Se muitas vezes o homem é o causador de seus sofrimentos materiais, também será dos morais?
– Mais ainda, porque os sofrimentos materiais são algumas vezes independentes da vontade; mas o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões, enfim, são torturas da alma.
A inveja e o ciúme! Felizes aqueles que não conhecem esses dois vermes roedores! Com a inveja e o ciúme não há calma nem repouso possível para aquele que está atacado desses males: os objetos de sua cobiça, seu ódio, seu despeito se dirigem a ele como fantasmas que não lhes dão nenhuma trégua e o perseguem até durante o sono. O invejoso e o ciumento vivem num estado de febre contínua. Será essa uma situação desejável, e não compreendeis que com suas paixões o homem criou para si suplícios voluntários, e que a Terra torna-se para ele um verdadeiro inferno?
☼ Várias expressões refletem energicamente os efeitos de certas paixões; diz-se: estar inchado de orgulho, morrer de inveja, secar de ciúme ou de despeito, por ciúmes perder o apetite, etc.; esse quadro não deixa de ser verdadeiro. Algumas vezes o próprio ciúme não tem objetivo determinado. Existem pessoas naturalmente ciumentas de tudo que se eleva e sai do comum, mesmo que não tenham nenhum interesse direto nisso, mas unicamente porque não o podem atingir. Tudo o que parece estar acima do horizonte as ofusca, e se estivessem em maioria na sociedade desejariam reconduzir tudo a seu nível. É o ciúme aliado à mediocridade.
O homem é, muitas vezes, infeliz apenas pela importância que dá às coisas deste mundo; é a vaidade, a ambição e a cobiça frustradas que fazem sua infelicidade. Se ele se coloca acima do círculo estreito da vida material, se eleva seus pensamentos ao infinito, que é a sua destinação, as contingências da humanidade lhe parecem, então, mesquinhas e fúteis, como as tristezas de uma criança que se aflige com a perda de um brinquedo que representava sua felicidade suprema.
Aquele que vê felicidade apenas na satisfação do orgulho e dos apetites grosseiros fica infeliz quando não pode satisfazê-los; no entanto, aquele que não se interessa pelo supérfluo fica feliz com o que tem e que os outros considerariam uma grande desgraça, uma insignificância.
Falamos do homem civilizado porque o selvagem, por ter necessidades mais limitadas, não tem os mesmos motivos de cobiça e de angústias: sua maneira de ver as coisas é completamente diferente. Civilizado, o homem raciocina sobre sua infelicidade e a analisa; é por isso que se sente mais afetado por ela; mas também pode raciocinar e analisar os meios de consolação. Essa consolação está no sentimento cristão, que dá a esperança de um futuro melhor, e no Espiritismo, que dá a certeza desse futuro.
Livro dos Espíritos pergunta 933
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