r. Porque é a lei de sua natureza, a condição necessária de seus progressos e de seu destino. A vida material, com suas dificuldades, precisa do esforço e o esforço desenvolve nossos poderes latentes e nossas faculdades em germe.
20. O Espírito só encarna uma vez?
r. Não. Ele reencarna tantas vezes quantas sejam necessárias para atingir a plenitude de seu ser e de sua felicidade.
21. Mas, para atingir esse fim, a pluralidade das existências é então necessária?
r. Sim, porque a vida do Espírito é uma educação progressiva, que pressupõe uma longa série de trabalhos a realizar e de etapas a percorrer.
22. Uma só existência humana, quando é muito boa e muito longa, não poderia bastar ao destino de um Espírito?
r. Não. O Espírito só pode progredir, reparar, renovando várias vezes suas existências em condições diferentes, em épocas variadas, em meios diversos. Cada uma de suas reencarnações lhe permite apurar sua sensibilidade, aperfeiçoar suas faculdades intelectuais e morais.
23. Dissestes que o Espírito reencarna para reparar; então, ele praticou o mal em suas vidas precedentes?
r. Sim. O Espírito praticou o mal, já que não fez todo o bem que devia ter feito. Existe aí uma lacuna que é necessário preencher.
24. Que é o mal?
r. É a ausência do bem, como o falso é a negação do verdadeiro e a noite a ausência da luz. O mal não tem existência positiva; ele é negativo por natureza. A prática do bem engrandece o nosso Ser; a sua omissão o diminui.
25. Como as reencarnações nos permitem reparar as existências falhas?
r. Da mesma forma como o operário recomeça a tarefa que fez mal, assim o Espírito refaz a vida em que falhou.
26. Temos provas da reencarnação dos Espíritos?
r. Sim, primeiramente as que os próprios Espíritos nos trazem em suas revelações; em seguida, as aptidões inatas de cada indivíduo, que determinam sua vocação e lhe traçam neste mundo as grandes linhas de sua vida. Daí, as diferenças materiais, intelectuais e morais que distinguem entre si os homens na Terra e explicam as desigualdades sociais.
27. A doutrina da reencarnação é uma descoberta recente do espírito humano?
r. De forma alguma: a humanidade sempre acreditou nela; toda a Antigüidade a professou; os grandes iniciados a ensinaram ao mundo e Jesus mesmo a ela se referiu em seu Evangelho.
28. Já que vivemos várias vezes, como se explica que não guardamos nenhuma lembrança de nossas vidas passadas?
r. Deus não o permite, porque nossa liberdade ficaria diminuída pela influência da lembrança do nosso passado. “O que põe a mão na charrua, se quer fazer bem seu trabalho, não deve olhar para trás.”
29. Por qual fenômeno o esquecimento de nossas vidas anteriores se produz assim entre nós?
r. No momento em que o Espírito reencarna, isto é, toma um corpo, à medida que nele penetra, suas faculdades adormecem, uma após outra; a memória se apaga e a consciência adormece. No momento da morte se produz o fenômeno contrário: à medida que o Espírito desencarna, as faculdades se desprendem, uma após outra, a memória se liberta, a consciência desperta. Todas as vidas anteriores vêm, pouco a pouco, ligar-se à vida que o Espírito acaba de deixar.
30. Não existe algum meio de provocar momentaneamente a lembrança das vidas passadas?
r. Sim. Pela hipnose ou sono artificial em diversos graus. Sábios contemporâneos fizeram e ainda fazem em nossos dias experiências concludentes, que comprovam a realidade das existências anteriores.
31. Como se fazem essas experiências?
r. Quando um experimentador consciencioso e competente encontra um indivíduo apto a suportar sua influência magnética, ele o adormece. Graças a esse sono, a vida presente é momentaneamente suspensa: então, a lembrança das vidas anteriores, adormecida nas profundezas da consciência, desperta e o indivíduo hipnotizado revê e narra todo o seu passado. Foram escritos livros inteiros sobre essas revelações preciosas, que nos fazem conhecer as leis do destino.
32. É necessário que a vida atual seja suspensa, adormecida, para que as vidas anteriores se revelem?
r. Sim, como é necessário que o sol se deite para que as estrelas, ocultas nas profundezas da noite, apareçam a nossos olhos.
Léon Denis
Síntese Doutrinária
Prática do Espiritismo
Traduzido do Francês
Synthèse doctrinale et pratique du Spiritualisme
1921
Nenhum comentário:
Postar um comentário