Releva,
contudo, assinalar que, em se iniciando a criatura na produção do pensamento
contínuo, o sono adquiriu para ela uma importância que a consciência em
processo evolutivo, até aí, não conhecera.
Usado
instintivamente pelo elemento espiritual, como recurso reparador, no
refazimento das células em serviço, semelhante estado fisiológico carreou
novas possibilidades de realização para quantos se consagrassem ao trabalho
mais amplo de desejar e mentalizar.
Ansiando
livrar-se da fadiga física, após determinada quota de tempo no esforço da vigília
diária e, por isso mesmo, entregue ao relaxamento muscular, o homem operante e
indagador adormecia com a idéia fixada a serviços de sua predileção.
Amadurecido
para pensar e lançando de si a substância de seus propósitos mais íntimos,
ensaiou, pouco a pouco, tal como aprendera, vagarosamente, o desprendimento
definitivo nas operações da morte, o desprendimento parcial do corpo sutil,
durante o sono, desenfaixando-o do veículo de matéria mais densa, embora
sustentando-o, ligado a ele, por laços fluídico-magnéticos, a se dilatarem
levemente dos plexos e, com mais segurança, da fossa rombóide.
Encetado
o processo de sonolência, com as reações motoras empobrecidas e impondo
mecanicamente a si mesma o descanso temporário, no auxílio às células fatigadas de tensão, isto desde as
eras remotas em que o pensamento se lhe articulou com fluência e continuidade,
permanece a mente, através do corpo espiritual, na maioria das vezes,
justaposta ao veículo físico,
à guisa de um cavaleiro que repousa ao pé do animal de que necessita para a
travessia de grande região, em complicada viagem, dando-lhe ensejo à
recuperação e pastagem, enquanto ele se recolhe ao próprio íntimo,
ensimesmando-se para refletir ou imaginar, de conformidade com seus problemas e
inquietações, necessidades e desejos.
— Dessa forma, aliviando o controle sobre as células que a
servem no corpo carnal, a mente se volta, no sono, para o refúgio de si mesma,
plasmando na onda constante de suas próprias idéias as imagens com que se
compraz nos sonhos agradáveis em que saca da memória a essência de seus
próprios desejos, retemperando-se na antecipada contemplação dos painéis ou
situações que almeja concretizar.
Para
isso, mobiliza os recursos do núcleo da visão superior, no diencéfalo, de vez
que, aí, as qualidades essencialmente ópticas do centro coronário lhe acalentam
no silêncio do desnervamento transitório todos os pensamentos que lhe emergem
do seio.
Noutras
ocasiões, no mesmo estado de insulamento, recolhe, no curso do sono, os
resultados de seus próprios excessos, padecendo a inquietação das vísceras ou
dos nervos injuriados pela sua rendição à licenciosidade, quando não seja o
asfixiante pesar do remorso por faltas cometidas, cujos reflexos absorvem do
arquivo em que se lhe amontoam as próprias lembranças.
Numa e
noutra condição, todavia, é a mente suscetível àinfluenciação dos desencarnados
que, evoluídos ou não, lhe visitam o ser, atraidos pelos quadros que se lhe
filtram da aura, ofertando-lhe auxílio eficiente quando se mostre inclinada à
ascensão de ordem moral, ou sugando-lhe as energias e assoprando-lhe
sugestões infelizes quando, pela própria ociosidade ou intenção maligna, adere
ao consórcio psíquico de espécie aviltante, que lhe favorece a estagnação na
preguiça ou a envolve nas obsessões viciosas pelas quais se entrega a temíveis
contratos com as forças sombrias.
Mas dessa
posição de espectador à função
de agente existe apenas um passo.
O
pensamento contínuo, em fluxo insopitável, desloca-lhe a organização celular
perispiritual, à maneira do córrego que em sua passagem desarticula da gleba em
que desliza todo um rosário de seixos. E assim como os seixos soltos seguem a
direção da corrente, lapidando-se no curso dos dias, o corpo espiritual acompanha,
de início, o impulso da corrente mental que por ele extravasa, conscienciando-se muito vagarosamente
no sono, que lhe propicia meia-libertação.
Evolução em Dois Mundos
Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira
Ditado pelo espírito André Luiz
Evolução em Dois Mundos
Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira
Ditado pelo espírito André Luiz
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