somos um com o Pai, porquanto Dele fomos criados. Para que não houvesse confusão em relação a isso, o Mestre afirmou: “Vós sois deuses” (João 10:35). O Gênesis revela que fomos gerados à imagem e semelhança do Pai (Capítulo 1:26). Aliás, na oração sacerdotal, o Cristo pede a Deus que permita que Ele (Jesus), seus discípulos e o Pai sejam um (João 17:21). Pretenderão as igrejas tradicionais que, em virtude dessa frase, o Mestre tenha querido acrescentar à Trindade mais doze pessoas?
A fim de tentarem abalizar o dogma da deificação na Bíblia, os exegetas afirmam que o seguinte texto evidencia a divindade de Jesus: “Antes que Abraão existisse, Eu Sou” (João 8: 58).
Devemos frisar que antes que a Terra fosse formada, o Mestre já existia como Espírito puro, visto que ele foi o criador do nosso planeta, constituindo-se em dirigente supremo do orbe: “Glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (João 17: 5).
Lembramos que João Batista disse: “O que vem depois de mim é maior do que eu, porque já existia antes de mim” (João1: 15). Portanto, quando a personalidade Abraão apareceu, em nosso mundo, Jesus já era o Cristo (“Eu Sou”).
Os teólogos dogmáticos também argumentam a favor do dogma da divindade do Mestre, utilizando o seguinte pensamento do apóstolo João; “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (1: 14).
Consideramos que o Verbo de Deus é a vontade ou a palavra do Pai que se fez carne, quer dizer, manifestado à humanidade, através de Jesus. Este foi o encarregado de transmitir aos homens o pensamento de Deus. O Cristo veio ao mundo físico revelar a todas as criaturas o Pai amado, Criador de todas as coisas: “Quem crê em mim, crê não em mim, mas naquele que me enviou” (João 12: 44); “Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar” (João 12: 49);... “As cousas, pois que eu falo, como o Pai me tem dito, assim falo” (João 12: 50); “Tudo por meu Pai me foi entregue” (Lucas 10:22); “E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem....” (Lucas 23: 34); “E, clamando o Mestre com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou” (Lucas 23: 46). Constatamos, com facilidade, pela leitura atenta e descompromissada dos textos do “Novo Testamento” que, na realidade, Jesus não é o próprio Deus. Ele mesmo o afirma, dizendo a Maria Madalena: “Não me toques porque ainda não subi a meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos, e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus” (João 20: 17). Ao ser abordado por um mancebo muito rico que lhe chamou de “Bom Mestre”, o Cristo lhe repreendeu: “Por que me chamas bom? NINGUÉM HÁ BOM SENÃO UM SÓ, QUE É DEUS”... (Marcos 10:17-18).
Outra passagem bíblica digna de registro contra o dogma da deificação do Mestre está no Evangelho de Mateus: “Quando será o dia ninguém sabe, nem mesmo os anjos que estão nos céus, nem mesmo o Filho, mas tão-somente o Pai” (24:35-36). Nesta afirmação de Jesus a respeito do dia da sua volta ao planeta, está contido o protesto antecipado do Mestre a respeito do papel que os homens lhe incumbiriam de ser o próprio Deus.
Allan Kardec afirmou que “Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão da sua lei, porque ele estava animado do Espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra” (Comentário da resposta da questão 625 de “OLE”). Em “Obras Póstumas”, no capítulo sobre a Natureza do Cristo, diz o excelso codificador que Jesus era um messias divino pelo duplo motivo de que de Deus é que tinha a sua missão e de que suas perfeições o punham em relação direta com o Pai. Kardec ressalta, igualmente, que o próprio Mestre deu a si mesmo, com persistência notável, a qualificação de “Filho do Homem”, expressão que significa o que nasceu do homem, em oposição ao que está fora da Humanidade.
No momento em que as Escrituras forem lidas, utilizando-se a razão, todos os conceitos dogmáticos deixarão de existir. Jesus disse: “Conhecereis a verdade e ela vos libertará” (João 8:32).