O auto-amor é um aprendizado de longa duração. Conectar seu conceito a fórmulas comportamentais para aquisição de felicidade instantânea é uma atitude própria de quantos se exasperam com a procura do imediatismo. Amar é uma lição para a eternidade.
Que habilidades emocionais temos que desenvolver para o auto-amor? Que cuidados adotar para aprendermos uma relação de amorosidade conosco? Como alcançar a condição de núcleos avançados para desenvolvimento dos valores da alma? Que iniciativas tomar para que as casas espíritas sejam redutos de aprimoramento de nossos sentimentos e escolas eficientes de criatividade para superação de nossas dores? Que técnicas e métodos nos serão úteis para incentivar a alegria e a espontaneidade afetiva? Como implementar escolas do sentimento em nossos grupos doutrinários de estudo sistematizados? Que temas enfocar na melhor compreensão das manifestações profundas da alma?
Fala-se, em nossos ambientes de educação espiritual, que não somos bons ouvintes. De fato, uma das habilidades que carecemos aperfeiçoar nas relações interpessoais é a arte de ouvir. Mas, da mesma forma que guardamos limitações para ouvir o outro, também não sabemos ouvir a nós mesmos. Que técnicas adotar para estimular nossa habilidade de ser um bom ouvinte?
Ouvir a alma é aprender a discernir entre sentimentos e o conjunto variado de manifestações íntimas do ser, sedimentadas na longa trajetória evolutiva, tais como instintos, tendências, hábitos, complexos, traumas, crenças, desejos, interesses e emoções.
Escutar a alma é aprender a discernir o que queremos da vida, nossa intenção-básica. A intenção do Espírito é a força que impulsiona o progresso através do leque dos sentimentos. A intenção genuína da alma reflete na experiência da afetividade humana, construindo a vastidão das vivências do coração – a metamorfose da sensibilidade. A conquista de si mesmo consiste em saber interpretar com fidelidade o que buscamos no ato de existir, a intenção magnânima que brota das profundezas da alma em profusão de sentimentos.
Os discípulos sinceros do Espiritismo reflitam na importância do auto-amor como condição indispensável ao bom aproveitamento da reencarnação. Estar em paz consigo é recurso elementar na boa aplicação dos Talentos Divinos a nós confiados.
Amar-se não significa laborar por privilégios e vantagens pessoais, mas o modo como convivemos conosco. Resume-se, basicamente, como tratamos a nós próprios. A relação que estabelecemos como nosso mundo íntimo. Sobretudo, o respeito que exercemos àquilo que sentimos. A auto-estima surge quando temos atitude cristã com nossos sentimentos.
O amor a si não se confunde com o egoísmo, porque quem tem atitude amorosa consigo está centrado no self. Deslocou o foco de seus sentimentos para a fonte de sabedoria e elevação, criando ressonância com o ritmo de Deus.Amar-se é ir ao encontro do Si Mesmo como denominava Jung.
Alinhavemos alguns tópicos sugestivos que poderão constar no programa de debates para reeducação da vida emocional e psicológica à luz dos fundamentos do Espiritismo. Tomemos por base a análise educacional de Allan Kardec que diz na questão número 917 de O Livro dos Espíritos:
“A educação convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação. É grave erro pensar-se que, para exercê-la com proveito,baste o conhecimento da Ciência”.
. Responsabilidade – Somos os únicos responsáveis pelos nossos sentimentos.
. Consciência – O sentimento é o espelho da vida profunda do ser e expressa os recados da consciência.Nossos sentimentos são a porta que se abre para esse mundo glorioso que se encontra “oculto”, desconhecido.
- Ética para conosco – Somos tratados como nos tratamos. Como sermos merecedores de amor do outro, se não recebemos nem o nosso próprio?
- Juízo de valor – Não existem sentimentos certos ou errados.
- Automatismos e complexos – O sentimento pode ser sustentado por mecanismos alheios à vontade e à intenção.
- Auto-amor é um aprendizado – Construir um novo olhar sobre si, desenvolver sentimentos elevados em relação a nós, constitui um longo caminho de experiências nas fieiras da educação.
Domínio de si – Educar sentimentos é tomar posse de nós próprios.
- Aceitação – Só existe amor a si através de uma relação pacífica com a sombra.
- Renovação do sistema de crenças – Superar os preconceitos. Julgamentos formulados a partir do sistema de crenças desenvolvidas com base na opinião alheia desde a infância.
- Ação no bem – Integração em projetos solidários. A aquisição de valor pessoal e convivência com a dor alheia trazem gratidão, estima pelas vivências pessoais. Cuidando bem de nós próprios, somos, simultaneamente, levados a estender ao próximo o tratamento que aplicamos a nós, independente de sermos amados, passamos a experimentar mais alegria em amar. A ética de amor a si deve estar afinada com o amor ao próximo.
-Assertividade – Diálogo interno. Uma negociação íntima para zelar pelos limites do interesse pessoal.
-Florescer a singularidade – O maior sinal de maturidade. Estamos muito afastados do que verdadeiramente somos.
Ter as rédeas de si mesmo – Para muitos o personalismo surge nesse ato de gerir a vida pessoal com independência. Pelo simples fato de não saberem como manifestar seus desejos e suas intenções, abdicam do controle íntimo e submetem-se ao controle externo de pessoas e normas.
-Construção da autonomia – Autonomia é capacidade de sustentar sentimentos nobres acerca de nós próprios.
- Identificação das intenções – aprender a reconhecer o que queremos, qual nossa busca na vida. Quase sempre somos treinados a saber o que não queremos.
Sentir-se bem consigo é sinônimo de felicidade, acesso à liberdade. É permitir que a centelha sagrada de Deus se acenda em nós. Conhecer a arte de manejar caracteres.
Portanto, a feliz colocação de Fénelon merece a nossa mais ardorosa atenção: O amor é essência divina e todos vós, do primeiro ao última, tendes, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado.
Não esqueçamos a recomendação de Lázaro: “ O Espírito precisa ser cultivado, como um campo. Toda a riqueza futura depende do labor atual, que vos granjeará muito mais do que bens terrenos:a elevação gloriosa.” ( O Evangelho Segundo o Espiritismo – capítulo XI – item 8)
Escutando sentimentos
WANDERLEY S. DE OLIVEIRA
Pelo Espírito ERMANCE DUFAUX
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