Voltemos ao problema do mal, de que só incidentemente tratamos, e que a
tantos pensadores tem preocupado.
Por que Deus, causa primária de tudo quanto existe, perguntam os
cépticos, permite que no Universo subsista o mal?
Vimos que o mal físico, ou o que é considerado tal, em realidade não é mais
que uma ordem de fenômenos naturais. O caráter maléfico destes ficou
explicado desde que foi conhecida a verdadeira origem das coisas. A erupção
de um vulcão não é mais extraordinária que a ebulição de um vaso cheio
dágua. O raio que derriba edifícios e árvores é da mesma natureza que a
centelha elétrica, veículo do nosso pensamento. Outro tanto sucede com
qualquer fenômeno violento. Resta a dor física. Mas sabe-se que ela é a
conseqüência da sensibilidade, e isso é já um magnífico conhecimento
conquistado pelo ser depois de longos períodos que passou nas formas inferiores
da vida. A dor é uma advertência necessária, um estimulante à vontade
do homem, pois nos obriga a concentrarmos para refletir, e força-nos a domar
as paixões. A dor é o caminho do aperfeiçoamento.
Porém, o mal moral, dirão, o vicio, o crime, a Ignorância, a vitória do mau e
o infortúnio do justo, como explicá-los?
Primeiramente, em que ponto de vista se coloca quem pretende julgar estas
coisas? Se o homem não vê senão uma partícula do mundo em que habita, se
só considera a sua curta passagem pela Terra, como poderá conhecer a ordem
eterna e universal? Para avaliar o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, o justo e
o injusto cumpre nos elevarmos acima dos estreitos limites da vida atual, e
considerar o conjunto dos nossos destinos. Então o mal aparece tal como é,
como um estado transitório inerente ao nosso mundo, como uma das fases
inferiores da evolução dos seres para o Bem. Não é em nosso mundo nem em
nossa época que se deve procurar o ideal perfeito, mas na imensidade dos
mundos e na eternidade dos tempos.
Entretanto, se seguirmos o aperfeiçoamento contínuo das condições vitais
do planeta, a lenta evolução das espécies e das raças através das idades; se
considerarmos o homem dos tempos pré-históricos, o antropóide das cavernas,
com instintos ferozes, e as condições de sua vida miserável, e, se
compararmos depois esse ponto de partida com os resultados obtidos pela
civilização atual, veremos claramente a tendência constante dos seres e das
coisas para um ideal de perfeição. A própria evidência, mostrando-nos que a
vida sempre se melhora, se transforma e se enriquece, que o montante do bem
aumenta sem cessar e que o dos males diminui, obriga-nos a reconhecer esse
encaminhamento gradual das humanidades para o melhor.
Mesmo pondo em linha de conta os tempos de parada e, algumas vezes,
até os retrocessos nesse grande movimento, ninguém deve esquecer que o
homem é livre e pode dirigir-se à vontade num sentido ou em outro, não sendo
possível o seu aperfeiçoamento senão quando a vontade está de acordo com a
lei.
Léon Denis - Depois da Morte
tantos pensadores tem preocupado.
Por que Deus, causa primária de tudo quanto existe, perguntam os
cépticos, permite que no Universo subsista o mal?
Vimos que o mal físico, ou o que é considerado tal, em realidade não é mais
que uma ordem de fenômenos naturais. O caráter maléfico destes ficou
explicado desde que foi conhecida a verdadeira origem das coisas. A erupção
de um vulcão não é mais extraordinária que a ebulição de um vaso cheio
dágua. O raio que derriba edifícios e árvores é da mesma natureza que a
centelha elétrica, veículo do nosso pensamento. Outro tanto sucede com
qualquer fenômeno violento. Resta a dor física. Mas sabe-se que ela é a
conseqüência da sensibilidade, e isso é já um magnífico conhecimento
conquistado pelo ser depois de longos períodos que passou nas formas inferiores
da vida. A dor é uma advertência necessária, um estimulante à vontade
do homem, pois nos obriga a concentrarmos para refletir, e força-nos a domar
as paixões. A dor é o caminho do aperfeiçoamento.
Porém, o mal moral, dirão, o vicio, o crime, a Ignorância, a vitória do mau e
o infortúnio do justo, como explicá-los?
Primeiramente, em que ponto de vista se coloca quem pretende julgar estas
coisas? Se o homem não vê senão uma partícula do mundo em que habita, se
só considera a sua curta passagem pela Terra, como poderá conhecer a ordem
eterna e universal? Para avaliar o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, o justo e
o injusto cumpre nos elevarmos acima dos estreitos limites da vida atual, e
considerar o conjunto dos nossos destinos. Então o mal aparece tal como é,
como um estado transitório inerente ao nosso mundo, como uma das fases
inferiores da evolução dos seres para o Bem. Não é em nosso mundo nem em
nossa época que se deve procurar o ideal perfeito, mas na imensidade dos
mundos e na eternidade dos tempos.
Entretanto, se seguirmos o aperfeiçoamento contínuo das condições vitais
do planeta, a lenta evolução das espécies e das raças através das idades; se
considerarmos o homem dos tempos pré-históricos, o antropóide das cavernas,
com instintos ferozes, e as condições de sua vida miserável, e, se
compararmos depois esse ponto de partida com os resultados obtidos pela
civilização atual, veremos claramente a tendência constante dos seres e das
coisas para um ideal de perfeição. A própria evidência, mostrando-nos que a
vida sempre se melhora, se transforma e se enriquece, que o montante do bem
aumenta sem cessar e que o dos males diminui, obriga-nos a reconhecer esse
encaminhamento gradual das humanidades para o melhor.
Mesmo pondo em linha de conta os tempos de parada e, algumas vezes,
até os retrocessos nesse grande movimento, ninguém deve esquecer que o
homem é livre e pode dirigir-se à vontade num sentido ou em outro, não sendo
possível o seu aperfeiçoamento senão quando a vontade está de acordo com a
lei.
Léon Denis - Depois da Morte
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