terça-feira, 30 de dezembro de 2014
A passagem
Jean Bazerque _______
Traduzido por Paulo A. Ferreira ________
O simples bom senso deveria ser suficiente para se compreender que, no organismo humano, o mau funcionamento de uma pequena engrenagem pode comprometer muitos sonhos. Mas escondemos a morte. Nós a temos sempre na mente porque ela se impõe independente de nós mesmos; mas nunca falamos dela. Outrora, fazia-se o sinal da cruz; hoje em dia, bate-se na madeira. Portanto, a despeito de se fazer isso ou não, quer o queiramos ou não, ela estará lá na sua hora. O homo-sapiens, diferentemente do animal, pensa, mas é tomado de cegueira quando se trata de ver o que é essencial; como se o essencial fosse justamente não pensar nisso! A que seria devida esta obstinação no desinteresse?____
É calúnia pretender que com sua pompa fúnebre, suas missas, seu cerimonial, a religião católica tenha contribuído em grande parte para a tristeza da perspectiva da última viagem. Diz-se que no tempo do cristianismo primitivo os enterros se efetuavam com acompanhamentos de cantos alegres, em cortejos de jovens vestidos de branco agitando palmas. Seria essa angústia do mistério da vida de além-túmulo, que não tem podido comover as religiões, o que aperta os corações das testemunhas na partida para a viagem aparentemente sem retorno?______
Não é essencial que o Espiritismo tenha trazido ao homem o conhecimento, pela intermediação dos médiuns, de uma parte das leis que regem a vida, a descrição do estado dos seres (entrantes e retirantes) após a grande partida?
O essencial é que o Espiritismo, procurando sob o véu, traz ao ser sofredor um clarão de esperança que dá a certeza da sobrevivência do ser querido.
NÃO! O ESSENCIAL NÃO ESTÁ NAQUILO QUE TU ÉS.
(conforme J.G.).
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A confiança na vida futura não exclui as apreensões provocadas pelo desconhecimento da passagem de uma vida à outra. A ciência e a religião são mudas nesse assunto porque lhes falta, a uma e outra, o conhecimento das leis que regem as relações do espírito e da matéria; uma se detém no limiar da vida material e a outra em fazer artigo de fé. O Espiritismo dá alguns passos a mais; pelas manifestações mediúnicas daqueles que deixaram a vida terrestre, permite uma visão mais completa da questão.
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A passagem para o lado de lá é diferente para cada indivíduo, em função de certas leis decorrentes das vidas anteriores e das leis da reencarnação, às quais os seres humanos estão submetidos. A grosso-modo as diversas situações tornaram-se conhecidas após a aurora do Espiritismo; é fácil tomar conhecimento do assunto nas obras de Allan Kardec, particularmente em "O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina" onde se encontram as descrições para toda sorte de situações.
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Para facilitar a compreensão da passagem do estado de encarnado (a vida terrestre) ao estado de desencarnado (a vida no lado de lá), nós decompusemos aqui o movimento esquematicamente em quatro fases sucessivas (os quatro pontos cardinais do espaço) que têm apenas um valor didático, porque de fato essas fases são variáveis segundo o grau de evolução espiritual de cada um.
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A primeira fase é a separação da alma do corpo físico.
A segunda fase é o estado de perturbação, de inconsciência, no qual a alma se encontra com muita freqüência, para não dizer sempre, após seu desligamento.
A terceira fase é o momento em que o espírito reconhece sua nova situação.
A quarta é o período mais penoso; freqüentemente o espírito tem uma visão exata do que se tinha imposto fazer ao longo de sua vida terrestre e do que fez em realidade. De uma maneira geral, este exame não lhe dá nenhuma satisfação, causando-lhe remorso e desejo de reparação.
Essas situações são perfeitamente conhecidas graças ao Espiritismo e aos livros de divulgação de Allan Kardec; pode-se dizer que a questão está ali perfeitamente tratada, assim não nos retardaremos a descrevê-las sobre o plano teórico, contentando-nos em publicar algumas manifestações espirituais relevantes no curso de nosso trabalho.
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A primeira fase da desencarnação, isto é a separação do espírito do corpo físico, malgrado o aspecto dramático que freqüentemente possui, é a fase menos penosa. Assim quando uma pessoa morre subitamente, em seguida a uma embolia, por exemplo, ouvimos esta reflexão: «Ela teve uma boa morte» porque não sofreu. Atendo-nos aos fatos, lembramos que a mãe de um dos irmãos do Grupo morreu subitamente em seguida a uma embolia e ele foi procurar a Irmã Maria Munoz, nossa fundadora, que ao ver o corpo lhe disse: "Ela não está mais aí", a separação da alma e do corpo foi efetivamente constatada pela médium vidente.
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Exemplos de visões da partida do espírito dos moribundos tem sido objeto de numerosas narrativas nos conhecidos livros espíritas de Ernesto Bozzano ou de Flammarion. Não acrescentaremos nada mais a isso.
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Eis o ponto de vista de Allan Kardec em seu livro "O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina" para o que é a primeira fase:
"A extinção da vida orgânica leva à separação da alma e do corpo pela ruptura dos laços fluídicos que os une; mas esta separação não é nunca brusca; o fluido perispiritual se desliga pouco a pouco de todos os órgãos de modo que a separação não está completa e absoluta senão quando não reste mais um só átomo do perispírito unido a uma molécula do corpo. A situação dolorosa que a alma experimenta nesse momento é em razão da soma dos pontos de contato que existem entre o corpo e o perispírito e da maior ou menor dificuldade e lentidão que apresenta a separação. Não é preciso então se dizer que, segundo as circunstâncias, a morte pode ser mais ou menos penosa”.
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Colocamos inicialmente, como princípio, as quatro circunstâncias seguintes, que podem ser observados como situações extremas, entre as quais há uma infinidade de nuances:
Se no momento da extinção da vida orgânica, o desligamento do perispírito estivesse completamente operado, a alma não sentiria absolutamente nada.
Se nesse momento a coesão dos dois elementos está em toda sua força.
Se a coesão for fraca, a separação é fácil e se opera sem abalo.
Se, após a cessação completa da vida orgânica, existisse ainda numerosos pontos de contato entre o corpo e o perispírito, a alma poderia sentir, até que os laços estivessem totalmente rompidos, os efeitos da decomposição do corpo e com mais forte razão as chamas em caso de incineração do corpo.
Do acima, resulta que o sofrimento que acompanha a morte está subordinado à força de aderência que une o corpo e o perispírito; que, para ajudar a diminuição dessa força e a rapidez do desligamento, tudo o que pode ser feito for operado sem nenhuma dificuldade, a alma não experimentará nenhuma sensação desagradável.
Na passagem da vida corporal à vida espiritual, produz-se ainda um outro fenômeno de importância capital; é o da perturbação.
Este ensinamento de Allan Kardec resulta de sua experiência mediúnica, das mensagens dos guias instrutores espirituais, de manifestações de espíritos no momento de seu desencarne e não, como o pretendiam certos detratores, de sua inteligência fértil. Temos a sublinhar que essas mensagens, como ele as teve, os grupos sérios continuam recebendo atualmente. A fonte não está seca.__
Não poderia deixar de ser dito que, quanto mais o espírito é evoluído espiritualmente ou elevado no plano moral, menos ele tem laços com seu corpo carnal e a separação se faz mais facilmente, sem choques e sem sofrimento. O caso mais rápido que conhecemos é aquele da partida de nossa fundadora, a irmã Maria Munoz; ela estava sentada sobre sua poltrona onde, impotente, passava seus dias, e deixou seu corpo escrevendo: « Viva a liberdade ». Evidentemente, ela se referia à liberdade espiritual. No retorno do enterro do corpo, os irmãos do grupo estavam reunidos na sua pequena barraca, ela tomou o médium falante e deu uma mensagem censurando inicialmente os irmãos lacrimosos por não haverem compreendido nada dos ensinamentos, pois que se lamentavam enquanto ela estava toda alegre de ser liberada desta prisão carnal que era seu corpo fatigado, e de se encontrar entre os irmãos espirituais que a acolheram no espaço. Ela tinha seguido o cortejo fúnebre andando ao lado de seus companheiros humanos e estava sabendo de tudo.__
Caso nos seja dado assistir à partida de irmãos no instante crucial, podemos ajudá-los dando passes fluídicos no corpo para facilitar o desligamento da alma. Uma prece, em tal momento, ajuda também a separação.
As preces podem ser encontradas no livro de Allan Kardec "O Evangelho segundo o Espiritismo" (cap. 28): ‘prevendo sua morte próxima’ (40), ‘por um agonizante’ (57), ‘por alguém que acaba de morrer’ (59 a 61). Nós as assinalamos não por convicção religiosa, mas por experiência. Conhecemos a força e a eficácia do pensamento. O defunto, mesmo estando invisível ainda que presente na câmara mortuária (os médiuns videntes o vêem inconscientes ou semiconscientes), na sua perturbação, capta os pensamentos das pessoas da assistência. Espíritos têm se comunicado dizendo ouvir os cantos da cerimônia religiosa ou as preces da missa, ainda que ignorem que são para eles.__________
Um filósofo disse que o sono é uma pequena morte.
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É certo que durante o sono, abandonando o corpo em repouso, nosso espírito percorre o espaço para efetuar um certo trabalho durante um tempo mais ou menos longo. Geralmente não temos consciência disso. Algumas vezes, na hora de acordar, o sonhador pode guardar a lembrança de sua atividade espiritual; esse fenômeno é provocado por seu guia visando sua informação. Vários membros do Grupo têm vivenciado esta experiência. O fato de ver seu próprio corpo esticado, inerte, sobre a cama, produz um pequeno choque quando não se está habituado, porque pensamos que se trata da grande partida.
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Eis aqui um exemplo:
Uma jovem médium estudante em meio católico se perguntava com certa angústia o que se pode sentir no momento da morte quando se tem medo desse evento. Seu guia espiritual provocou a seguinte experiência educativa, durante seu sono, que ela conta assim: "Estou estirada e experimento uma ânsia de vomitar em todas as partes de meu corpo: os cabelos, as unhas, os dedos, etc... e por três vezes alguma coisa me aspirou por toda parte. Na terceira aspiração alguma coisa se desligou e me encontrei de pé, meu corpo estando inerte diante de mim, aos meus pés. Penso: ”É isso a morte? A morte, não é ausência total de tudo“. Experimento a ânsia de partir e me volto para me afastar. Não vejo nada nem ninguém em torno de mim. Uma vontade superior à minha me ordena: "É preciso se reintegrar ao seu corpo". Recuso, mas esta vontade dominante se impõe. Sem saber como, encontro-me instantaneamente incorporada, com uma impressão muito forte de repugnância ao contato de meu corpo, desta carne. Recupero-me logo após."
Esta má impressão de repugnância continuou a ser sentida durante várias semanas após esta experiência.
De um outro ponto de vista, eis a descrição que fez uma testemunha espiritual da primeira fase de uma desencarnação à qual ele assistiu como espírito. A voz desconhecida que lhe deu explicações é a de seu guia espiritual. Esta narração é feita pela intermediação do médium falante em transe, irmão M.B.:
"Assisti um dia à partida de uma alma no momento em que ela deixava seu corpo. Ela formava um vapor claro que se desligava lentamente e que eu distinguia perfeitamente. Percebi em seguida algo como um gás, mais sombrio, menos nítido, quase invisível, que era atraído pelo vapor, mas que, entretanto, permanecia ligado ao corpo. À medida que o vapor se afastava do corpo, esse gás se esticava, se alongava, mantendo sempre contato com o corpo. O vapor, retido por esta espécie de laço elástico voltava então, depois tentava de novo se desligar. Cada vez que se afastava, o sujeito parecia sofrer. Percebia-se isso por suas crises e suas lágrimas. O vapor voltava então para o corpo endurecido, mas não podia retomar contato, separado dele pelo gás.
Observei esse fato com atenção perguntando-me o que isso significava até que o quadro mudou. O vapor, percebendo a presença de uma pessoa que ali se encontrava, se dilata, se desliga e por um fenômeno de condensação, toma a forma de um fantasma. Qual não foi minha surpresa ao reconhecer nela a mesma imagem daquela do corpo inanimado que permanecia estendido. O gás também estava se desunindo do corpo e envolvia agora o vapor saído do corpo inanimado que permanecia estendido com uma espécie de corda enlaçada.
Observei isso perplexo até que escutei uma voz desconhecida me dando a seguinte explicação:
"O vapor irá logo embora. O gás permanecerá enganchado durante algum tempo e depois desaparecerá por sua vez".
Efetivamente, pouco depois, o fantasma se afasta e desaparece, levando com ele o gás sombrio, e não resta mais que o corpo imóvel e sem vida.
Tinha guardado na minha memória a impressão da forma deste vapor. Ora, algum tempo após, veio a mim este mesmo vapor, sob o mesmo aspecto daquele sob o qual o havia visto. Reconheci-o imediatamente, e no mesmo instante percebo a matéria etérea que formava o gás se separar do vapor. Este se transforma aos nossos olhos, tomando logo a aparência de um homem que me dirige a palavra pela primeira vez nesses termos:
« Sinto-me atraído para você, não sei porque. Pode me indicar a razão? »
Eu mesmo ignorava esse fenômeno e sua causa, assim me era bem difícil dar-lhe a mínima explicação. Não sabendo o que responder, contei-lhe textualmente o que tinha visto quando ele deixou seu corpo material, omitindo todavia a repetição das palavras pronunciadas por não sei quem, que eu havia nitidamente percebido. Tive então a surpresa de ouví-lo me dar esta resposta:
« Enfim, sinto-me aliviado. Se bem que não tivesse visto ninguém, o som de sua voz me fez bem. Há longo tempo que vivo em isolamento completo. Queria, entretanto, que me dissesse porque sua voz me atraiu, e como posso ouvi-lo sem o ver. »
Estava desolado de não poder lhe dar a explicação desse fato que eu mesmo não compreendia. Queria lhe dar uma satisfação, a fim de apaziguar a tristeza que adivinhava nele, mas não sabia como me expressar. Escutei então a voz desconhecida me dizer:
« Faça um apelo à sua memória; lembre-se da cena que você assistiu enquanto deixava a existência. Faça uma comparação com o que você mesmo passou e poderá lhe dar a explicação que ele pede.
Não se deu conta da rapidez com a qual você se desloca? Como é que você pode fazer, quase que instantaneamente, tão longa viagem através o espaço? Jamais se fez esta pergunta? E acredita você que o som poderia atravessar o vazio, para além da atmosfera onde, entretanto, você consegue ir facilmente? Não! Além do mais o som não poderia te alcançar em seus deslocamentos vertiginosos. É então impossível à voz chegar até você, e se ouves pronunciar estas palavras, é uma falsa impressão. Em realidade, é o seu pensamento que percebe diretamente as radiações que um outro pensamento emite e você tem a impressão de ouvir. O pensamento é este vapor que você viu, é a alma mesmo, imaterial, imponderável, infinita, sem forma, que continua a viver e a trabalhar no espaço.
Quando ela deseja se manifestar a outros espíritos, ela se envolve de seu invólucro semimaterial e toma a forma que tinha no momento de sua desencarnação. A alma pode então, por intermédio de seu envelope perispiritual, emitir vibrações que traduzem seu pensamento e que outros espíritos poderão captar e compreender. É o porque de você ter visto por duas vezes o espírito que acabou de lhe falar tomando a forma humana; o fato havia lhe intrigado então, você agora conhece a razão.
Se a alma desejar se manifestar diretamente a um ser encarnado, ela se aproxima dele e atrai o pensamento desse ser; este, exteriorizando-se parcial ou totalmente, pode então captar as radiações do pensamento; ela tem então a sensação de ouvir uma voz, ainda que em realidade não haja nenhuma emissão de som. Durante esta exteriorização o corpo permanece animado por esse gás sombrio que você tem visto e que não o deixa. »
Foi assim que pude ter uma luz sobre os fatos que me haviam intrigado fortemente porque sempre tenho procurado raciocinar e compreender os fenômenos aos quais me é dado assistir.
Que a paz e o amor estejam sobre vocês meus irmãos!»
Os estados da alma no momento da passagem são muito diversos. São as manifestações mediúnicas provocadas pelos guias que nos fazem conhecê-los. Os críticos religiosos gostam de nos lembrar a Lei: "Deixai os mortos enterrarem os mortos"; A11an Kardec já respondeu a esta objeção; mas quando sabemos a eficácia da ajuda que levamos àqueles que nos deixam, quanto esta objeção nos parece pueril e a Lei mal compreendida e mal interpretada. Compreender a diferença que há entre «evocar » e «invocar » é então uma necessidade.
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Edição eletrônica original:
Centre spirite Lyonnais Allan Kardec
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69500 BRON
04-78-41-19-03
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Todos nós mormuramos
Lá em cima, outros problemas me atraem.
Para onde vão esses mundos inumeráveis? Em virtude de que forças se movem, se procuram no seio do insondável abismo? Sempre, no fundo de tudo, surge o pensamento de Deus, energia eterna, eterno amor! A mão que dirige os astros na extensão, escreveu ali um nome, em letras de fogo! Todos esses mundos conhecem seu trilho, sua missão sagrada; prosseguem infalivelmente. Sabem que representam um papel no plano divino, e a este se associam estreitamente.
Todo o segredo da Natureza está nisso. Os mares, as florestas e as montanhas não dizem outra coisa.
A Via-Láctea, que desenrola através do Espaço sua poeira de mundos; os cedros gigantescos, que estendem seus longos ramos acima dos precipícios; a flor, que se expande aos beijos do Sol; tudo nos murmura: É a Ele que devemos o ser; é por Ele que vivemos e morremos!
domingo, 23 de novembro de 2014
Esquecimento e reencarnação
"Aos poucos o Espírito reencarnado retoma a herança de si mesmo, reencontrando as pessoas e as circunstâncias, as simpatias e as aversões, as vantagens e dificuldades com as quais se ache afinizado ou comprometido..."
Examinando o esquecimento temporário do pretérito, no campo físico, importa considerar cada existência por estágio de serviço em que a alma readquire, no mundo, o aprendizado que lhe compete.
Surgindo semelhante período, entre o berço que lhe configura o início e o túmulo que lhe demarca a cessação, é justo aceitar-lhe o caráter acidental, não obstante se lhe reconheça a vinculação à vida eterna.
É forçoso, então, ponderar o impositivo de recurso e aproveitamento, tanto quanto, nas aplicações da força elétrica, é preciso atender ao problema de caráter e condução.
Encetando uma nova existência corpórea, para determinado efeito, a criatura recebe, desse modo, implementos cerebrais completamente novos, no domínio das energias físicas,e, para que se lhe adormeça a memória, funciona a hipnose natural como recurso básico, de vez que, em muitas ocasiões, dorme em pesada letargia, muito tempo antes de acolher-se ao abrigo materno. Na melhor das hipóteses, quando desfruta grande atividade mental nas esferas superiores, só é compelido ao sono, relativamente profundo, enquanto perdure a vida fetal. Em ambos os casos, há prostração psíquica nos primeiros sete anos de tenra instrumentação fisiológica dos encarnados, tempo em que se lhes reaviva a experiência terrestre.
Temos, ainda, mais ou menos três mil dias de sono induzido ou hipnose terapêutica, a estabelecerem enormes alterações nos veículos de exteriorização do Espírito, as quais, acrescidas às conseqüências dos fenômenos naturais de restringimento do corpo espiritual, no refúgio uterino, motivam o entorpecimento das recordações do passado, par que se avalie a mente na direção de novas conquistas. E, como todo esse tempo é ocupado em prover-se a criança de novos conceitos e pensamentos acerca de si própria, é compreensível que a criatura desperte na adolescência como alguém que fosse longamente hipnotizado para fins edificantes, acordando, gradativamente, na situação transformada em que a vida lhe propõe a continuidade do serviço devido à regeneração ou à evolução clara e simples.
E isso, na essência, é o que verdadeiramente acontece, porque, pouco a pouco, o Espírito reencarnado retoma a herança de si mesmo, na estrutura psicológica do destino, reavendo o patrimônio das realizações e das dívidas que acumulou, a se lhe regravarem no ser, em forma de tendências inatas, e reencontrando as pessoas e as circunstâncias, as simpatias e as aversões, as vantagens e dificuldades, com as quais se ache afinizado ou comprometido.
Transfigurou-se, então, a ribalta, mas a peça contínua.
A moldura social ou doméstica, muitas vezes, é diferente, mas, no quadro de trabalho e da luta, a consciência é a mesma, com a obrigação de aprimorar-se ante a bênção de Deus, para a luz da imortalidade.
(Do livro "Religião dos Espíritos", 45, pelo Espírito Emmanuel, Francisco C. Xavier)________________________________________________________
Dívida de amor
Emmanuel
Francisco Cândido Xavier
"Portanto, dai a cada um o que deveis; a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra." - Paulo. (Romanos, 13:7.)
Todos nós guardamos a dívida geral de amor uns para com os outros, mas esse amor e esse débito se subdividem, através de inúmeras manifestações.
A cada ser, a cada coisa, paisagem, circunstância e situação, devemos algo de amor em expressão diferente.
A criatura que desconhece semelhante impositivo não encontrou ainda a verdadeira noção de equilíbrio espiritual.
Valiosas oportunidades iluminativas são relegadas, pelas almas invigilantes, à obscuridade e à perturbação.
Que prodigioso Éden seria a Terra se cada homem concedesse ao próximo o que lhe deve por justiça! O homem comum, todavia, gravitando em torno do próprio "eu", em clima de egoísmo feroz, cerra os olhos às necessidades dos outros.
Esquece-se de que respira no oxigênio do mundo, que se alimenta do mundo e dele recebe o material imprescindível ao aperfeiçoamento e à redenção.
A qualquer exigência do campo externo, agasta-se e irritar-se, acreditando-se o credor de todos.
Muitos sabem receber, raros sabem dar.
Por que esquivar-se alguém aos petitórios do fragmento de terra que nos acolhe o espírito? por que negar respeito ao que comanda, ou atenção ao que necessita? Resgata os títulos de amor que te prendem a todos os seres e coisas do caminho.
Quanto maior a compreensão de um homem, mais alto é o débito dele para com a Humanidade; quanto mais sábio, mais rico para satisfazer aos impositivos de cooperação no progresso universal.
Não te iludas.
Deves sempre alguma coisa ao companheiro de luta, tanto quanto à estrada que pisas despreocupadamente.
E quando resgatares as tuas obrigações, caminharás na Terra recebendo o amor e a recompensa de todos.
(Do livro “Vinha de Luz”, Emmanuel, Francisco Cândido Xavier)_________________________________________________________________________________
sábado, 18 de outubro de 2014
O Universo inteiro está submetido à lei da solidariedade
Todos os seres estão ligados uns aos outros e se influenciam reciprocamente: O Universo inteiro está submetido à lei da solidariedade. Os mundos nas profundezas do éter, os astros que, a milhares de léguas de distância, entrecruzam seus raios de prata, conhecem-se, chamam-se e respondem-se. Uma força, que denominamos atração, os reúne através dos abismos do Espaço.
De igual maneira, na escala da vida, todas as Almas estão unidas por múltiplas relações. A solidariedade que as liga funda-se em identidade de sua natureza, na igualdade de seus sofrimentos através dos tempos, na similitude de seus destinos e de seus fins.
A exemplo dos astros dos céus, todas essas Almas se atraem. A Matéria exerce sobre o Espírito seus poderes misteriosos. Qual Prometeu sobre sua rocha, ela o encadeia aos mundos obscuros. A Alma humana sente todas as atrações da vida inferior; ao mesmo tempo percebe os chamados do Alto.
Nessa penosa e laboriosa evolução que arrasta os seres, há um fato consolador sobre o qual é bom insistir: em todos os graus de sua ascensão, a Alma é atraída, auxiliada, socorrida pelas entidades superiores. Todos os Espíritos em marcha são auxiliados por seus irmãos mais adiantados e devem auxiliar, por sua vez, todos os que lhes estão abaixo.
Cada individualidade forma um anel da grande cadeia dos seres. A solidariedade que os liga pode muito bem restringir um tanto a liberdade de cada um; mas, se esta liberdade é limitada em extensão, não o é na intensidade.
Por mais limitada que seja a ação do anel, um só de seus impulsos pode limitar toda a cadeia.
É maravilhosa essa fecundação constante do mundo inferior pelo mundo superior. Daí vêm todas as intuições geniais, as inspirações profundas, as revelações grandiosas. Em todos os tempos, o pensamento elevado irradiou no cérebro humano. Deus, em sua eqüidade, nunca recusou seu socorro nem sua luz a raça alguma, a povo algum. A todos tem enviado guias, missionários, profetas. A verdade é uma e eterna; ela penetra na Humanidade por irradiações sucessivas, à medida que nosso entendimento se torna mais apto para assimilá-la.
Cada revelação nova é continuação da antiga. É este o caráter do Espiritualismo moderno, que traz um ensino, um conhecimento mais completo do papel do ser humano, uma revelação dos poderes recônditos que ele possui e também de suas relações íntimas com o pensamento superior e divino.
O homem, Espírito encarnado, tinha esquecido seu verdadeiro papel. Sepultado na matéria, perdia de vista os grandes horizontes de seu destino; desprezava os meios de desenvolver seus recursos latentes, de se tornar mais feliz, tornando-se melhor. A revelação nova lhe vem lembrar todas essas coisas. Vem despertar as Almas adormecidas, estimular sua marcha, provocar sua elevação. Ela ilumina os recônditos obscuros do nosso ser, diz nossas origens e nossos fins, explica o passado pelo presente e abre um porvir que temos a liberdade de tornar grande ou miserável, segundo nossos atos.________________________________________Leon Denis em O Grande Enigma.
domingo, 28 de setembro de 2014
Os Espíritos e Médiuns por Léon Denis
Depois de haver mostrado o grande papel da mediunidade, convém assinalar as dificuldades que existem em sua aplicação. Em primeiro lugar são escassos os bons médiuns, não porque lhes faltam faculdades notáveis, mas por ficarem logo sem utilidade prática por falta de estudos sérios e profundos.
Muitos médiuns se escondem nos círculos íntimos, nas reuniões familiares, ao abrigo das exigências exageradas e dos contatos desagradáveis.
Quantas jovens de organismo delicado, quantas senhoras que conhecemos, retraídas pelo temor à crítica e às más línguas, afogam e perdem bonitas faculdades medianímicas por não empregá-las bem, com uma boa direção!
Os adversários do Espiritismo sempre se dedicaram a denegrir médiuns, acusando-os de fraude, procurando fazê-los passar por neuróticos e tratando, por todos os meios, de desviá-los de sua missão; sabendo que o médium é condição essencial dos fenômenos, esperam, desse modo, destruir o Espiritismo em seu alicerce.
É importante que façamos fracassar essa tática e, para isso, temos de dar ânimo e ajuda aos médiuns, rodeando o exercício de suas faculdades de todas as precauções necessárias.
A guerra ceifou milhões de vidas em plena juventude e virilidade. As epidemias, os açoites de todas as classes, deixaram enormes vazios no seio das famílias. Todos esses espíritos tratam de se manifestar àqueles a quem amaram na Terra, para provar-lhes seu afeto, sua ternura, para secar suas lágrimas, para acalmar suas dores.
Por outra parte, as mães, as viúvas, as noivas, os órfãos, todos estendem suas mãos e seus pensamentos para o céu, na angustiosa espera de notícias de seus mortos, ávidos de recolher provas de sua presença, testemunhos de sua sobrevivência.
Quase todos possuem faculdades latentes e ignoradas que poderiam permitir-lhes estabelecer relações com seus mortos.
Por todas as partes existem possibilidades de se estabelecer um elo entre essas duas multidões de seres que se buscam, se atraem e desejam fundir seus sentimentos e seus corações em uma comum harmonia.
O Espiritismo e a mediunidade são os únicos que podem realizar essa doce e santa comunhão e trazer, a todos, a paz, a serenidade da alma que dá fortaleza e convicção.
É sobretudo entre essas vítimas da guerra cruel, no seio do povo, entre os humildes, os pequenos, os modestos, que se há de buscar os recursos psíquicos que permitam aos nossos amigos do espaço proporcionar-nos provas da persistência de sua vitalidade e da nossa reunião futura.
Quantas faculdades dormem silenciosamente no fundo desses seres, esperando a hora de florescer, de produzir frutos de verdade e de beleza moral!
Neste aspecto, grande é a tarefa que cabe aos espíritos esclarecidos, aos abnegados crentes, aos apóstolos da grande doutrina.
Seu dever é sacudir a indiferença de uns, a apatia de outros, ir ao encontro de todos esses agentes obscuros da obra de renovação, instruí-los, pôr em ação os recursos escondidos, as riquezas insuspeitadas que possuem e conduzi-los ao fim assinalado.
Para cumprir essa tarefa, há que se possuir ciência e fé. Graças a esta última, e por análogos procedimentos, os apóstolos dos primeiros tempos do Cristianismo suscitaram ao seu redor “os milagres” e, com eles, o entusiasmo religioso que devia transformar a face do globo.
Em nossos dias, é necessário não somente a fé ardente, mas também o conhecimento das leis precisas que regem os mundos visível e invisível com o fim de facilitar sua harmonia, sua recíproca interpretação, separando da experimentação os elementos de erros, de perturbação e de confusão.
Com um adestramento gradual, veremos ampliar-se o círculo das percepções e das sensações psíquicas, e ficará evidenciada a mais imponente certeza da perenidade do princípio vital que nos anima.
A alma humana aprenderá a conhecer as sombras e os esplendores do Mais-Além e, neste conhecimento, achará uma trégua para suas dores e um manancial de força na desgraça em frente à morte.
Natureza da Mediunidade
Chama-se mediunidade, o conjunto de faculdades que permitem ao ser humano comunicar-se com o Mundo Invisível.
O médium desfruta, por antecipação, dos meios de percepção e de sensação que pertencem mais à vida do espírito que à do homem, por isso tem o privilégio de servir de traço de união entre eles.
Temos que ver nesse estado o resultado da lei de evolução e não um efeito regressivo, uma tara, como crêem certos fisiologistas, que comparam os médiuns a histéricos e enfermos.
Esse equívoco provém do fato de a grande sensibilidade e a impressionabilidade de certos médiuns provocar em seu organismo físico perturbações sensoriais e nervosas; mas esses casos são exceções, que seria errado generalizar, porque a maioria dos médiuns possui boa saúde e um perfeito equilíbrio mental.
Toda extensão das percepções da alma é uma preparação para uma vida mais ampla e mais elevada, uma saída aberta a um horizonte mais vasto. Sob este ponto de vista, as mediunidades, em conjunto, representam uma fase transitória entre a vida terrestre e a vida livre do espaço.
O primeiro fenômeno desse gênero, que chamou a atenção dos homens, foi o da visão. Por ela se revelaram, desde a origem dos tempos, a existência do mundo do Além e a intervenção, entre nós, das almas dos mortos. Estas manifestações, ao se repetirem, deram nascimento ao culto dos espíritos, ponto de partida e base de todas as religiões. Depois, as relações entre os habitantes da Terra e do Espaço se estabeleceram das mais diversas e variadas formas, que se foram desenvolvendo através dos tempos, sob diferentes nomes, mas todas partem de um único princípio.
Por meio da mediunidade sempre existiu um laço entre ambos os mundos, uma via traçada pela qual a alma humana recebia revelações, gradualmente mais elevadas, acerca do bem e do dever, luzes cada vez mais vivas sobre seus destinos imortais.
Os grandes espíritos, por motivo de sua evolução, adquirem conhecimentos progressivamente mais amplos e se convertem em instrutores, em guias dos humanos cativos na matéria.
A autoridade e o prestígio de seus ensinamentos ficam realçados ainda mais pelas profecias, pelas previsões que os precedem ou os acompanham.
Em outra parte estudamos, detalhadamente, os diferentes gêneros de mediunidade e os fenômenos que produzem.
Então pode-se ver como se estabeleceu a comunicação dos vivos e dos mortos; como se constitui essa fronteira ideal onde as duas humanidades, uma visível e a outra invisível, entram em contato; como, graças a essa penetração, se estende e se esclarece nosso conhecimento da vida futura, a noção que possuímos das leis morais que a regem, com todas as suas conseqüências e suas sanções.
Por todos os procedimentos medianímicos, os espíritos superiores se esforçam em trazer a alma humana das profundidades da matéria para as altas e sublimes verdades que regem o Universo, para que se revistam dos altos fins da vida e encarem a morte sem terror, para que aprendam a desprender-se dos bens passageiros da Terra e prefiram os bens imperecíveis do espírito.
A alma não pode achar harmonia senão no conhecimento e na prática do bem, e somente dessa harmonia é que flui, para ela, a felicidade.
Aos espíritos superiores se unem as almas amigas dos parentes mortos, cuja solicitude continua estendendo-se sobre nós, assistindo-nos em nossas dolorosas lutas contra a adversidade e contra o mal.
Assim, a mediunidade bem exercida se converte em um manancial de luzes e consolos. Por seu intermédio, as vozes do Alto nos dizem:
“Escutai nossas chamadas; vós que buscais e chorais não estais abandonados... Temos sofrido para lograr estabelecer um meio de comunicação entre o vosso mundo esquecido e o nosso mundo de recordações.
A mediunidade já não se verá enxovalhada, menosprezada, maldita, porque os homens já não poderão desconhecê-la. Ela é o único laço possível entre os vivos e nós, a quem nos chamam mortos.
Esperai, não deixaremos fechar-se a porta que temos entreaberta para que, em meio às vossas dúvidas e vossas inquietudes, possais entrever as claridades celestes.”__________________________________________________________Léon Denis em Os Espíritos e Médiuns
domingo, 21 de setembro de 2014
O pensamento da morte
Muitas vezes, nos momentos críticos, o pensamento da morte vem visitar-nos. Não é repreensível o solicitar a morte; ela, porém, só é realmente desejável quando se triunfa de todas as paixões. Para que desejar a morte, quando, não estando ainda curados os nossos vícios, precisamos novamente voltar para nos purificarmos em penosas encarnações? Nossas faltas são como túnica de Nesso apegada ao nosso ser, e de que somente nos poderemos desembaraçar pelo arrependimento e pela expiação.
A dor reina sempre como soberana sobre o mundo; todavia, um exame atento mostra-nos com que sabedoria e previdência a vontade divina regulou os seus efeitos. Gradativamente, a Natureza encaminha-se para uma ordem de coisas menos terrível, menos violenta. Nas primeiras idades do nosso planeta, a dor era a única escola, o único aguilhão para os seres. Mas, pouco a pouco, atenua-se o sofrimento; males medonhos – a peste, a lepra, a fome – desaparecem. Já os tempos em que vivemos são menos ásperos do que os do passado. O homem domou os elementos, reduziu as distâncias, conquistou a Terra. A escravidão não mais existe. Tudo evolve, tudo progride. Lentamente, mas com segurança, o mundo e a própria Natureza aprimoram-se. Tenhamos confiança na potência diretora do Universo. Nosso espírito acanhado não poderia julgar o conjunto dos meios de que ela se serve. Só Deus tem noção exata dessa cadência rítmica, dessa alternativa necessária da vida e da morte, da noite e do dia, da alegria e da dor, de que se destacam, finalmente, a felicidade e o aperfeiçoamento das suas criaturas. Deixemos-lhe, pois, o cuidado de fixar a hora da nossa partida e esperemo-la sem desejá-la e sem temê-la.
____________________________________Léon Denis em O Caminho Reto________________________________________
domingo, 31 de agosto de 2014
Evangelização Espírita e a “Febre das Almas Gêmeas”
Em 1981, procuramos correlacionar vacinação infantil com evangelização. Recebemos críticas. Alguns não concordavam com o termo “evangelização”.
Pensando na criança, raciocinei que isso não lhe afetaria o estímulo imunogênico em se tratando de resposta de sistema específico. Não perdemos tempo discutindo a questão.
Naquela oportunidade afirmamos, sem medo de críticas, que “A criança evangelizada seria o homem vacinado do futuro e mesmo diante de um mundo imediatista e atribulado responderia favoravelmente à atmosfera estressante das grandes metrópoles.” ( 1 )
Comentamos ainda que “a criança vacinada, mesmo que possa sofrer o processo de agressão microbiana e ficar doente, dispõe de resistência que acarreta quadro clínico mais brando e cura em tempo menor.”
Vinte anos depois (2001), já aposentado, diante de um caso clínico no Hospital Universitário, pude observar que uma pessoa vacinada pode realmente adoecer, mas resistir e se curar (2). A paciente iniciou o episódio imediatamente após participação em uma reunião com profissionais europeus durante cinco dias consecutivos, no Rio de Janeiro. Ela declarou ter sido submetida ao esquema completo de imunização na infância e a doses de reforço dois anos antes da doença. Na era da vacinação, indivíduos adultos podem ainda apresentar-se potencialmente susceptíveis a doença.
Vou abusar da analogia lembrando um caso dito de “almas gêmeas”.
Testemunhei “quadro clínico” onde o paciente reencontra amor de vida passada. Toda aquela paixão vivenciada anteriormente se lhe aflora. Um verdadeiro vazamento do passado no presente.
O paciente, dirigente de Casa Espírita, havia sido apresentado aos ensinamentos de Jesus (“evangelizado” – defesa de dentro para fora).
Diante da paixão revivida o sistema de defesa “espiritual” é acionado e se estabelece a “guerra psico-imunológica”. Em alguns casos é necessário reforço de fora para dentro, como antibióticos e soroterapia (desobsessão).
Na era da evangelização, indivíduos espíritas adultos podem ainda apresentar-se potencialmente susceptíveis a epidemia de “febre das almas gêmeas”.
Com a escala de valores modificada na infância, pelo processo de evangelização, o paciente resiste e, aos poucos, a idéia de abandonar a mulher e os filhos e se jogar na nova (velha) empreitada foi sendo debelada, até que finalmente, caindo em si, a febre desaparece.
No artigo de 1981, terminamos comentando que “estabelecer um serviço de imunização infantil eficaz e permanente é, para qualquer país, dar um passo adiante no sentido do desenvolvimento social e econômico; estabelecer-se uma campanha nacional permanente de evangelização infanto-juvenil é anunciar a era nova. É lançar as bases para que o país venha a assumir o seu destino de coração do mundo, verdadeiro celeiro de amor. “
Quando escrevi este artigo (1) meus filhos, quatro, passavam pelo processo de evangelização na Casa Espírita. Hoje estão casados e com filhos. Creio que a amostragem é pequena, o exemplo não é adequado, mas a observação foi feita “in loco” . Seus comportamentos apontam na direção do “homem de bem” e estão conseguindo vencer suas “febres”. Não sei se assim seria se não fosse a ação evangelizadora que vivenciaram. Ela é responsabilidade dos pais. O Centro Espírita é adjuvante. “Quando a gente ama é claro que a gente cuida”. Orai e vigiai, afinal, quem não tem a sua “alma gêmea”!--------------------------------------------------------
Fonte – http://orebate-jorgehessen.blogspot.com/2011/03/evangelizacao-espirita-e-febre-das.html
Renovação
Desligando-me dos laços Inferiores que me prendiam às atividades terrestres, elevado entendi¬mento felicitou-me o espírito.
Semelhante libertação, contudo, não se fizera espontânea.
Sabia, no fundo, quanto me custara abandonar a paisagem doméstica, suportar a incompreensão da esposa e a divergência dos filhos amados.
Guardava a certeza de que amigos espirituais, abnegados e poderosos, me haviam auxiliado a alma pobre e imperfeita, na grande transição.
Antes, a inquietude relativa à companheira torturava-me incessantemente o coração; mas, agora, vendo-a profundamente identificada com o segundo marido, não via recurso outro que procurar diferentes motivos de interesse.
Foi assim que, eminentemente surpreendido, observei minha própria transformação, no curso dos acontecimentos.
Experimentava o júbilo da descoberta de mim mesmo. Dantes, vivia à feição do caramujo, segregado na concha, impermeável aos grandiosos espetáculos da Natureza, rastejando no lodo. Agora, entretanto, convencia-me de que a dor agira em minha construção mental, à maneira do alvião pesado, cujos golpes eu não entendera de pronto. O alvião quebrara a concha de antigas viciações do sentimento. Libertara-me. Expusera-me o organismo espiritual ao sol da Bondade Infinita. E comecei a ver mais alto, alcançando longa distância.
Pela primeira vez, cataloguei adversários na categoria de benfeitores. Comecei a frequentar, de novo, o ninho da família terrestre, não mais como senhor do círculo doméstico, mas como operário que ama o trabalho da oficina que a vida lhe de¬signou. Não mais procurei, na esposa do mundo, a companheira que não pudera compreender-me e abu a irmã a quem deveria auxiliar, quanto estivesse em minhas forças. Abstive-me de encarar o segundo marido como intruso que modificara meus propósitos, para ver apenas o irmão que necessitava o concurso de minhas experiências. Não voltei a considerar os filhos propriedade minha e sim companheiros muito caros, aos quais me competia estender os benefícios do conhecimento novo, am¬parando-os espiritualmente na medida de minhas possibilidades.
Compelido a destruir meus castelos de exclusivismo injusto, senti que outro amor se instalava em minhalma.
Órfão de afetos terrenos e conformado com os desígnios superiores que me haviam traçado diverso rumo ao destino, comecei a ouvir o apelo pro¬fundo e divino, da Consciência Universal.
Somente agora, percebia quão distanciado vi¬vera das leis sublimes que regem a evolução das criaturas.
A Natureza recebia-me com transportes de amor. Suas vozes, agora, eram muito mais altas que as dos meus interesses isolados. Conquistava, pouco a pouco, o júbilo de escutar-lhe os ensinamentos misteriosos no grande silêncio das coisas. Os elementos mais simples adquiriam, a meus olhos, extraordinária significação. A colônia espiritual, que me abrigara generosamente, revelava novas expressões de indefinível beleza. O rumor das asas de um pássaro, o sussurro do vento e a luz do Sol pareciam dirigir-se à minhalma, enchendo-me o pensamento de prodigiosa harmonia.
A vida espiritual, inexprimível e bela, abrira-me os pórticos resplandecentes. Até então, vivera em “Nosso Lar” como hóspede enfermo de um palácio brilhante, tão extremamente preocupado comigo mesmo, que me tornara incapaz de anotar deslumbramentos e maravilhas.
A conversação espiritualizante tornara-se-me indispensável.
Aprazia-me, antigamente, torturar a própria alma com as reminiscências da Terra. Estimava as narrativas dramáticas de certos companheiros de luta, lembrando o meu caso pessoal e embriagando-me nas perspectivas de me agarrar, novamente, à parentela do mundo, valendo-me de laços inferiores. Mas agora... perdera totalmente a paixão pelos assuntos de ordem menos digna. As próprias descrições dos enfermos, nas Câmaras de Retificação, figuravam-se-me desprovidas de maior interesse. Não mais desejava informar-me da procedência dos infelizes, não indagava de suas aventuras nas zonas mais baixas. Buscava irmãos necessita¬dos. Desejava saber em que lhes poderia ser útil. ---------------------------------------------------------------------------Os Mensageiros _ Francisco Cândido Xavier, ditado pelo espírito André Luiz
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Vem nos Trazer à luz...
Bendito seja oh ventre ...
Que me acolhe em vida...
Em chance Fraterna...
Mãe doce mão amiga...
Embalar meus passos...
Que frutifiquem em luz...
Numa família os passos...
Qual nos ensinou Jesus...
O gestar em esperança...
Um sonho compartilhado...
Nos passos de criança...
Um caminho planejado...
Num braço apoio seguro...
De um Pai exemplo forte...
Oh libertar assim procuro...
Em lições que confortem...
Caminho Fraterno em idade...
Vividos em longos dias..
Nos faz nascer em caridade...
Irmãos Pais Mães nossa família...
_______________________________________________________________
Frei João Davi.______________ . por Fernando Magalhães
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Homossexualismo e espiritismo
O escritor espírita Hermínio Corrêa Miranda nos diz que "às vezes ficamos a desejar que os espíritos tivessem sido mais explícitos, ampliando suas exposições, especialmente em assuntos mais complexos e obscuros ao nosso entendimento". Homossexualismo é um desses assuntos.
No afã de avançar considerações a respeito do tema, não raras vezes lemos autores bem intencionados interpretando os ensinamentos dos Espíritos Superiores de acordo com a conveniência. Tanto isso ocorre para a crítica negativa quanto para fazer luz em relação ao homossexualismo.
Segundo esclarecem os Espíritos Superiores, o espírito não possui sexo. Pelo menos não como entendemos (é o que respondem no item 200 de O Livro dos Espíritos). E afirma Kardec em outro ponto: "(...) os sexos só existem no organismo. São necessários à reprodução dos seres materiais. Mas os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão por que os sexos seriam inúteis no mundo espiritual." (Revista Espírita, junho de 1862)
Para que a evolução e o desenvolvimento do Espírito ocorram em plenitude, necessário se faz que o espírito tenha experiências reencarnando ora no sexo feminino, ora no sexo masculino.
As experiências vividas durante longo tempo em um corpo masculino ou feminino podem explicar (mas não se limitam apenas a esse entendimento) o que alguns pesquisadores têm encontrado: homens com lado feminino e mulheres com lado masculino mais aflorado. Quando citamos "lados aflorados" dizemos no sentido da sensibilidade. O Espírito no corpo feminino é preparado para a missão mais sublime que é a maternidade. A conformação do corpo físico é o reflexo da necessidade do espírito para conseguir sentir e perceber a grandeza desta missão (ser mãe). O mesmo espírito que um dia foi um pai de família retorna em outra existência com a missão de ser mãe. As experiências ficam registradas no psiquismo.
Quer dizer então que o homossexual é aquele que durante muitas encarnações optou por um gênero e ao reencarnar em outro ele ainda traz as tendências das experiências vividas no outro sexo? Não é só essa a definição. Aliás, a definição está "em construção". Nenhum estudo é conclusivo quanto ao homossexualismo. Conclui-se, na literatura examinada, que existe muito preconceito, inclusive na literatura espírita. No caso das reencarnações, estas explicariam em parte aquilo que seriam os conflitos vivenciados por alguns diante do contexto da homossexualidade, no entanto nem todos têm conflito.
O Espiritismo não trata quem quer que seja com preconceito. Pelo contrário: existe ainda preconceito com relação ao Espiritismo e cabe aos profitentes esclarecer à medida do possível e com bom senso.
Pesquisas realizadas pelo Dr. Jorge Andrea (autor do livro Forças sexuais da alma, editado pela FEB) apontam que todo humano traz energias sexuais masculinas e femininas em sua intimidade. Nesse sentido ainda encontramos Emmanuel discorrendo sobre a bissexualidade em Vida e sexo: "A vida espiritual pura e simples se rege por afinidades eletivas essenciais; no entanto, através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas. O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente masculino ou acentuadamente feminina, sem especificações psicológicas absolutas."
Andrei Moreira, em seu recente livro Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal, encontrou na literatura espírita cinco possíveis motivadores para explicar essa experiência evolutiva (homossexualidade):
1) consequência natural do reflexo mental e emocional na vivência no mesmo sexo por muitas encarnações;
2) condição facilitadora da execução da missão espiritual;
3) situação provacional e expiacional decorrente do abuso das faculdades genésicas e do sentimento alheio;
4) reflexo mental condicionado decorrente de situações obsessivas;
5) condição reativa decorrente de processo educacional atual e/ou de traumas infantoadolescentes.
O preconceito em torno do tema ainda é o mais delicado.
O que fazemos com as forças sexuais da alma pode nos libertar ou aprisionar. Para nos libertar é necessário educação e disciplina ao entender os impulsos, tendências e desejos. O aprisionamento é fruto do uso desregrado dessas forças acarretando compromissos afetivos que podem durar muitas reencarnações. Istso ocorre independentemente da opção afetivo-sexual.
Em capítulo dedicado à "Lei de Reprodução" em O Livro dos Espíritos, os Espíritos Superiores respondem a Allan Kardec sobre diversos temas. Falam sobre a população do globo, sucessão e aperfeiçoamento das raças, obstáculos à reprodução, casamento e celibato, poligamia. No entanto, nas obras de Kardec não há capítulo específico falando sobre o tema homossexualidade.
Ainda assim, o que encontramos na literatura espírita é suficiente para inferirmos que o assunto ainda apresentará novos conceitos e contornos que gravitarão sobre a mesma problemática: esclarecer para se respeitar. Nesse esforço de tentar esclarecer novas polêmicas serão formadas e a chance de novas definições também. Ressaltamos que as discussões de "ideias" são sempre válidas.
Vivemos em sociedade com o objetivo de evoluir. Allan Kardec comenta no item 768 de O Livro dos Espíritos: "Homem nenhum possui faculdades completas. Mediante a união social é que elas umas às outras se completam, para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso. Por isso é que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos para viver em sociedade e não insulados." Em outras palavras: não somos donos da verdade. Temos a oportunidade pelo estudo e o conhecimento doutrinário de obtermos respostas a muitos questionamentos. Precisamos fazer as perguntas certas...
Tratemos todo assunto com o respeito que merece. Nem mais, nem menos.
Aos espíritas cabe ainda outra reflexão: lidemos com as diferenças de opinião com serenidade, sabedoria e o coração voltado para o Mais Alto. Preparemo-nos ainda mais para compreendermos, aprimorando o dom de ouvir, e permitamos que haja espontaneidade da parte daqueles que nos procuram, seja no atendimento fraterno ou nos corredores das casas espíritas. Que a fraternidade nos embale!
Caminhemos sem fechar questão, abertos ao aprendizado, mas com a certeza comum de que, em se tratando de sexo, o entendimento, o domínio das emoções e o esclarecimento formam forças poderosas em favor de todos._______________________________________________________________________________________________________
Fonte:http://www.feig.org.br/index.php/ddivulgacao/estudos-e-artigos/196-homossexualismo-e-espiritismo-reflexao
terça-feira, 12 de agosto de 2014
Biografia de Timóteo
Junto ao espírito Erasto, ele disserta no item 225 de O livro dos médiuns, acerca do papel do médium nas comunicações.
Dá-nos "Atos dos Apóstolos" a informação de que ele era filho de uma mulher judia e de pai gentio. Na obra psicografada por Francisco Cândido Xavier, "Paulo e Estevão", contudo, o espírito Emmanuel é pródigo em detalhes a respeito desse a quem Paulo de Tarso chamava de "amado filho na fé". 2
Quando Paulo chegou a Listra foi à casa de Lóide, recomendado pelo irmão daquela, que residia em Icônio. Viúva de um grego abastado, ela vivia em companhia de sua filha Eunice, também viúva e o neto adolescente de 13 anos.
Recebidos Paulo e Barnabé, com inexcedível carinho, em casa de Lóide, naquela mesma noite o apóstolo tarsense pôde observar a ternura com que o rapazola fazia a leitura dos pergaminhos da Lei de Moisés e dos Livros Sagrados dos Profetas. Ao ouvir falar a respeito de Jesus, Timóteo, inteligente e de generosos sentimentos, demonstrou grande interesse, o que levou Paulo a acariciar-lhe a fronte pensativa, várias vezes.
No dia seguinte, o rapaz passou a fazer inúmeras interrogações e, enquanto ele cuidava das cabras, Paulo aproveitou para conversar longamente a respeito da Boa Nova de que era portador. Alguns dias depois, Paulo fundou na cidade o primeiro núcleo do Cristianismo, em humilde casa. O pequeno Timóteo era quem auxiliava em todos os misteres, na recepção dos enfermos e demais necessitados, na ordem, na disciplina.
Em uma das pregações públicas, Timóteo assistiu aterrado o amigo querido ser apedrejado pela população, incitada pelos administradores da pequenina cidade. Desejou intervir, salvando-o, mas prudentemente foi detido por companheiro ponderado que lhe fez ver a inconveniência de se expor, sem nada verdadeiramente poder fazer ante a multidão enfurecida e muito bem conduzida por mentes ardilosas.
No entanto, é ele mesmo que, após acompanhar por vielas extensas, a turba exaltada depositar o corpo do Apóstolo no monturo, distante dos muros de Listra, se aproxima, na sombra da noite para socorrê-lo. Dispensa-lhe os primeiros socorros, buscando água fresca em poço próximo. Depois, banhado em lágrimas, fica ao seu lado, aguardando que desperte do profundo desmaio.
Timóteo, oportunamente, passaria a acompanhar Paulo de Tarso em suas viagens, desejoso de se consagrar ao serviço de Jesus, iluminando o seu coração e a sua inteligência. A caminho da Macedônia, separaram-se ele e Lucas de Paulo, a pedido daquele, tornando a se encontrarem mais tarde.
Para as viagens apostólicas, a fim de evitar as tricas judaicas e eventualmente provocar atritos nas suas tarefas iniciais, Timóteo submeteu-se, a conselho do próprio Paulo, à circuncisão, demonstrando a capacidade de ajustar-se ao que fosse necessário para servir a Jesus.
Timóteo é convidado pelo apóstolo de Tarso a estar com ele, quando da redação das suas famosas epístolas, "cuja essência espiritual provinha da esfera do Cristo"1, e que não serviram somente para a comunidade para a qual foram escritas, mas à cristandade universal.
Esteve com Paulo em Roma, quando este foi prisioneiro dos romanos. Seguiu-o até a Espanha, junto com Lucas e Demas. Demorou-se mais na região de Tortosa, visitou parte das Gálias, auxiliando na conquista de novos corações para o Cristo e multiplicando os serviços do Evangelho. Afeiçoado a Paulo, Timóteo foi por ele encarregado em mais de uma oportunidade, a levar mensagens para as comunidades cristãs nascentes. Assim, da Espanha partiu para a Ásia, carregado de cartas e recomendações amigas.
Quando Paulo de Tarso retornou a Roma, a pedido de Simão Pedro, escreveria tomado de singulares emoções as últimas disposições ao filho do coração, Timóteo: "Apressa-te a vir ter comigo. (...) Só Lucas está comigo. (...) Quando vieres, traze contigo a capa que deixei em Trôade em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. (...) Apressa-te a vir antes do inverno. (...)"2
Roga ainda os seus bons ofícios para que João Marcos venha a Roma, a fim de o auxiliar no serviço apostólico. Lucas é o encarregado de expedir a Epístola e percebe os lúgubres pressentimentos que tomam de assalto o velho Apóstolo.
Em verdade, Timóteo não chegou a rever Paulo na vida física, mas guardou n'alma as suas últimas exortações: "Foge das paixões da juventude, segue a justiça, a fé, a esperança , a caridade e a paz com aqueles que invocam o Senhor com um coração puro.(...)"
"Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que está em Jesus-Cristo; e o que ouviste de mim, diante de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam capazes de instruir também a outros.(...)"
"Esforça-te por te apresentares a Deus digno de aprovação, como um operário que não tem de que se envergonhar, que distribui retamente a palavra da verdade. (...)"
extraído do blog http://espnetjovem.blogspot.com.br/
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
O auto-castigo (J. Herculano Pires)
Deus não castiga o suicida, pois é o próprio suicida quem se castiga. A noção do castigo divino é profundamente modificada pelo ensino espírita. Considerando-se que o Universo é uma estrutura de leis, uma dinâmica de ações e reações em cadeia, não podemos pensar em punições de tipo mitológico após a morte. Mergulhado nessa rede de causas e efeitos, mas dotado do livre arbítrio que a razão lhe confere, o homem é semelhante ao nadador que enfrenta o fatalismo das correntes de água, dispondo de meios para dominá-las.
Ninguém é levado na corrente da vida pela força exclusiva das circunstâncias. A consciência humana é soberana e dispõe da razão e da vontade para controlar-se e dirigir-se. Além disso, o homem está sempre amparado pelas forças espirituais que governam o fluxo das coisas. Daí a recomendação de Jesus: “Orai e vigiai”. A oração é o pensamento elevado aos planos superiores – a ligação do escafandrista da carne com os seus companheiros da superfície – e a vigilância é o controle das circunstâncias que ele deve exercer no mergulho material da existência.
O suicida é o nadador apavorado que se atira contra o rochedo ou se abandona à voragem das águas, renunciando ao seu dever de vencê-las pela força dos seus braços e o poder da sua coragem, sob a proteção espiritual de que todos dispomos. A vida material é um exercício para o desenvolvimento dos poderes do Espírito. Quem abandona o exercício por vontade própria está renunciando ao seu desenvolvimento e sofre as consequências naturais dessa opção negativa. Nova oportunidade lhe será concedida, mas já então ao peso do fracasso anterior.
Cornélio Pires, o poeta caipira de Tietê, responde à pergunta do amigo através de exemplos concretos que falam mais do que os argumentos. Cada uma de nossas ações provoca uma reação da vida. A arte de viver consiste no controle das nossas ações (mentais, emocionais ou físicas) de maneira que nós mesmos nos castigamos ou nos premiamos. Mas mesmo no auto-castigo não somos abandonados por Deus, que vela por nós em nossa consciência.
Suicídio (Cornélio Pires)
Suicídio, não pense nisso
Nem mesmo por brincadeira…
Um ato desses resulta
Na dor de uma vida inteira.
Por paixão, Quim afogou-se
Num poço de Guararema.
Renasceu em provação
Atolado no enfisema.
Matou-se com tiro certo
A menina Dilermanda.
Voltou em corpo doente,
Não fala, não vê nem anda.
Pôs fogo nas próprias vestes
Dona Cesária da Estiva…
Está de novo na Terra
Num corpo que é chaga viva.
Suicidou-se à formicida
Maricota da Trindade…
Voltou… Mas morreu de câncer
Aos quatro meses de idade.
Enforcou-se o Columbano
para mostrar rebeldia…
De volta, trouxe a doença,
Chamada paraplegia.
Queimou-se com gasolina
Dona Lília Dagele.
Noutro corpo sofre sarna
Lembrando fogo na pele.
Tolera com paciência
Qualquer problema ou pesar;
Não adianta morrer,
Adianta é se melhorar.
segunda-feira, 21 de julho de 2014
Os Espíritos Influenciam os Nossos Pensamentos e Atos?
Para admitir a influência dos Espíritos é necessário aceitar a ideia de que há Espíritos e que estes sobrevivem à morte do corpo físico.
A dúvida relativa à existência dos Espíritos tem como causa principal a ignorância acerca da sua verdadeira natureza. [...] Seja qual for a ideia que se faça dos Espíritos, a crença neles necessariamente se baseia na existência de um princípio inteligente fora da matéria.[1]
Na verdade, os Espíritos exercem grande influência nos acontecimentos da vida. Essa influência pode ser oculta (sutil) ou claramente percebida. Pode ser boa ou má, fugaz ou duradoura. Não é nada miraculoso ou sobrenatural.
Imaginamos erroneamente que a ação dos Espíritos só se deva manifestar por fenômenos extraordinários. Gostaríamos que nos viessem ajudar por meio de milagres e sempre os representamos armados de uma varinha mágica. Mas não é assim, razão por que nos parece oculta a sua intervenção e muito natural o que se faz com o concurso deles. Assim, por exemplo, eles provocarão o encontro de duas pessoas, que julgarão encontrar-se por acaso; inspirarão a alguém a ideia de passar por tal lugar; chamarão sua atenção para determinado ponto, se isso levar ao resultado que desejam, de tal modo que o homem, acreditando seguir apenas o próprio impulso, conserva sempre o seu livre-arbítrio.[2]
A influência dos Espíritos é ocorrência comum, garantida pelos os princípios da sintonia mental, pois “(…) é no mundo mental que se processa a gênese de todos os trabalhos da comunhão de espírito a espírito”[3], ensina Emmanuel. Contudo, antes de ser estabelecida a sintonia entre duas mentes, ocorre os processos de afinidade intelectual ou moral, ou ambas, pois “o homem permanece envolto em largo oceano de pensamentos, nutrindo-se de substância mental, em grande proporção. Toda criatura absorve, sem perceber, a influência alheia nos recursos imponderáveis que lhe equilibram a existência. [4] E, mais, acrescenta o Benfeitor:
A mente, em qualquer plano, emite e recebe, dá e recolhe, renovando-se constantemente para o alto destino que lhe compete atingir. Estamos assimilando correntes mentais, de maneira permanente. De modo imperceptível, “ingerimos pensamentos”, a cada instante, projetando, em torno de nossa individualidade, as forças que acalentamos em nós mesmos. [...] Somos afetados pelas vibrações de paisagens, pessoas e coisas que cercam. Se nos confiamos às impressões alheias de enfermidade e amargura, apressadamente se nos altera o “tônus mental”, inclinando-nos à franca receptividade de moléstias indefiníveis. Se nos devotamos ao convívio com pessoas operosas e dinâmicas, encontramos valioso sustentáculo aos nossos propósitos de trabalho e realização. (…).[1]
[1] Francisco Cândido Xavier. Roteiro. Cap. 26, pág. 112.
[1] Allan Kardec. O Livro dos Médiuns. Pt. 1, cap. I, it, 1, p. 21-22.
[2]Idem. O Livro dos Espíritos. Q. 525-a-comentário, p. 352-353.
[3] Francisco Cândido Xavier. Roteiro. Cap. 28, pág. 119.
[4] Ibid. Cap. 26, pág. 111
Referências
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2ª ed.1ª reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
XAVIER, Francisco Cândido. Roteiro. 11ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Acusações contra à revelação Espírita - Léon Denis em O Problema do Ser, do Destino e da Dor
A Revelação Espírita levantou, como sucede com todas as doutrinas novas, muitas
objeções e críticas. Ponderemos algumas. Acusam-nos, antes de tudo, de termos grande
empenho em filosofar; acusam-nos de termos edificado, sobre a base de fenômenos, um
sistema antecipado, uma doutrina prematura, e de havermos comprometido assim o caráter
positivo do Espiritualismo moderno.
Um escritor de valia, fazendo-se intérprete de um certo número de psiquistas, resumia as
suas críticas nestes termos: “Uma objeção séria contra a hipótese espírita é a que se refere à
filosofia com que certos homens demasiadamente apressados dotaram o Espiritismo. O
Espiritismo, que apenas devia ser uma ciência no seu início, é já uma filosofia imensa para a
qual o universo não tem segredos.” 26
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor
Poderíamos lembrar a esse autor que os homens de quem ele fala representaram em
tudo isso simplesmente o papel de intermediários, limitando-se a coordenar e publicar os
ensinamentos que recebiam por via mediúnica.
Por outro lado, devemos notar, haverá sempre indiferentes, cépticos, espíritos
retardados, prontos a achar que andamos com muita pressa. Não haveria progresso possível,
se tivesse de esperar pelos retardatários. É deveras engraçado ver pessoas, cujo interesse por
essas questões apenas data de ontem, darem regras a homens como Allan Kardec, por
exemplo, que só se atreveu a publicar os seus trabalhos ao cabo de anos de investigações
laboriosas e de maduras reflexões, obedecendo nisso a ordens formais e bebendo em fontes
de informação das quais os nossos excelentes críticos nem sequer parecem ter idéia.
Todos aqueles que seguem com atenção o desenvolvimento dos estudos psíquicos podem
verificar que os resultados adquiridos vieram confirmar em todos os pontos e fortalecer cada
vez mais a obra de Kardec.
Friedrich Myers, o eminente professor de Cambridge, que foi durante vinte anos, diz
Charles Richet, a alma da Society for Psychical Researches, de Londres, e que o Congresso
oficial internacional de Psicologia de Paris elevou, em 1900, à dignidade de presidente
honorário, declara nas últimas páginas de sua obra magistral, La Personnalité Humaine, cuja
publicação produziu no mundo sábio uma sensação profunda: “Para todo investigador
esclarecido e consciencioso essas indagações vão dar lugar, lógica e necessariamente, a uma
vasta síntese filosófica e religiosa.” Partindo desses dados, consagra o capítulo décimo a uma
“generalização ou conclusão que estabelece um nexo mais claro entre as novas descobertas e
os esquemas já existentes do pensamento e das crenças dos homens civilizados”.24
Termina assim a exposição de seu trabalho:
“Bacon previra a vitória progressiva da observação e da experiência em todos os
domínios dos estudos humanos; em todos, exceto um: o domínio das coisas divinas.
Empenho-me em mostrar que essa grande exceção não é justificada. Pretendo que existe
um método para chegar ao conhecimento das coisas divinas com a mesma certeza, a
mesma segurança com que temos alcançado os progressos que possuímos no conhecimento
das coisas terrestres. A autoridade das igrejas será substituída, assim, pela da observação e
experiência. Os impulsos da fé transformar-se-ão em convicções racionais e firmes, que
darão origem a um ideal superior a todos os que a humanidade houver conhecido até esse
momento.”
domingo, 18 de maio de 2014
Armadilhas
Texto de Ana Jácomo
________________________________________________________
Vamos combinar que, muitas vezes, não há segredo algum, inimigo algum, interrogação alguma, nenhuma entidade obsessora, além da nossa autossabotagem.
A gente sabe que esticar a corda costuma encolher o coração, mas a gente estica…
A gente sabe que nos trechos de inverno é necessário se agasalhar, mas a gente se expõe à friagem…
A gente sabe que não pode mudar ninguém, que só podemos promover mudanças na nossa própria vida, mas a gente age como se esquecesse completamente dessa percepção tão sincera…
A gente lembra os lugares de dor mais aguda e como foi difícil sair deles mas, diante de circunstâncias de cheiro familiar, a gente teima em não aceitar o óbvio, em não se render ao fluxo, em não respeitar o próprio cansaço…
Eu pensava em todas essas armadilhas enquanto caminhava na Lagoa, um dia de céu de cara amarrada, um tiquinho de sol muito lá longe, tudo bem parecido comigo naquela manhã. Eu me perguntei por que quando mais precisamos de nós mesmos, geralmente mais nos faltamos…
Que estranha escolha é essa que faz a gente alimentar os abismos quando mais precisa valorizar as próprias asas.
Como conseguimos gostar tanto dos outros e tão pouco de nós?
Eu me perguntei quando, depois de tanto tempo na escola, eu realmente conseguirei aprender, na prática, que o amor começa em casa.
Por que, tantas vezes, quando estou mais perto de mim, mais eu me afasto?
Eu me perguntei se viver precisa, de fato, ser tão trabalhoso assim ou se é a gente que complica, e muito.
Como conseguimos ser tão vulneráveis, ao mesmo tempo que tão fortes? Somos humanos, é claro, mas ser humano é ser divino também.
Eu não tenho muitas respostas e as que tenho são impermanentes, como os invernos, os dias de céu de cara amarrada, os lugares de dor, os abismos todos, o bom uso das asas, os fios desencapados, as medidas e as desmedidas.
Tudo passa, o que queremos e o que não queremos que passe, a tristeza e o alívio coabitam no espaço desta certeza.
Eu não tenho muitas respostas. O que eu tenho é fé. A lembrança de que as perguntas mudam. Um modo de acreditar que os tiquinhos de sol possam sorrir o suficiente para desarmar a sisudez nublada de alguns céus. E uma vontade bonita, toda minha, de crescer…
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Dos espaços majestosos...
Dos espaços majestosos, baixemos nossos olhares para a Terra. Apesar de suas proporções modestas, ela tem, sabemo-lo, seus encantos, sua beleza. Cada sítio tem sua poesia, cada paisagem sua expressão, cada vale seu sentido particular. A variedade é tão grande nos prados do nosso mundo quanto nos campos estrelados. O verão é o sorriso de Deus! Nada mais suave, mais inebriante do que a apoteose de um belo dia em que tudo é carícia, doçura, luz. A florinha escondida na relva, o peixe que se esgueira entre as águas, fazendo espelhar ao sol suas escamas de prata, o pássaro que modula suas notas do alto das ramadas, o murmúrio das fontes, a canção misteriosa dos álamos e dos olmeiros, o perfume selvagem dos musgos, tudo isso acalenta o pensamento, regozija o coração. Longe das cidades, encontra-se a calma profunda que penetra a Alma, separando-a das lutas e das decepções da vida. Só e então se compreende a verdade destas grandes palavras: “O ruído é dos homens, o silêncio é de Deus!”.
A contemplação e a meditação provocam o despertar das faculdades psíquicas e, por elas, todo um mundo invisível se abre à nossa percepção. Ensaiei, no correr desta obra, exprimir as sensações experimentadas do alto dos cimos ou à borda dos mares, descrever o encanto dos crepúsculos e das auroras; a serenidade dos campos, sob o real esplendor do Sol, o prodigioso poema das noites estreladas, a sublimidade dos luares, o enigma das águas e dos bosques. Há momentos de êxtase em que a Alma se transporta fora do seu invólucro e abraça o Infinito; horas de intuição e entusiasmo, em que o influxo divino nos invade qual uma onda irresistível, em que o pensamento supremo vibra e palpita em nosso íntimo, onde brilha, por um instante, a centelha do gênio. Essas horas inolvidáveis eu vivi algumas vezes e, em cada uma delas, acreditei na visita, na penetração do Espírito. Devo-lhes a inspiração de minhas mais belas páginas e de meus melhores discursos.
Aquele que se recolhe no silêncio e na solidão, diante dos espetáculos do mar ou das montanhas, sente nascer, subir, crescer em si mesmo imagens, pensamentos, harmonias que o arrebatam, encantam e consolam das terrestres misérias, e lhe abrem as perspectivas da vida superior. Compreende então que o pensamento de Deus nos envolve e nos penetra quando, longe das torpezas sociais, sabemos abrir-lhe nossas almas e nossos corações._________________________________________Léon Denis em O Grande Enigma
segunda-feira, 7 de abril de 2014
Sobre reuniões espíritas
Uma reunião é um ser coletivo cujas qualidades e propriedades são as dos seus membros, formando uma espécie de feixe. Ora, esse feixe será tanto mais forte quanto mais homogêneo.
Se o Espírito for de qualquer maneira atingido pelo pensamento, como nós somos pela voz, vinte pessoas unidas numa mesma intenção terão necessariamente mais força que uma só. Mas para que todos os pensamentos concorram para o mesmo fim é necessário que vibrem em uníssono, que se confundam por assim dizer em um só, o que não pode se dar sem concentração.
A concentração e a comunhão de pensamentos sendo as condições necessárias de toda reunião séria, compreende-se que o grande número de assistentes é uma das causas mais contrárias à homogeneidade. Não há, é certo, nenhum limite absoluto para esse número. Compreende-se que cem pessoas, suficientemente concentradas a atentas, estarão em melhores condições do que dez pessoas distraídas e barulhentas. Mas é também evidente que quanto maior o número, mais dificilmente se preenchem essas condições.
Toda reunião espírita deve, pois, procurar a maior homogeneidade possível.
Fonte: O Livro dos Médiuns (Cap. 29 – Reuniões e Sociedades)
domingo, 30 de março de 2014
O terceiro caso
O Terceiro caso envolve esplendia lição de vigilância e oração. Eu morava em Belo Horizonte e fui convidada por determinada casa espírita para presidir sessões de desenvolvimento de médiuns. Confesso não ser favorável a sessões de desenvolvimento de médiuns, senão as de caráter teórico, envolvendo tão somente a estudos. Mas, embora o conselho do Dr. Bezerra de Menezes tenha sido o que eu lá não fosse, considerei o convite muito gentil e, em respeito à amizade que voltava ao presidente da instituição, insisti em comparecer. Lembro-me bem de que Ra o dia de São Jorge, 23 de abril de 1957, numa terça feira, O horário da reunião era 19 horas. Ora estranhamente, durante o dia, não peguei no Evangelho, não fiz uma prece, absolutamente nada... Senti raiva o dia inteiro, sem saber de quê, o sem perceber o porquê; ao invés de estudar obras doutrinarias, fui costurar... Costurar roupa preta, diga-se mais... Durante o dia inteiro, vi um vulto preto ao meu lado.. e não desconfiei de nada. Por volta das cinco horas da tarde, fui preparar-me para ir, mais para noite, à instituição, e fui escolher logo um vestido preto para vestir ... Coloquei-o sobre o leito, com o intuito de chamar minha sobrinha , que era a dona da casa, porque a residência não poderia ficar aberta e sem ninguém em seu interior. A casa era de fundo, com um longo corredor de pedra e lajes pelo qual deveria eu passar. Quando comecei a penetrá-lo vi, perto de mim, um vulto que me pegou pelo pescoço, mais pela parte da nuca, arrastou-me e atirou-me, com uma força medonha, de encontro a um portão que abria para a rua.
Levei um tombo verdadeiramente desastrado, e quando caí, ainda puder ver o espírito saltar por cima de mim (era uma mulher, com roupa de operaria, cheia de fiapos de algodão), e num gesto debochado e de pouco caso, com o indicador e o médio das duas mãos, lançar para traz as mechas de cabelos, seguir para a rua e sumir. Desnecessário dizer que fraturei o braço e tiver ocasião de ver-lhe contraparte fluídica. Comecei estonteadamente, a querer firmar-me para levantar, o que é óbvio, não consegui. Tive forças para chamar pelo marido de minha sobrinha e desfaleci. Contaram-me que fui levado para o pronto socorro. Isso tudo dia 23 de abril. No dia 27 do mesmo mês, estava eu orando, sentada numa cadeira de balanço, com o braço engessado, quando ouvi a voz do Dr. Bezerra , dizendo:
- Minha filha, eu avisei a você que não fosse. Você sofreu o mínimo para não sofrer o máximo.Depois, concluí que a sessão a que iria presidir era pesadíssima > havia cento e vinte médiuns desenvolvendo faculdades. Eu não teria condições de enfrentar um trabalho desses. Em seguida, vi Charles, que veio buscar-me, e mostrou-me todas as cenas de “Nas voragens do pecado” (quando se trata de romances, costumo ver, por antecipação, todas as cenas). Consolei-me, conformei-me e compreendi que o acontecera comigo fora pura falta de oração e de vigilância. Sofri efetivamente o mínimo para não sofrer o máximo: esse máximo talvez fosse uma obsessão.
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Fonte: Pelos caminhos da Mediunidade Serena/ Yvone do Amaral Pereira – 1ª Ed., 1ª reimp. – São Paulo, SP: Lachâtre, 2007, pag.37-41.
Segundo caso
O segundo caso, material extraído do livro Pelos caminhos da mediunidade Serena
não relatado nos dois livros já editados, passou-me em Juiz de Fora. Morava em um sobrado, dormindo num quarto que tinha duas sacadas que davam para a rua, e, uma noite, como fizesse intenso calor, dormi com as janelas abertas. Calculo que, pelas duas horas da madrugada, encontrei-me em semi-transe , vendo perfeitamente Charles no meio do quarto( o semi-transe propicia muito a lembranças do que se passa conosco durante o sono, porque, nele, vivemos duas vidas, tanto a do corpo como a do espírito) . Nessa ocasião conversei com Charles como o espírito mais belo que havia visto (foi quando reparei que ele traz no dedo anular um anel de médico). Pulei da cama, com extraordinária rapidez, para poder abraçá-lo; ele, porém recuou, não permitindo que eu concluísse meu intento. Colocou-se próximo à janela. Eu, então, avancei a direção à janela, com o que ele recuou ainda mais, ficando suspenso no ar. Eu, muito aflita, muito emocionada, debrucei-me sobre o peitoril... E acordei, sobre a sacada, inteiramente debruçadas... Fiquei muito desgostosa de não poder abraçá-lo, mas retornei ao leito, sem poder dormir de novo. Passados uns dez ou quinze minutos, ele volta – só lhe ouço a voz – e diz-me:
-Minha filha levante e feche as janelas. E nunca mais durma com as janelas abertas, porque isso é muito perigoso para você.
Pelos caminhos da mediunidade Serena
Material extraído do livro
Em agosto de 1975, o extinto periódico carioca Obreiro do Bem, publicou mais uma entrevista de Yvone Pereira..
Obreiros do Bem:
Poderia narrar-nos um ou alguns acontecimentos de sua mediunidade que não estejam contidos em Recordações da mediunidade e Devassando o invisível?
Yvone Pereira:
– De fato, há alguns acontecimentos bastante interessantes, um deles em especial, porque, até hoje, eu mesma não compreendo exatamente o que se passou.
O Primeiro Caso:
Eu havia lido no jornal a respeito do suicídio de uma moça de dezessete anos, ocorrido na estação Deodoro. A moça chamava-se Jurema, nome que ainda mantenho em meu caderno de preces, aos mais ou menos vinte anos. Essa moça, arrimo de família, por dificuldade da vida, atirou-se na frente de um comboio, na referida estação. Condoí-me profundamente, tomei-lhe o nome e principiei a orar. Uns dois meses depois eu fui convidada pelo Dr. Bezerra de Menezes (os guias espirituais não nos impõem em nada..) e, em corpo astral, vi-me na estação de Deodoro, como se esperasse o trem passar. Sobre a linha puder ver um vulto branco, uma espécie de forma humana, que estava como se fora uma massa sem ossos, algo muito esquisito, que não posso bem precisar. A moça, que reconheci ser Jurema, esta mais afastada, já desesperada... Quando o trem parasse, fui instruída a atirar-me na frente dele para retirar aquela massa, aquele volume e atirá-la sobre a moça. Foi o que fiz: quando o trem chegou lancei-me à sua frente, tomei daquele vulto e atirei-o sobre ela. Recordo=me ainda não se tratar de composição elétrica, porque senti perfeitamente a quentura da maquina em meu corpo, e acordei banhada de suor. Antes, porém , quando lancei sobre Jurema aquela massa, ela emitiu um grito, desesperada e desmaiou. Nada mais eu pude ver, senão que os espíritos, orientados pelo Dr. Bezerra, recolheram-na nos braços e afastaram-se. O que foi que peguei, não o sabe; até hoje não posso explicar esse fenômeno. Sei apenas que aconteceu um caso desses com Chico Xavier, que teve de mergulhar em uma lagoa, tirar esse tal volume, que estava ao lado de uma ossada, trazê-lo à superfície e lançá-lo sobre o espírito que estava em ânsias. Calculo que isso seja energia vital, è só o que posso dizer.
sábado, 1 de março de 2014
Palavras de um espírito
"Imaginai-vos viver no Espaço, num ambiente de azul celeste e de luz, envolvidos por um círculo de radiações que transmite o vosso pensamento tão distante quanto desejais. De repente, um apelo vos surge, uma atração se estabelece e vos aproximais do ponto de emissão. Por um momento, desejamos recair na vida social e reviver as aventuras de nossa última existência. Os pensamentos dos seres humanos nos atraem e, conforme a sua intensidade, sua elevação, aproximamo-nos mais facilmente do foco de onde eles emanam. Só precisamos retornar à corrente, o raio que nos atingiu, e nosso pensamento chega, fatalmente, até vós.
Mas, esse raio, que deve se propagar no vácuo, não tem sempre uma regularidade suficiente, porque outras correntes, mais materiais, se entrecruzam e constituem outros entraves. Também, é preciso que os apelos que se elevam de cada lado tenham a força suficiente para manter, de um ponto ao outro, uma faixa fluídica que tem uma persistência, uma continuidade uniforme. É assim que a vossa evocação nos atinge: o vosso pensamento nos chega mais facilmente do que o nosso chega a vós, porque o vosso pedido nos toca diretamente, e faz vibrar todo o nosso ser desligado da matéria, enquanto que vós estais presos num espesso envoltório, que serve de refúgio a toda uma vida microscópica cujos fluidos são muito densos.
Nosso pensamento, antes de penetrar no vosso cérebro, deve, com freqüência, contornar todo o vosso ser e, somente quando ele encontra um ponto vulnerável, é que aí chega e faz-lhe vibrar as células."
_______________________________________________________________________________
Palavras de um espírito
livro O Espiritismo e As Forças Radiantes
Léon Denis
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
O dever
O dever é o conjunto das prescrições da lei moral, a regra pela qual o homem deve conduzir-se nas relações com seus semelhantes e com o Universo inteiro. Figura nobre e santa, o dever paira acima da Humanidade, inspira os grandes sacrifícios, os puros devotamentos, os grandes entusiasmos. Risonho para uns, temível para outros, inflexível sempre, ergue-se perante nós, apontando a escadaria do progresso, cujos degraus se perdem em alturas incomensuráveis.
O dever não é idêntico para todos; varia segundo nossa condição e saber. Quanto mais nos elevamos tanto mais a nossos olhos ele adquire grandeza, majestade, extensão. Seu culto é sempre agradável ao virtuoso e a submissão às suas leis é fértil em alegrias íntimas, inigualáveis.
Por mais obscura que seja a condição do homem, por mais humilde que pareça a sua sorte, o dever domina-lhe e enobrece a vida, esclarece a razão, fortifica a alma. Ele nos traz essa calma interior, essa serenidade de espírito, mais preciosa que todos os bens da Terra e que podemos experimentar no próprio seio das provações e dos reveses. Não depende de nós desviar os acontecimentos, porque o nosso destino deve seguir os seus trâmites rigorosos; mas sempre podemos, mesmo através de tempestades, firmar essa paz de consciência, esse contentamento íntimo que o cumprimento do dever acarreta.
Todos os Espíritos superiores têm profundamente enraizado em si o sentimento do dever; é sem esforços que seguem a própria rota. É por uma tendência natural, resultante dos progressos adquiridos, que se afastam das coisas vis e orientam os impulsos do ser para o bem. O dever torna-se, então, uma obrigação de todos os momentos, a condição imprescindível da existência, um poder ao qual nos sentimos indissoluvelmente ligados para a vida e para a morte.
O dever oferece múltiplas formas: há o dever para conosco, que consiste em nos respeitarmos, em nos governarmos com sabedoria, em não querermos e não realizarmos senão o que for útil, digno e belo; há o dever profissional, que exige o cumprimento consciencioso das obrigações de nossos encargos; há o dever social, que nos convida a amar os homens, a trabalhar por eles, a servir fielmente ao nosso país e à Humanidade; há o dever para com Deus... O dever não tem limites. Sempre podemos melhorar. É, aliás, na imolação de si própria que a criatura encontra o mais seguro meio de se engrandecer e de se depurar.
________Léon Denis em O Caminho Reto
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Classes de espíritos maus
Há muitas classes de Espíritos maus?
- Há os Espíritos simplesmente inferiores, tais como os Espíritos levianos, imperfeitos, zombeteiros, que nossos pais chamavam de duendes, os brincalhões, e que gostam de travessuras de toda espécie; depois há os Espíritos perversos, que induzem os homens ao mal, pelo prazer de fazer o mal, e os que, como os Espíritos batedores, habitam as casas mal-assombradas.
Como vivem os Espíritos inferiores?
- Numa vida inquieta e atormentada; eles percorrem, sem destino certo, as regiões crepusculares da erraticidade, sem poderem compreender seu estado, nem achar seu caminho: é o que se chama de almas penadas.
Os Espíritos inferiores são nocivos?
- Alguns o são; e sua má influência sobre os homens deu lugar à crença nos demônios.
Os demônios, então, não existem?
- Não; há maus Espíritos, porém os que são chamados de demônios, ou espíritos eternamente maus, não existem; nem o mal, nem os maus podem ser eternos.
Como os homens podem entrar em relação com os maus Espíritos?
- Por meio dos fluidos e em virtude da lei de afinidade espiritual: “Quem se assemelha, se ajunta.”
Os maus Espíritos podem, então, exercer influência sobre os homens?
- Sim. Sobre os homens maus, que os invocam, ou sobre os homens fracos, que se entregam a eles; daí os frequentes fenômenos da possessão e da obsessão.
Que pensar do papel do demônio nas manifestações espíritas?
- O demônio não existe e não pode existir, porque, se ele existisse, Deus não existiria; um exclui necessariamente o outro.
Como assim?
- Se o demônio é eterno como Deus, há dois seres eternos. Ora a coexistência de duas eternidades é impossível; ela seria uma contradição na ordem metafísica. Esses dois deuses, um do bem, outro do mal, lembram a teoria oriental dos dois princípios: é uma reminiscência do dualismo dos maniqueus. Se, ao contrário, o demônio é uma criatura de Deus, Deus se torna responsável diante da humanidade de todo o mal que o demônio tem feito e fará ainda, eternamente. É a mais clamorosa injúria que se possa fazer a Deus, pois que é negar sua justiça e sua bondade. Há maus Espíritos, já o dissemos acima, que impelem ao mal o homem que a ele é propenso; mas o demônio, considerado como a personificação individual do mal, não existe.
Entretanto, a Igreja não ensina e afirma o caráter satânico de certas manifestações espíritas?
- A Igreja tem uma única palavra para explicar o que não compreende: Satã. No decorrer dos séculos, a Igreja sempre atribui a Satã todas as invenções do gênio, desde a do vapor às da estrada de ferro e da eletricidade. Está em sua lógica habitual e em sua característica dizer que os fenômenos do magnetismo e as revelações espíritas são obra de Satã. Todavia, apesar dos anátemas da Igreja, a ciência progride, o gênio do homem evolui e o Espiritismo se tornará à fé universal do futuro.
Retirado do livro 'Síntese Doutrinária' – Léon Denis
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Ante as portas livres
Ante as portas livres de acesso ao trabalho cristão e ao conhecimento salutar que André Luiz vai desvelando, recordamos prazerosamente a antiga lenda egípcia do peixinho vermelho.
No centro de formoso jardim, havia grande lago, adornado de ladrilhos azul-turquesa.
Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita.
Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de peixes, a se refestelarem, nédios e satis¬feitos, em complicadas locas, frescas e sombrias. Elegeram um dos concidadãos de barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam, plenamente despreocupados, entre a gula e a preguiça.
Junto deles, porém, havia um peixinho verme¬lho, menosprezado de todos.
Não conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos.
Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso.
O peixinho vermelho que nadasse e sofresse. Por isso mesmo era visto, em correria constante, perseguido pela canícula ou atormentado de fome.
Não encontrando pouso no vastíssimo domicilio, o pobrezinho não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse.
Fêz o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia, com precisão, onde se reuniria maior massa de lama por ocasião de aguaceiros.
Depois de muito tempo, à custa de longas perquirições, encontrou a grade do escoadouro.
A frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, refletiu consigo:
— “Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?”
Optou pela mudança.
Apesar de macérrimo pela abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima.
Pronunciando votos renovadores, avançou, oti¬mista, pelo rego d’água, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança ...
Em breve, alcançou grande rio e fêz inúmeros conhecimentos.
Encontrou peixes de muitas famílias diferentes, que com ele simpatizaram, Instruindo-o quanto aos percalços da marcha e descortinando-lhe mais fácil roteiro.
Embevecido, contemplou nas margens homens e animais, embarcações e pontes, palácios e veículos, cabanas e arvoredo.
Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, jamais perdendo a leveza e a agilidade naturais.
Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.
De Inicio, porém, fascinado pela paixão de observar, aproximou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em que vivera não seria mais que diminuta ração; impressionado com o espetáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária.
Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando proteção no bojo do monstro e, não obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes ma¬rinhas.
O pequeno viajante, agradecido e feliz, pro¬curou companhias sim páticas e aprendeu a evitar os perigos e tentações.
Plenamente transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida. Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas móveis e flores diferentes no seio das águas. Sobretudo, descobriu a existência de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz.
Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral que elegera, com centenas de amigos, para residência ditosa, quando, ao se referir ao seu co-meço laborioso, veio a saber que somente no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de outra altitude continuariam a correr para o oceano.
O peixinho pensou, pensou... e sentindo imensa compaixão daqueles com quem convivera na infância, deliberou consagrar-se à obra do progresso e salvação deles.
Não seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? não seria nobre ampará-los, prestando-lhes a tempo valiosas informações? Não hesitou.
Fortalecido pela generosidade de irmãos benfeitores que com ele viviam no Palácio de Coral, empreendeu comprida viagem de volta.
Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar.
Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros.
Estimulado pela proeza de amor que efetuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a coletividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou que ninguém se mexia.
Todos os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de lótus, de onde saiam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas desprezíveis.
Gritou que voltara a casa, mas não houve quem lhe prestasse atenção, porquanto ninguém, ali, ha¬via dado pela ausência dele.
Ridicularizado, procurou, então, o rei de guelras enormes e comunicou-lhe a reveladora aventura.
O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reuniu o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse.
O benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu, com ênfase, que havia outro mundo liquido, glorioso e sem fim. Aquele poço era uma Insignificância que podia desaparecer, de momento para outro. Além do escoadouro próximo desdobravam-se outra vida e outra experiência. Lá fora, corriam regatos ornados de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde a vida aparece cada vez mais rica e mais surpreendente.
Descreveu o serviço de tainhas e salmões, de trutas e esqüalos. Deu notícias do peixe-lua, do peixe-coelho e do galo-do-mar. Contou que vira o céu repleto de astros sublimes e que descobrira árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros temíveis, jardins submersos, estrelas do oceano e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranquilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente seu preço. De¬veriam todos emagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larva e tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto quanto era necessário à venturosa jornada.
Assim que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a preleção.
Ninguém acreditou nele.
Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram, solenes, que o peixinho vermelho delirava, que outra vida além do poço era francamente impossível, que aquela história de riachos, rios e oceanos era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia os olhos voltados para eles unicamente.
O soberano da comunidade, para melhor iro¬izar o peixinho, dirigiu-se em companhia dele até à grade de escoamento e, tentando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante:
— “Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo! vai-te daqui! não nos perturbes o bem-estar... Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém possui vida igual à nossa! ..
Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho rea¬lizou a viagem de retorno e instalou-se, em definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo.
Depois de alguns anos, apareceu pavorosa e devas tadora seca.
As águas desceram de nível. E o poço onde vi¬viam os peixes pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidade inteira a perecer, atolada na lama...
O esforço de André Luis, buscando acender luz nas trevas, é semelhante à missão do peixinho vermelho.
Encantado com as descobertas do caminho in¬finito, realizadas depois de muitos conflitos no sofrimento, volve aos recôncavos da Crosta Terrestre, anunciando aos antigos companheiros que, além dos cubículos em que se movimentam, resplandece outra vida, mais intensa e mais bela, exigindo, porém, acurado aprimoramento individual para a traves¬sia da estreita passagem de acesso às claridades da sublimação.
Fala, informa, prepara, esclarece ...
Há, contudo, muitos peixes humanos que sor¬riem e passam, entre a mordacidade e a Indiferença, procurando locas passageiras ou pleiteando larvas temporárias.
Esperam um paraíso gratuito com milagrosos deslumbramentos depois da morte do corpo.
Mas, sem André Luiz e sem nós, humildes ser¬vidores de boa vontade, para todos os caminheiros da vida humana pronunciou o Pastor Divino as in-deléveis palavras: — “A cada um será dado de acordo com as suas obras.”
EMMANUEL
Pedro Leopoldo, 22 de fevereiro de 1949.
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