sábado, 27 de fevereiro de 2016
Bom ânimo
– Irmãos, continuemos hoje em nosso comentário acerca do
bom ânimo. Não me creiam separado de vocês por virtudes que
não possuo. A palavra fácil e bem posta é, muita vez, dever espinhoso
em nossa boca, constrangendo-nos à reflexão e à disciplina.
Também sou aqui um companheiro à espera da volta. A prisão
redentora da carne acena-nos ao regresso. É que o propósito da
vida trabalha em nós e conosco, através de todos os meios, para
guiar-nos à perfeição. Cerceando-lhe os impulsos, agimos em
sentido contrário à Lei, criando aflição e sofrimento em nós mesmos.
No plano físico, muitos de nós supúnhamos que a morte
seria ponto final aos nossos problemas, enquanto outros muitos se
acreditavam privilegiados da Infinita Bondade, por haverem
abraçado atitudes de superfície, nos templos religiosos. A viagem
do sepulcro, no entanto, ensinou-nos uma lição grande e nova – a
de que nos achamos indissoluvelmente ligados às nossas próprias
obras. Nossos atos tecem asas de libertação ou algemas de cativeiro,
para a nossa vitória ou nossa perda. A ninguém devemos o
destino senão a nós próprios. Entretanto, se é verdade que nos
vemos hoje sob as ruínas de nossas realizações deploráveis, não
estamos sem esperança. Se a sabedoria de nosso Pai Celeste não
prescinde da justiça para evidenciar-se, essa mesma justiça não se
revela sem amor. Se somos vítimas de nós mesmos, somos igualmente
beneficiários da Tolerância Divina, que nos descerra os
santuários da vida para que saibamos expiar e solver, restaurar e
ressarcir. Na retaguarda, aniquilávamos o tempo, instilando nos
outros sentimentos e pensamentos que não desejávamos para nós,
quando não estabelecíamos pela crueldade e pelo orgulho vasta
sementeira de ódio e perseguição. Com semelhantes atitudes,
porém, levantamos em nosso prejuízo a desarmonia e o sofrimento,
que nos sitiam a existência, quais inexoráveis fantasmas. O
pretérito fala em nós com gritos de credor exigente, amontoando
sobre as nossas cabeças os frutos amargos da plantação que fizemos...
Daí, os desajustes e enfermidades que nos assaltam a mente,
desarticulando-nos os veículos de manifestação. Admitíamos
que a transição do sepulcro fosse lavagem miraculosa, liberando-nos
o Espírito, mas ressuscitamos no corpo sutil de agora com os
males que alimentamos em nosso ser. Nossas ligações com a
retaguarda, por essa razão, continuam vivas. Laços de afetividade
mal dirigida e cadeias de aversão aprisionam-nos, ainda, a companheiros
encarnados e desencarnados, muitos deles em desequilíbrios
mais graves e constringentes que os nossos. Nutrindo
propósitos de regeneração e melhoria, somos hoje criaturas despertando
entre o Inferno e a Terra, que se afinam tão entranhadamente
um com o outro, como nós e nossos feitos. Achamo-nos
imbuídos do sonho de renovação e paz, aspirando à imersão na
Vida Superior, entretanto, quem poderia adquirir respeitabilidade
sem quitar-se com a Lei? Ninguém avança para a frente sem pagar
as dívidas que contraiu. ________________________________________________Francisco Cândido Xavier – Ação e Reação – pelo Espírito André Luiz
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