O esquecimento das existências anteriores é, em princípio, dissemos, uma das conseqüências da reencarnação; entretanto, não é absoluto esse esquecimento. Em muitas pessoas o passado renova-se em forma de impressões, senão de lembranças definidas. Essas impressões às vezes influenciam os nossos atos; são as que não vêm da educação, nem do meio, nem da hereditariedade. Nesse número podem classificar-se as simpatias e as antipatias repentinas, as intuições rápidas, as idéias inatas. Basta descermos a nós mesmos, estudarmo-nos com atenção, para tornarmos a encontrar em nossos gostos, em nossas tendências, em traços do nosso caráter, numerosos vestígios desse passado. Infelizmente, mui poucos de nós se entregam a esse exame com método e atenção.
Pode-se citar, ainda, em todas as épocas da História, um certo número de homens que, graças a disposições excepcionais do seu organismo psíquico, conservam recordações das suas vidas passadas. Para eles não era uma teoria a pluralidade das existências; era um fato de percepção direta. O testemunho desses homens assume importância considerável por terem ocupado na sociedade do seu tempo altas posições; quase todos, espíritos elevados, exerceram, na sua época, grande influência. A faculdade, muito rara, de que gozavam, era, sem dúvida, o fruto de uma evolução imensa. Estando o valor de um testemunho na razão direta da inteligência e inteireza da testemunha, não se podem passar em claro as afirmações desses homens, alguns dos quais trouxeram na cabeça a coroa do gênio.
É um fato bem conhecido que Pitágoras se recordava pelo menos de três das suas existências e dos nomes que em cada uma delas usava. Declarava ter sido Hermótimo, Eufórbio e um dos Argonautas. Juliano, cognominado o Apóstata, tão caluniado pelos cristãos, mas que foi, na realidade, uma das grandes figuras da História Romana, recordava-se de ter sido Alexandre da Macedônia. Empédocles afirmava que, pelo que lhe dizia respeito, “recordava-se de ter sido rapaz e rapariga”.
Na opinião de Herder (Dialogues sur la Métempsycose), devem ajuntar-se a esses nomes os de Yarcas e de Apolônio de Tiana.
Na Idade Média tornamos a encontrar a mesma faculdade em Gerolamo Cardano.
Entre os modernos, Lamartine declara, no seu livro Voyage en Orient, ter tido reminiscências muito claras de um passado longínquo. Transcrevamos o seu testemunho
“Na Judéia eu não tinha Bíblia nem livro de viagem; ninguém que me desse o nome dos lugares e o nome antigo dos vales e dos montes. Não obstante, reconheci, sem demora,o vale de Terebinto e o campo de batalha de Saul. Quando estivemos no convento, os padres confirmaram-me a exatidão das minhas descobertas. Os meus companheiros recusavam acreditá-lo. Do mesmo modo, em Séfora, apontara com o dedo e designara pelo nome uma colina que tinha no alto um castelo arruinado, como o lugar provável do nascimento da Virgem. No dia seguinte, no sopé de um monte árido, reconheci o túmulo dos Macabeus e falava verdade sem o saber. Excetuando os vales do Líbano, quase não encontrei na Judéia um lugar ou uma coisa que não fosse para mim como uma recordação. Temos então vivido duas ou mil vezes? É pois, a nossa memória uma simples imagem embaciada que o sopro de Deus aviva?”
Léon Denis em
O Problema do Ser, do Destino e da Dor
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