segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Escutando sentimentos

Chamamos de atitude amorosa o tratamento benevolente com nosso íntimo através da criação de um relacionamento pacífico com as imperfeições. Desenvolver habilidades benevolentes para consigo é a base da vida saudável e o ponto de partida para o crescimento em harmonia. Amar a si mesmo é o cerne da proposta educativa do Ser na fieira das reencarnações. O aprendizado do auto-amor tem como requisito essencial a descoberta de nossa “identidade cósmica”, ou seja, a realidade do que somos na Obra Incomensurável do Pai, nossa singularidade. A singularidade é a “Marca de Deus” que define nossa história real no trajeto da evolução. É como o Pai nos “conclama” ser na Sua Criação. Importante frisar que a singularidade é o conjunto de caracteres morais e espirituais peculiares à criatura única que somos. Nela se incluem também as mazelas cujos princípios foram colocados no homem para o bem, conforme acentuam os Sábios e Orientadores da codificação. (O Evangelho Segundo o Espiritismo – capítulo X – item 10) Quando rejeitamos alguns aspectos dessa “identidade exclusiva”, nasce o conflito, que é a tormenta interior da alma convocada a transformar para melhor sua condição individual. O Doutor Carl Gustav Jung definiu esse movimento da vida mental como sendo individuação, isto é, viver em busca da individualidade, do Si Mesmo. Não se trata de viver o individualismo, o personalismo, mas aprender a ser, permitindo a expressão de suas características divinas latentes e de sua sombra sem as máscaras sociais. Individuação vem do latim indivíduos cujo sentido é “indiviso”, “inteiro”. O progresso pessoal de cada um de nós é a arte de saber integrar os “fragmentos” da vida íntima, harmonizando-os para que reflitam as leis naturais de cooperação, trabalho e liberdade. Somente vibrando na freqüência do amor, esse movimento educativo da alma plenifica-se sem a angústia e o martírio – patrocinadores de longas e dolorosas crises nesse caminhar evolutivo.

sábado, 5 de novembro de 2016

Memórias de um suicida

No ano de 1944, a médium Yvonne do Amaral Pereira, orientada pelos Espíritos Bezerra de Menezes e Charles, dirigiu-se à Federação Espírita Brasileira, levando dois livros, de sua lavra mediúnica, para exame, no intuito de posterior publicação. No topo da escadaria principal, encontrou o Sr. Manuel Quintão, na época, um dos diretores e examinadores das obras literárias que chegavam à Federação. Tão logo tentou explicar o seu objetivo, teve cortada a sua palavra por ele que lhe afirmou que ali somente entravam livros mediúnicos de Francisco Cândido Xavier. Ademais, ele estava muito ocupado, tinha duzentos livros para examinar, traduzir e não dispunha de tempo para mais… Recém-chegada ao Rio de Janeiro, a médium ficou chocada. Mesmo a tentativa favorável do Dr. Carlos Imbassahy, a seu favor, naquele momento, resultou inexitosa. O Sr. Quintão se manteve na mesma posição. Yvonne se retirou. Pensou que poderia se tratar de uma grande mistificação e, assim, chegando à sua residência, tomou de uma caixa de fósforos e dos originais dos dois livros e se dirigiu ao quintal, a fim de os queimar, pois nem mesmo tinha um local conveniente para guardá-los. Ao riscar o fósforo, viu, no entanto, o braço e a mão de um homem, transparentes e levemente azulados estendidos, como num gesto de proteção às páginas. Ao seu ouvido, uma voz assustada lhe dizia que esperasse e guardasse as obras. Ela identificou a voz como sendo a de Bezerra de Menezes. Transcorrido algum tempo, em certa manhã, enquanto orava, o Espírito Léon Denis, o grande apóstolo do Espiritismo, se lhe apresentou e lhe disse que um dos livros estava incompleto e ele ali estava para o refazer. E, naquele mesmo momento, começou a grande revisão e complementação da extraordinária obra Memórias de um suicida. Yvonne entendeu, então, que o Sr. Quintão havia sido inspirado pelos amigos espirituais para não receber o livro, quando ela fora à Federação. O Espírito Camilo, que o escrevera, não o completara devidamente, não lhe dera feição doutrinária, o que, agora, Léon Denis vinha fazer. Concluída a revisão, Yvonne retornou à Federação, que frequentava semanalmente. Paternalmente recebida pelo Presidente, Dr. Wantuil de Freitas, tendo-lhe narrado o que sucedera da primeira vez, recebeu dele os parabéns pela sua postura. Dispôs-se a analisar as obras, com espírito de atenção e fraternidade. Contudo, uma outra dificuldade agora se apresentou: era necessário fosse tudo datilografado, para maior comodidade do exame. Como Yvonne não dispunha de uma máquina de escrever, muito menos de dinheiro para adquiri-la, nem a quem recorrer para empréstimo de uma, guardou novamente os manuscritos. Decorreram sete anos até ela ser presenteada com o instrumento por um sobrinho seu, de nome César Augusto. Por isso, somente no ano de 1954, ela voltou à Federação para entregar a sua produção mediúnica. É desse mesmo ano a primeira edição. A obra descreve a condição do Espírito que busca a desencarnação através do suicídio. Focaliza as experiências tormentosas vividas por esse, para que reflitamos nas consequências de tal ato. Em sua primeira parte, relata os padecimentos do Espírito, após a desencarnação voluntária, relacionando as regiões, os seus habitantes e os sofrimentos atrozes a que são arrastados. São os réprobos do Vale dos Suicidas, onde Camilo Cândido Botelho, por seu gesto suicida, foi parar, a partir de 1º de junho de 1890. O nome é, em verdade, o pseudônimo de Camilo Castelo Branco, romancista português fecundo e talentoso, senhor de cultura muito vasta. Narra o trabalho de resgate e socorro dos irmãos infortunados, pelos Servos de Maria, descrevendo o local do recolhimento, o tratamento e as impressões vividas pelos assistidos. Descrições minuciosas desses lugares desfilam pelas mais de quinhentas páginas, detalhes que a médium via e ouvia nitidamente. Descreve ela que era levada, por Camilo e outros amigos espirituais, ao convívio do mundo invisível e tudo lhe era narrado, mostrado, exibido à sua faculdade mediúnica para que, ao despertar, maior facilidade encontrasse para tudo colocar no papel. Yvonne, na Introdução do livro explica a forma como viu, sentiu, viveu as cenas e as transcreveu. No prefácio da segunda edição, o compilador espiritual Léon Denis fala da revisão que se impunha e escreve que se, procurando esclarecer o público, por lhe facilitar o entendimento de fatos espirituais, nem sempre conservei a feitura literária dos originais que tinha sob o olhos; no entanto, não lhes alterei nem os informes preciosos nem as conclusões, que respeitei como labor sagrado de origem alheia. O livro é, com certeza, o mais extraordinário tratado a respeito do suicídio, suas terríveis consequências ao Espírito e, se traduz os sofrimentos escabrosos dos que se entregam a esse ato, acena com a esperança de que os que assim partiram, recebem auxílio espiritual para a recomposição de suas personalidades. Informação preciosa é fornecida de que é Maria de Nazaré, esse ser angélico e sublime que na Terra mereceu a missão honrosa de seguir, com solicitudes maternas a Jesus, o Cristo, quem tem sob sua guarda esses infelizes. Por isso desfilam as descrições do Hospital, a Colônia Correcional, a Torre de Vigia, os Departamentos de Reconhecimento e Matrícula, o Hospitalar, tudo sob a atenção dos Servos de Maria. Narra o trabalho mediúnico realizado em vários Centros Espíritas no Brasil, no auxílio aos suicidas. A esses discípulos de Allan Kardec, Camilo denomina Nossos amigos. Focaliza os trabalhos de instrução necessários para uma nova reencarnação, onde todos buscarão a reabilitação perante as leis da Natureza. Bibliografia: 1.PEREIRA, Yvonne A. Dados biográficos de Yvonne A. Pereira para a Federação Espírita Brasileira. In.:___. À luz do consolador. Rio de Janeiro: FEB, 1997.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Convocados à luta

NOSSO LAR, CAP. 41 - ANDRÉ LUIZ .....Nos primeiros dias de setembro de 1939, "Nosso Lar" sofreu, igualmente, o choque por que passaram diversas colônias espirituais, ligadas à civilização americana. Era a guerra européia, tão destruidora nos círculos da carne, quão perturbadora no plano do espírito. Entidades numerosas comentavam os empreendimentos bélicos em perspectiva, sem disfarçarem o imenso terror de que se possuíam. .....Sabia-se, desde muito, que as Grandes Fraternidades do Oriente suportavam as vibrações antagônicas da nação japonesa, experimentando dificuldades de vulto. Anotavam-se, porém, agora, fatos curiosos de alto padrão educativo. Assim como os nobres círculos espirituais da velha Ásia lutavam em silêncio, preparava-se "Nosso Lar" para o mesmo gênero de serviço. Além de valiosas recomendações, no campo da fraternidade e da simpatia, determinou o Governador tivéssemos cuidado na esfera do pensamento, preservando-nos de qualquer inclinação menos digna, de ordem sentimental. .....Reconheci que os Espíritos superiores, nessas circunstâncias, passam a considerar as nações agressoras não como inimigas, mas como desordeiras e cuja atividade criminosa é imprescindível reprimir. .....- Infelizes dos povos que se embriaguem com o vinho do mal - disse-me Salústio -; ainda que consigam vitórias temporárias, elas servirão somente para lhes agravar a ruína, acentuando-lhes as derrotas fatais. Quando um país toma a iniciativa da guerra, encabeça a desordem da Casa do Pai, e pagará um preço terrível. .....Observei, então, que as zonas superiores da vida se voltam em defesa justa, contra os empreendimentos da ignorância e da sombra, congregados para a anarquia e, conseqüentemente, para a destruição. Esclareceram-me os colegas de trabalho que, nos acontecimentos dessa natureza, os países agressores convertem-se, naturalmente, em núcleos poderosos de centralização das forças do mal. Sem se precatarem dos perigos imensos, esses povos, com exceção dos espíritos nobres e sábios que lhes integram os quadros de serviço, embriagam-se ao contacto dos elementos de perversão, que invocam das camadas sombrias. Coletividades operosas convertem-se em autômatos do crime. Legiões infernais precipitam-se sobre grandes oficinas do progresso comum, transformando-as em campos de perversidade e horror. Mas, enquanto os bandos escuros se apoderam da mente dos agressores, os agrupamentos espirituais da vida nobre movimentam-se em auxílio dos agredidos. .....Se devemos lastimar a criatura em oposição à lei do bem, com mais propriedade devemos lamentar o povo que olvidou a justiça. .....Logo após os primeiros dias que assinalaram as primeiras bombas na terra polonesa, encontrava-me, ao entardecer, nas Câmaras de Retificação, junto de Tobias e Narcisa, quando inesquecível clarim se fez ouvir por mais de um quarto de hora. Profunda emoção nos invadira a todos. .....É a convocação superior aos serviços de socorro a Terra - explicou-me Narcisa, bondosamente. .....- Temos o sinal de que a guerra prosseguirá, com terríveis tormentos para o espírito humano - exclamou Tobias, inquieto -, embora a distância, toda a vida psíquica americana teve na Europa a sua origem. Teremos grande trabalho em preservar o Novo Mundo. .....A clarinada fazia-se ouvir com modulações estranhas e imponentes. Notei que profundo silêncio caiu sobre todo o Ministério da Regeneração. .....Atento à minha atitude de angustiosa expectativa, Tobias informou: .....- Quando soa o clarim de alerta, em nome do Senhor, precisamos fazer calar os ruídos de baixo, para que o apelo se grave em nossos corações. .....Quando o misterioso instrumento desferiu a última nota, fomos ao grande parque, a fim de observar o céu. Profundamente comovido, vi inúmeros pontos luminosos, parecendo pequenos focos resplandecentes e longínquos, a librarem-se no firmamento. -..... Esse clarim - disse Tobias igualmente emocionado - é utilizado por espíritos vigilantes, de elevada expressão hierárquica. .....Regressando ao interior das Câmaras, tive a atenção atraída para enormes rumores provenientes das zonas mais altas da colônia, onde se localizavam as vias públicas. .....Tobias confiou a Narcisa certas atividades de importância junto aos enfermos e convidou-me a sair, para observar o movimento popular. .....Chegados aos pavimentos superiores, de onde nos poderíamos encaminhar à Praça da Governadoria, notamos intenso movimento em todos os setores. .....Identificando-me o espanto natural, o companheiro explicou: .....- Estes grupos enormes dirigem-se ao Ministério da Comunicação, à procura de noticias. O clarim que acaba de soar, só vem até nós em circunstâncias muito graves. Todos sabemos que se trata da guerra, mas é possível que a Comunicação nos forneça algum detalhe essencial. Observe os transeuntes. .....Ao nosso lado, vinham dois senhores e quatro senhoras, em conversação animada. .....- Imagine - dizia uma - o que será de nós no Auxílio. Há muitos meses consecutivos, o movimento de súplicas tem sido extraordinário. Experimentamos justa dificuldade para atender a todos os deveres. .....- E nós, com a Regeneração? - objetava o cavalheiro mais idoso - os serviços prosseguem consideravelmente aumentados. No meu setor, a vigilância contra as vibrações umbralinas reclama esforços incessantes. Estou avaliando o que virá sobre nós... .....Tobias segurou-me o braço, de leve, e exclamou: .....- Adiantemo-nos um pouco. Ouçamos o que dizem outros grupos. .....Aproximando-nos de dois homens, ouvi um deles perguntando: .....- Será crivei que a calamidade nos atinja a todos? .....O interpelado, que parecia portador de grande equilíbrio espiritual, replicou, sereno: .....- De qualquer modo, não vejo motivo para precipitações. A única novidade é o acréscimo de serviço que, no fundo, constituirá uma bênção. Quanto ao mais, tudo é natural, a meu ver. A doença é mestra da saúde, desastre dá ponderação. A China está sob a metralha, há muito tempo, e não mostrou você, ainda, qualquer demonstração de assombro. .....- Mas agora - objetou o companheiro, desapontado - parece que serei compelido a modificar meu programa de trabalho. .....O outro sorriu e ponderou: .....- Helvécio, Helvécio, esqueçamos o "meu programa" para pensar em "nossos programas". .....Atendendo a novo gesto de Tobias, que me reclamava atenção, observei três senhoras que iam na mesma direção à nossa esquerda, verificando que o pitoresco não faltava, igualmente ali, naquele crepúsculo de inquietação. .....- A questão impressiona-me sobremaneira - dizia a mais moça -, porque Everardo não deve regressar do mundo agora. .....- Mas a guerra - disse uma das companheiras -, ao que parece, não alcançará a Península. Portugal está muito longe do teatro dos acontecimentos. .....- Entretanto - indagou a outra componente do trio -, por que semelhante preocupação? Se Everardo viesse, que aconteceria? .....- Receio - esclareceu a mais jovem - que ele me procure na qualidade de esposa. Não o poderia suportar. É muito ignorante e, de modo algum, me submeteria a novas crueldades. .....- Tola que és! - comentou a companheira - olvidaste que Everardo será barrado pelo Umbral, ou coisa pior? .....Tobias, sorrindo, informou: .....- Ela teme a libertação de um marido imprudente e perverso. .....Decorridos longos minutos, em que observávamos a multidão espiritual, atingimos o Ministério da Comunicação, detendo-nos ante os enormes edifícios consagrados ao trabalho informativo. .....Milhares de entidades acotovelavam-se, aflitamente. Todos queriam informações e esclarecimentos. Impossível, porém, um acordo geral. .....Extremamente surpreendido com o vozerio enorme, vi que alguém subira a uma sacada de grande altura, reclamando a atenção popular. Era um velho de aspecto imponente, anunciando que, dentro de dez minutos, far-se-ia ouvir um apelo do Governador. .....- É o Ministro Esperidião informou Tobias, atendendo-me a curiosidade. Serenado o barulho, daí a momentos ouviu-se a voz do próprio Governador, através de numerosos alto-falantes: .....- "Irmãos de "Nosso Lar", não vos entregueis a distúrbios do pensamento ou da palavra. A aflição não constrói, a ansiedade não edifica. Saibamos ser dignos do clarim do Senhor, atendendo-Lhe a Vontade Divina no trabalho silencioso, em nossos postos." .....Aquela voz clara e veemente, de quem falava com autoridade e amor, operou singular efeito na multidão. No curto espaço de uma hora, toda a colônia regressava à serenidade habitual.

Em uma batalha há Espíritos que assistem e sustentam cada partido?

O LIVRO DOS ESPÍRITOS, ALLAN KARDEC, LIVRO II, CAP. IX Per. 541 - Em uma batalha há Espíritos que assistem e sustentam cada partido? - Sim, e que estimulam a sua coragem. Os Antigos, outrora, representavam os deuses tomando partido por tal ou tal povo. Esses deuses não eram outros senão Espíritos representados sob figuras alegóricas. Per. 542 -Em uma guerra, a justiça entá sempre de um lado; como os Espíritos tomam partido pela injustiça? - Sabeis bem que há Espíritos que não procuram senão a discórdia e a destruição. Para eles a guerra é a guerra: a justiça da causa pouco os impressiona. Per. 543 - Certos Espíritos podem influenciar o general na concepção de seus planos de campanha? - Sem nenhuma dúvida, os Espíritos podem influenciar por esse motivo, como por todas as concepções. Per. 544 - Os maus Espíritos poderiam suscitar-lhe maus planos, tendo em vista perdê-lo? - Sim, mas não tem ele seu livre arbítrio? Se seu julgamento não lhe permite distinguir uma idéia justa de uma idéia falsa, suporta as conseqüências, e faria melhor obedecer do que comandar. Per. 545 - O general pode, algumas vezes, ser guiado por uma espécie de segunda vista, uma vista intuitiva, que lhe mostre antecipadamente o resultado de seus planos? - Frequentemente é assim no homem de gênio, é o que se chama inspiração, e faz com que ele aja com uma espécie de certeza. Essa inspiração lhe vem dos Espíritos que o dirigem e sabem aproveitar as faculdades de que é dotado. Per. 546 - No tumulto do combate, o que ocorre com os Espíritos que sucumbem? Ainda se interessam pela luta, depois da morte? - Alguns se interessam, outros se afastam. Nos combates acontece aquilo que ocorre em todos os casos de morte violenta: no primeiro momento o Espírito está surpreso e como perturbado, e não crê estar morto, parecendo-lhe, ainda, tomar parte na ação. Não é senão pouco a pouco que a realidade lhe aparece. Per. 547 - Os Espíritos que se combatiam, estando vivos, uma vez mortos se reconhecem por inimigos e são ainda obstinados uns contra os outros? - O Espíritos, nesses momentos, não está jamais de sangue-frio. No primeiro momento, ele pode ainda querer seu inimigo e mesmo persegui-lo, mas quando as idéias lhe retornam, vê que sua animosidade não tem mais objetivo. Entretanto, pode ainda conservar-lhe as impressões, mais ou menos segundo o seu caráter. - Percebe ainda o ruído das armas? - Sim, perfeitamente. Per. 548 - O Espírito que assiste de sangue-frio a um combate como espectador, testemunha a separação da alma e do corpo, e como esse fenômeno se apresenta a ele? - Há poucas mortes instantâneas. Na maioria das vezes, o Espírito cujo corpo vem a ser mortalmente ferido, não tem consciência sobre o momento. Quando ele começa a se reconhecer, é então que se pode distinguir o Espírito que se move ao lado do cadáver. Isso parece tão natural que a visão do corpo morto não produz nele nenhum efeito desagradável. Toda a vida estando transportada no Espírito, só ele atrai atenção e é com ele que se conversa ou a ele que se dirige. (Mais sobre o tema em O Livro dos Espíritos, cap. VI - V: LEI DE DESTRUIÇÃO)

Qual é a causa que leva o homem à guerra?

O LIVRO DOS ESPÍRITOS, ALLAN KARDEC, LIVRO III, CAP. VI GUERRAS Per. 742 - Qual é a causa que leva o homem à guerra? - Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e satisfação das paixões. No estado de barbárie, não conhecem senão o direito do mais forte; por isso, a guerra é para eles um estado normal. À medida que o homem progride, ela se torna menos frequente, porque lhe evita as causas e, quando é necessária, sabe aliá-la à humanidade. Per. 743 - A guerra desaparecerá um dia da face da Terra? - Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus; então todos os povos serão irmãos. Per. 744 - Qual foi o objetivo da Providência, tornando a guerra necessária? - A liberdade e o progresso. - Se a guerra deve ter por resultado alcançar a liberdade, como ocorre que ela, freqüentemente, tenha por objetivo e por resultado a subjugação? - Subjugação momentânea para abater os povos, a fim de os fazer chegar mais depressa. Per. 745 - Que pensar daquele que suscita a guerra em seu proveito? - Este é o verdadeiro culpado e precisará de muitas existências para expiar todos os homicídios dos quais foi a causa, porque responderá pelo homem, cada um deles, ao qual causou a morte para satisfazer sua ambição.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Liberta-te dos males

Leitor, se queres libertar-te dos males terrestres, escapar às reencarnações dolorosas, grava em ti essa lei moral e pratica-a. Faze que a grande voz do dever abafe os murmúrios das tuas paixões. Dá o que for indispensável ao homem material, ser efêmero que se esvairá na morte. Cultiva com cuidado o ser espiritual, que viverá para sempre. Desprende-te das coisas perecíveis; honras, riquezas, prazeres mundanos, tudo isso é fumo; o bem, o belo, o verdadeiro somente é que são eternos! Conserva tua alma sem máculas, tua consciência sem remorsos. Todo pensamento, todo ato mau atrai as impurezas mundanas; todo impulso, todo esforço para o bem centuplica as tuas forças e far-te-á comunicar com as potências superiores. Desenvolve em ti a vida espiritual, que te fará entrar em relação com o mundo invisível e com a natureza inteira. Consiste nisso a fonte do verdadeiro poder e, ao mesmo tempo, a dos gozos e das sensações delicadas, que irão aumentando à medida que as sensações da vida exterior se enfraquecerem com a idade e com o desprendimento das coisas terrestres. Nas horas de recolhimento, escuta a harmonia que se eleva das profundezas do teu ser, como eco dos mundos sonhados, entrevistos, e que fala de grandes lutas morais e de nobres ações. Nessas sensações íntimas, nessas inspirações, desconhecidas dos sensuais e dos maus, reconhece o prelúdio da vida livre dos espaços e um prelibar das felicidades reservadas ao Espírito justo, bom e valoroso.___________Léon Denis - O Caminho Reto

sábado, 2 de julho de 2016

A superioridade da inteligência

Ensina "O Evangelho Segundo o Espiritismo", no capítulo citado: "A superioridade da inteligência de um grande número de habitantes indica que ela não é um mundo primitivo, destinado à encarnação de Espíritos ainda saídos das mãos do Criador. As qualidades inatas que eles revelam são a prova de que já viveram, e de que realizaram algum progresso. Mas também os numerosos vícios a que se inclinam são o índice de uma grande imperfeição moral. Eis porque Deus os colocou numa terra ingrata, para aí expiarem as suas faltas, através de um trabalho penoso e das misérias da vida, até que mereçam passar para um mundo mais feliz." Ao mesmo tempo, Espíritos ainda na infância evolutiva, e Espíritos de um grau intermediário, mesclam-se às coletividades em expiação. Representamos uma mistura de exilados e população aborígine. Os antigos habitantes do mundo primitivo convivem com os imigrantes civilizadores. Mas estes mesmos civilizadores ainda são bastante imperfeitos, e realizam sua missão expiando as faltas cometidas em outros mundos. A explicação prossegue: "A Terra nos oferece, portanto, um dos tipos de mundos expiatórios, de que as variações são infinitas mas que têm por caráter comum o de servirem de lugar de exílio para os Espíritos rebeldes à lei de Deus. Nesses mundos, os Espíritos têm de lutar ao mesmo tempo com a perversidade dos homens e contra a inclemência da natureza, duplo e penoso trabalho, que desenvolve simultaneamente as qualidades do coração e as da inteligência. E assim que Deus, na sua bondade, transforma o próprio castigo em proveito do progresso do Espírito."

sexta-feira, 24 de junho de 2016

A prece é útil no desprendimento da alma

O desprendimento da alma, uma vez morto o corpo físico, começa pelas extremidades e vai-se completando na medida em que são desligados os laços fluídicos que a prendem ao veículo carnal. No livro "Obreiros da Vida Eterna", cap. XIII, o instrutor Jerônimo informa que há três regiões orgânicas fundamentais que demandam extremo cuidado nos serviços de liberação da alma: o centro vegetativo, ligado ao ventre, como sede das manifestações fisiológicas; o centro emocional, zona dos sentimentos e desejos, sediado no tórax, e o centro mental, situado no cérebro. Essa foi a ordem em que ele atuou para facilitar o desprendimento de Dimas, descrito no referido livro. A prece auxilia bastante o desprendimento do Espírito. Allan Kardec relata no livro "O Céu e o Inferno" o caso Augusto Michel, ocorrido em 1863, o qual pediu a um médium fosse até o cemitério orar no seu túmulo. O Espírito de Augusto Michel suplicou tanto, que o médium atendeu e no próprio cemitério ouviu o agradecimento de Michel, que se disse aliviado da constrição que antes o fazia preso ao corpo. Ao comentar o caso, Kardec indaga se o costume quase geral de orarmos ao pé dos defuntos não proviria da intuição inconsciente que se tem desse efeito.

A desencarnação não é igual para todas as pessoas

A certeza da vida futura não exclui as apreensões do homem quanto à desencarnação. Há muitos que temem não propriamente a vida futura, mas o momento da morte. Será ele doloroso? Tentando elucidar essas questões, Kardec inquiriu os Espíritos e deles recebeu a informação de que o corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte e que os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito. É preciso, no entanto, que consideremos que a desencarnação não é igual para todos e que, ao contrário, há uma variação muito grande, tão grande quanto as diferentes formas de viver adotadas pelos encarnados. Vendo-se a calma de alguns moribundos e as convulsões terríveis de outros, pode-se previ-amente julgar que as sensações experimentadas nem sempre são as mesmas. A separação da alma é feita de forma gradual, pois o Espírito se desprende pouco a pouco dos laços que o prendem, de forma que as condições de encarnado ou desencarnado, no momento do desenlace, se confundem e se tocam, sem que haja uma linha divisória entre as duas. Alguns fatores podem influir para que o desprendimento ocorra com maior ou menor facilidade, fa-tores que estão relacionados com o estado moral do homem quando encarnado. A afinidade entre o corpo e o perispírito é proporcional ao apego do indivíduo à matéria, que atinge o seu ponto máximo no homem cujas preocupações dizem respeito exclusivamente à vida de gozos materiais. Ao contrário disso, nas almas puras – que antecipadamente se identificam com a vida espiritual – o apego é quase nulo.

Princípios orientadores do ensino, por Allan Kardec

① Cultiva o espírito natural da observação das crianças, dirigindo-lhes a atenção para os objetos que as cercam. ② Cultivar a inteligência, observando um comportamento que habilite o aluno a descobrir por si mesmo as regras. ③ Proceder sempre do conhecido para o desconhecido, do simples para o composto. ④ Evitar toda atitude mecânica (mécanisme), levando o aluno a conhecer o fim e a razão de tudo o que faz. ⑤ Conduzi-lo a apalpar com os dedos e com os olhos todas as verdades. Este princípio forma, de algum modo, a base material deste curso de aritmética. ⑥ Só confiar à memória aquilo que já tenha sido aprendido pela inteligência.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Não há morte, não há fim; há passagem de um estado de inferioridade para um estado de superioridade, gradativa, sem hiatos, sem abismos, sem saltos bruscos, porque, na Natureza, seres e coisas obedecem a uma mesma lei de Relatividade, lei justa e eqüitativa promulgada nos Conselhos de Deus! Toda a criação goza dessa graça, todos os seres dela vivem e se alimentam, nela crescem, progridem, tornam-se adultos no entendimento, e, emergindo do instinto, flutuam no oceano luminoso da Inteligência, onde cantam a sua gloriosa epifania. Permita o Supremo Senhor que esta despretensiosa obra leve aos lares em que entrar, a Paz, a Esperança e a Fé; que seja ela, para os que a compulsarem um fardo leve, um jugo suave, onde possam encontrar arrimo, orientação para uma vida nova, um consolo a mitigar dores ocultas uma porta aberta para a Verdade, para o Amor, para a Felicidade! Jesus Cristo nos auxilie para que alcancemos com facilidade a graça prometida!

Parábolas dos Evangelhos

Na acepção geral do termo, parábola é uma narrativa que tem por fim transmitir verdades indispensáveis de serem compreendidas. As Parábolas dos Evangelhos são alegorias que contêm preceitos de moral. O emprego contínuo, que durante o seu ministério Jesus fez das parábolas, tinha por fim esclarecer melhor seus ensinos, mediante comparações do que pretendia dizer com o que ocorre na vida comum e com os interesses terrenos. Sugeria, assim, o Mestre, figuras e quadros das ocorrências cotidianas, para facilitar mais aos seus discípulos, por esse método comparativo, a compreensão das coisas espirituais. Aos que o ouviam ansiosamente, procurando compreender seus discursos, a parábola tornava-se-lhes excelente meio elucidativo dos temas e das dissertações do Grande Pregador. Mas os que não buscavam na parábola a figura que compara, a alegoria que representa a idéia espiritual, e se prendiam à forma, desprezando o fundo, para estes a Doutrina nem sequer aparecia, mas conservava-se oculta, como a noz dentro da casca. Daí a resposta de Jesus aos discípulos que lhe inquiriram a razão de Ele falar por parábolas: “Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é isso dado. Pois ao que tem, dar-se-lhe-á e terá em abundância; mas ao que não tem; até aquilo que tem ser-lhe-á tirado.” “Por isso lhes falo por parábolas, porque vendo não vêem; e ouvindo não ouvem, nem entendem. E neles se está cumprindo a profecia de Isaías, que diz: Certamente ouvireis, e de nenhum modo entendereis. Porque o coração deste povo se fez pesado, e os seus ouvidos se fizeram tardos, e eles fecharam os olhos; para não suceder que vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos, entendam no coração e se convertam e eu os cure.” Pelo trecho se observa claramente que os fariseus e a maioria dos judeus, em ouvindo a exposição da parábola, só viam a figura alegórica que lhes era mostrada, assim como, quem não quebra a noz, só lhe vê a casca. Ao passo que com seus discípulos não acontecia à mesma coisa; eles viam e ouviam o ensino, o sentido espiritual que permanece para sempre; não se prendiam à figura ou a palavra sonora, que se extingue desvanece. _____________________Cairbar Schutel - do Livro Parábolas e ensinamentos

A luta entre o espírito e a matéria

A luta entre o espírito e a matéria, parece vir de tempos imemoriais. Basta passar um relance de vistas na História para que nos convençamos das transformações sucessivas por que vem passando o nosso mundo, acionado sempre pelas Potestades Superiores, às quais está afeta a direção do nosso planeta. E é justamente quando o jugo se torna mais pesado, quando o caráter se deprime, quando a materialidade invade e domina a família e a sociedade, que os seres invisíveis acentuam a sua ação, para ganharmos, na senda do progresso, o tempo perdido em vãos holocaustos, que só serviram para assinalar nosso atraso espiritual! Foi numa época semelhante à nossa, em que a Humanidade havia descambado para o terreno acidentado do fanatismo, da superstição e do materialismo, que o Céu se fez ouvir pelo seu maior Expoente, pelo seu mais lídimo Representante. Foi nessa época que se encarnou entre nós o grande Espírito que conhecemos por Jesus Cristo. Enviado com determinada missão, Divino Messias, desde o seu nascimento, manifestou poderes superiores, que o exaltaram, — nos momentos de dúvidas e vacilações quanto à sua real grandeza, — aos olhos dos que o cercavam. Todos esses fatos, tidos como miraculosos pela ignorância, popular e pelo autoritarismo clerical, não eram mais do que provas objetivas dos atributos do Espírito, magnificamente sintetizadas no Filho do Homem. As vozes dos augúrios, os cânticos, as revelações, as manifestações em sonhos, as materializações, as maravilhas diversas, os fatos de ordem psíquica e extra-sensorial narrados nos Evangelhos, constituem o caráter positivo da Religião de Jesus Cristo. _____________________________Cairbar Schutel - do Livro Parábolas e ensinamentos

domingo, 29 de maio de 2016

Libertando-se do medo da morte

4. Para libertar-se do temor da morte é mister poder encará-la sob o seu verdadeiro ponto de vista, isto é, ter penetrado pelo pensamento no mundo espiritual, fazendo dele uma idéia tão exata quanto possível, o que denota da parte do Espírito encarnado um tal ou qual desenvolvimento e aptidão para desprender-se da matéria. No Espírito atrasado a vida material prevalece sobre a espiritual. Apegando-se às aparências, o homem não distingue a vida além do corpo, esteja embora na alma a vida real; aniquilado aquele, tudo se lhe afigura perdido, desesperador. Se, ao contrário, concentrarmos o pensamento, não no corpo, mas na alma, fonte da vida, ser real a tudo sobrevivente, lastimaremos menos a perda do corpo, antes fonte de misérias e dores. Para isso, porém, necessita o Espírito de uma força só adquirível na madureza. O temor da morte decorre, portanto, da noção insuficiente da vida futura, embora denote também a necessidade de viver e o receio da destruição total; igualmente o estimula secreto anseio pela sobrevivência da alma, velado ainda pela incerteza. Esse temor decresce, à proporção que a certeza aumenta, e desaparece quando esta é completa. Eis aí o lado providencial da questão. Ao homem não suficientemente esclarecido, cuja razão mal pudesse suportar a perspectiva muito positiva e sedutora de um futuro melhor, prudente seria não o deslumbrar com tal idéia, desde que por ela pudesse negligenciar o presente, necessário ao seu adiantamento material e intelectual.________________Livro O Céu e o Inferno

Medo da morte

1. O homem, seja qual for a escala de sua posição social, desde selvagem tem o sentimento inato do futuro; diz-lhe a intuição que a morte não é a última fase da existência e que aqueles cuja perda lamentamos não estão irremissivelmente perdidos. A crença da imortalidade é intuitiva e muito mais generalizada do que a do nada. Entretanto, a maior parte dos que nela crêem apresentam-se-nos possuídos de grande amor às coisas terrenas e temerosos da morte! Por quê? 2. Este temor é um efeito da sabedoria da Providência e uma conseqüência do instinto de conservação comum a todos os viventes. Ele é necessário enquanto não se está suficientemente esclarecido sobre as condições da vida futura, como contrapeso à tendência que, sem esse freio, nos levaria a deixar prematuramente a vida e a negligenciar o trabalho terreno que deve servir ao nosso próprio adiantamento. Assim é que, nos povos primitivos, o futuro é uma vaga intuição, mais tarde tornada simples esperança e, finalmente, uma certeza apenas atenuada por secreto apego à vida corporal. 3. À proporção que o homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui; uma vez esclarecida a sua missão terrena, aguarda-lhe o fim calma, resignada e serenamente. A certeza da vida futura dá-lhe outro curso às idéias, outro fito ao trabalho; antes dela nada que se não prenda ao presente; depois dela tudo pelo futuro sem desprezo do presente, porque sabe que aquele depende da boa ou da má direção deste. A certeza de reencontrar seus amigos depois da morte, de reatar as relações que tivera na Terra, de não perder um só fruto do seu trabalho, de engrandecer-se incessantemente em inteligência, perfeição, dá-lhe paciência para esperar e coragem para suportar as fadigas transitórias da vida terrestre. A solidariedade entre vivos e mortos faz-lhe compreender a que deve existir na Terra, onde a fraternidade e a caridade têm desde então um fim e uma razão de ser, no presente como no futuro.____________________Livro O Céu E o Inferno

sábado, 28 de maio de 2016

No Reino em Construção

Entretanto, nem todos os Espíritos que encarnam na Terra vão para ai em expia- ção- Escutaste o pessimismo que se esmera em procurar as deficiências da Humanidade, como quem se demora deliberadamente nas arestas agressivas do mármore de obra-prima Inacabada e costumas dizer que a Terra está perdida. Observa, porém, as multidões que se esforçam silenciosamente pela santificação do porvir. Compulsaste as folhas da imprensa, lendo a história do autor de homicídio lamentá- vel e sob a extrema revolta, trouxeste ao labirinto das opiniões contraditórias a tua própria versão do acontecimento, asseverando que estamos todos no teatro do crime. Recorda, contudo, os milhões de pais e mães, tocados de abnegação e heroísmo, que abraçam todos os sacrifícios no lar para que a delinqüência desapareça. Conheceis jovens que se transviaram. na leviandade, desvairando-se em golpes de selvageria e loucura e, examinando acremente determinados sucessos que devem estar catalogados na patologia da mente, admites que a juventude moderna se encontra em adiantado processo de desagregação do caráter. Relaciona, todavia, os milhões de rapazes e meninas, debruçados sobre livros e máquinas, através do labor e do estudo, em muitas circunstâncias imolando o pró- prio corpo à fadiga precoce, para integrarem dignamente a legião do progresso. Sabes que há companheiros habituados aos prazeres noturnos e, ao vê-los comprando o próprio desgaste a prego de ouro, acreditas que toda a comunidade humana jaz entregue à demência e ao desperdício. Reflete, entretanto, nos milhões de cérebros e braços que atravessam a noite, no recinto das fábricas e junto dos linotipos, em hospitais e escritórios, nas atividades da limpeza e da vigilância, de modo a que a produção e a cultura, a saúde e a tranqüilidade do povo sejam asseguradas. Marcaste o homem afortunado que enrijeceu mãos e bolsos, na sovinice, e esposas a convicção de que todas as pessoas abastadas são modelos completos; de avareza e crueldade. Considera, no entanto, os milhões de tarefeiros do serviço e da beneficência, que diariamente colocam o dinheiro em circulação, a fim de que os homens conheçam a honra de trabalhar e a alegria de viver. Não condenes a Terra pelo desequilíbrio de a1guns. Medita, em todos os que se encontram suando e sofrendo, lutando e amando, no levantamento do futuro melhor, e reconhecerás que o Divino Construtor do Reino de Deus no mundo está esperando também por ti._____________________________________________Livro da Esperança de Euripedes Barsanulfo

Perante o Mundo

“A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas São os Mundos que circulam no espaço infinito e oferecem aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos.” Clamas que não encontraste a felicidade no mundo, quando o mundo, - bendita universidade do espírito,dilapidada, por inúmeras gerações,te inclui entre aqueles de quem espera cooperação para construir a própria felicidade. Quando atingiste o diminuto porto do berço, com a fadiga da ave que tomba inerme, depois de haver planado longo tempo, sobre mares enormes, conquanto chorasses, argamassavas com teus vagidos, a alegria. e a esperança dos pais que te acolhiam, entusiasmados e jubilosos, para seres em casa o esteio da segurança. Alcançaste o verde refúgio da meninice embora mostrasses a inconsciência afável da. infância, foste para os mestres que te afagaram na escola a promessa viva de luz e realização que lhes emblemava o porvir.Chegaste ao róseo distrito da juventude e apesar da inexperiência em que se te esfloravam todos os sonhos, os dirigentes de serviço, na pro fissão que abraçaste, contavam contigo para dignificar o trabalho e clarear os caminhos. Constituíste o lar próprio e, não obstante tateasses os domínios da responsabilidade, em meio de flores e aspirações, espíritos, afeiçoados e amigos te aguardavam generoso concurso para se corporificarem, na condição de teus filhos, através da reencarna- ção. Penetraste os círculos da fé renovadora que te honra os anseios de perfeição espiritual e se bem que externasses imediata necessidade de esclarecimento e socorro, companheiros de ideal saudaram-te a presença, na certeza de teu apoio ao levantamento das iniciativas mais nobres. Casa que habitas, campo que lavras, plano que arquitetas e obras que edificas solicitam-te paz e trabalho. Amigos que te ouvem rogam-te bom amimo. Doentes que te buscam suspiram por melhoras. Criaturas que te rodeiam pedem-te amparo e compreensão para que lhes acrescentes a coragem. Cousas que te cercam requisitam-te proteção e entendimento para que se lhes aprimore o dom de servir. Tudo é ansiosa expectativa, ao redor de teus passos. Não maldigais a Terra que te abençoa. Afirmas que esperas, em vão, pelo auxílio do mundo... Entretanto é o mundo que espera confiantemente por ti._______________________________________Livro da Esperança - Eurípedes Barsanulfo

sábado, 21 de maio de 2016

Pensamento e reforma íntima

Tudo o que existe no universo tem a sua origem no pensamento. A criação, princípio de tudo podemos dizer que teve a ação de uma força inteligente (o pensamento), senão como conceber tanta perfeição em a natureza?. Deus, o criador, é o pensamento universal. Assim também somos nós, com as nossas criações. Todas as coisas que inventamos tiveram início em nossa mente e foi se realizando passo a passo; somos enfim, coadjuvantes da obra de Deus. As nossas realizações a serviço do bem são os nossos pensamentos positivos materializados em harmonia com a obra divinal, e tudo que se faz contrário a essa ação, são os nossos pensamentos negativos desestruturando o nosso meio e todo o universo. Por tudo isso, é certo afirmar que “somos o que pensamos”, temos a capacidade de construirmos a nossa felicidade ou a nossa desdita e o agora se faz o momento oportuno de buscarmos mudanças em nosso padrão vibracional. Não se trata aqui, de enganar os nossos pensamentos e sim sentarmos diante deles, livrando-se dos julgamentos e rótulos que normalmente damos para cada um: (inveja, ódio, ciúme, avareza...) e dialogarmos amorosamente numa firme resolução de vencê-los. Chamamos a esse permanente esforço de “o bom combate” ou “reforma íntima”, quando mergulhamos sem culpas em nosso interior a procura do auto-conhecimento. Encaramos tête-à-tête todas as nossas mazelas, começamos a lidar com elas no perseverante exercício da renovação e a sentir que a cada dia, vamos galgando um passo a mais na caminhada, lembrando-se que toda virtude adquirida constitui-se patrimônio espiritual conquistado.___________________________________________________________________________Arquivo do autor:ceacgallo

sábado, 14 de maio de 2016

Os Mensageiros

- Segundo livro da série, retrata a renovação de André Luiz, o tédio com o passado e o desejo sincero de trabalhar em benefício do próximo. Narra o próprio André: "Desligando-me dos laços inferiores que me prendiam às atividades terrestres, elevado entendimento felicitou-me o espírito. Semelhante libertação, contudo, não se fizera espontânea. Sabia, no fundo, quanto me custara abandonar a paisagem doméstica, suportar a incompreensão da esposa e a divergência dos filhos amados. Guardava a certeza de que amigos espirituais, abnegados e poderosos, me haviam a auxiliado a alma pobre e imperfeita, na grande transição. Antes, a inquietude relativa à companheira torturava-me incessantemente o coração; mas agora, vendo-a profundamente identificada com o segundo marido, não via recurso outro que procurar diferentes motivos de interesse. Foi assim que, eminentemente surpreendido, observei minha própria transformação, no curso dos acontecimentos." Pensando desta forma, feliz e renovada, é levado por Tobias, seu companheiro de trabalho nas Câmeras de Retificação, até Aniceto, nobre Instrutor no Ministério da Comunicação. Aprovado para ingressar no quadro de aprendizes, André Luiz tem a oportunidade de conhecer o fascinante serviço de formação de médiuns para fins de tarefas específicas na Crosta. Em companhia de Tobias, já no Ministério, André espanta-se: - "Mas esta organização imensa restringe-se ao movimento de transmissão de mensagens?" - perguntei curioso. O companheiro sorriu significativamente e esclareceu: - "Não suponha se encontre aqui localizado o serviço de correio, simplesmente. O Centro prepara entidades a fim de que se transformem em cartas vivas de socorro e auxílio aos que sofrem no Umbral, na Crosta e nas Trevas. Acreditaria, porventura, que tanto trabalho se destinasse apenas a mera movimentação de noticiário? Amplie suas vistas. Este serviço é a cópia de quantos se vêm fazendo nas mais diversas cidades espirituais dos planos superiores. Preparam-se aqui numerosos companheiros para a difusão de esperanças e consolos, instruções e avisos, nos diversos setores da evolução planetária. Não me refiro tão só a emissários invisíveis. Organizamos turmas compactas de aprendizes para a reencarnação. Médiuns e doutrinadores saem daqui às centenas, anualmente. Tarefeiros do conforto espiritual encaminham-se para os círculos carnais, em quantidade considerável, habilitados pelo nosso Centro de Mensageiros." Mais tarde, em companhia de Aniceto e Vicente, outro médico, André Luiz tem a oportunidade de realizar aprendizado na Terra, junto aos encarnados, fornecendo bastas e enriquecedoras notícias do desdobramento das tarefas que, segundo Emmanuel, no prefácio do livro, constituíram o relatório incompleto de uma semana de trabalho espiritual dos mensageiros do Bem, junto aos homens.

De que estrela me vem

"- Amigos, por quem sois, explicai-me em que novo mundo me encontro... De que estrela me vem, agora, esta luz confortadora e brilhante? Um deles afagou-me a fronte, como se fora conhecido pessoal de longo tempo e acentuou: - Estamos nas esferas espirituais vizinhas da Terra, e o Sol que nos ilumina, neste momento, é o mesmo que nos vivificava o corpo físico. Aqui, entretanto, nossa percepção visual é muito mais rica. A estrela que o Senhor acendeu para os nossos trabalhos terrestres é mais preciosa e bela do que a supomos quando no círculo carnal. Nosso Sol é a divina matriz da vida, e a claridade que irradia provém do Autor da Criação. Meu ego, como que absorvido em onda de infinito respeito, fixou a luz branda que invadia o quarto, através das janelas, e perdi-me no curso de profundas cogitações. Recordei, então, que nunca fixara o Sol, nos dias terrestres, meditando na imensurável bondade dAquele que no-lo concede para o caminho eterno da vida. Semelhava-me assim ao cego venturoso, que abre os olhos para a Natureza sublime, depois de longos séculos de escuridão." -_______________________________________________________________ André Luiz - Clarêncio, cap.2 - Nosso Lar

sexta-feira, 25 de março de 2016

Assim o fizemos

Os familiares desagradáveis são hoje o que deles fizemos ontem. Nada acontece por acaso, sem razão, em nossas vidas. Por isso diz Emmanuel: “Talvez o contato deles agora nos desagrade pela tisna de sombra que já deixamos de ter ou de ser”. Nesta própria existência terrena isso acontece com frequência. Ao nos tornarmos adultos não suportamos as peraltices das crianças, sem nos lembrarmos das que também já fizemos quando crianças. Ao nos enriquecermos não toleramos os peditórios ou a incapacidade dos parentes pobres, esquecidos do que fazíamos quando necessitados. Ao nos ilustrarmos não suportamos nos outros a ignorância em que ontem vivíamos. Educamos mal os nossos filhos e muitas vezes os deseducamos a gritos e pancadas. Mas quando eles crescem não suportamos o seu comportamento desrespeitoso, pelo qual somos responsáveis. Não os corrigimos em criança nem os ajudamos na adolescência, mas os fizemos desorientados e depois não os toleramos. Nas vidas sucessivas, através das reencarnações, procedemos também dessa maneira. E quando eles voltam ao nosso convívio não queremos aceitar e muito menos corrigir os seus defeitos. Na verdade, se não os aceitarmos hoje como são, teremos de aceitá-los amanhã, pois as leis da vida exigem, segundo ensinou Jesus, que nos entendamos com os companheiros “enquanto estivermos a caminho com eles”. A fuga aos deveres atuais será paga mais tarde com os juros devidos. Usando o livre arbítrio podemos rejeitá-los hoje, mas a contabilidade divina anotará o nosso débito para depois, com os acréscimos legais. ____________________José Herculano Pires

Familiares problemas

Desposaste alguém que não mais te parece a criatura ideal que conheceste. A convivência te arrancou aos olhos as cores diferentes com que o noivado te resguardava o futuro que hoje se fez presente. Em torno, provações, encargos renascentes, familiares que te pedem apoio, obstáculos por vencer. E sofres. Entretanto, recorda que antes da união falavas de amor e te mostravas na firme disposição em que assumiste os deveres que te assinalam agora os dias, e não recues da frente de trabalho a que o mundo te conduziu. Se a criatura que te compartilha transitoriamente o destino não é aquela que imaginaste e sim alguém que te impõe difícil tarefa a realizar, observa que a união de ambos não se efetuaria sem fins justos e dá de ti quanto possível para que essa mesma criatura venha a ser como desejas. * * * Diante de filhos ou parentes outros que se valem de títulos domésticos para menosprezar-te ou ferir-te, nem por isso deixes de amá-los. São eles, presentemente na Terra, quais os fizemos em outras épocas, e os defeitos que mostrem não passam de resultados das lesões espirituais causadas por nós mesmos, em tempos outros, quando lhes orientávamos a existência nas trilhas da evolução. É provável tenhamos dado um passo à frente. Talvez o contato deles agora nos desagrade pela tisna de sombra que já deixamos de ter ou de ser. Isso, porém, é motivação para auxílio, não para fuga. * * * Atentos ao princípio de livre arbítrio que nos rege a vida espiritual, é claro que ninguém te impede de cortar laços, sustar realizações, agravar dívidas ou delongar compromissos. O divórcio é medida perfeitamente compreensível e humana, toda vez que os cônjuges se confessam à beira da delinquência, conquanto se erija em moratória de débito para resgate em novo nível. E o afastamento de certas ligações é recurso necessário em determinadas circunstâncias, a fim de que possamos voltar a elas, algum dia, com o proveito preciso. Reflete, porém, que a existência na Terra é um estágio educativo ou reeducativo e tão só pelo amor com que amamos, mas não pelo amor com que esperamos ser amados, ser-nos-á possível trabalhar para redimir e, por vezes, saber perder para realmente vencer._______________________________________________Emmanuel/Chico Xavier

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Bom ânimo

– Irmãos, continuemos hoje em nosso comentário acerca do bom ânimo. Não me creiam separado de vocês por virtudes que não possuo. A palavra fácil e bem posta é, muita vez, dever espinhoso em nossa boca, constrangendo-nos à reflexão e à disciplina. Também sou aqui um companheiro à espera da volta. A prisão redentora da carne acena-nos ao regresso. É que o propósito da vida trabalha em nós e conosco, através de todos os meios, para guiar-nos à perfeição. Cerceando-lhe os impulsos, agimos em sentido contrário à Lei, criando aflição e sofrimento em nós mesmos. No plano físico, muitos de nós supúnhamos que a morte seria ponto final aos nossos problemas, enquanto outros muitos se acreditavam privilegiados da Infinita Bondade, por haverem abraçado atitudes de superfície, nos templos religiosos. A viagem do sepulcro, no entanto, ensinou-nos uma lição grande e nova – a de que nos achamos indissoluvelmente ligados às nossas próprias obras. Nossos atos tecem asas de libertação ou algemas de cativeiro, para a nossa vitória ou nossa perda. A ninguém devemos o destino senão a nós próprios. Entretanto, se é verdade que nos vemos hoje sob as ruínas de nossas realizações deploráveis, não estamos sem esperança. Se a sabedoria de nosso Pai Celeste não prescinde da justiça para evidenciar-se, essa mesma justiça não se revela sem amor. Se somos vítimas de nós mesmos, somos igualmente beneficiários da Tolerância Divina, que nos descerra os santuários da vida para que saibamos expiar e solver, restaurar e ressarcir. Na retaguarda, aniquilávamos o tempo, instilando nos outros sentimentos e pensamentos que não desejávamos para nós, quando não estabelecíamos pela crueldade e pelo orgulho vasta sementeira de ódio e perseguição. Com semelhantes atitudes, porém, levantamos em nosso prejuízo a desarmonia e o sofrimento, que nos sitiam a existência, quais inexoráveis fantasmas. O pretérito fala em nós com gritos de credor exigente, amontoando sobre as nossas cabeças os frutos amargos da plantação que fizemos... Daí, os desajustes e enfermidades que nos assaltam a mente, desarticulando-nos os veículos de manifestação. Admitíamos que a transição do sepulcro fosse lavagem miraculosa, liberando-nos o Espírito, mas ressuscitamos no corpo sutil de agora com os males que alimentamos em nosso ser. Nossas ligações com a retaguarda, por essa razão, continuam vivas. Laços de afetividade mal dirigida e cadeias de aversão aprisionam-nos, ainda, a companheiros encarnados e desencarnados, muitos deles em desequilíbrios mais graves e constringentes que os nossos. Nutrindo propósitos de regeneração e melhoria, somos hoje criaturas despertando entre o Inferno e a Terra, que se afinam tão entranhadamente um com o outro, como nós e nossos feitos. Achamo-nos imbuídos do sonho de renovação e paz, aspirando à imersão na Vida Superior, entretanto, quem poderia adquirir respeitabilidade sem quitar-se com a Lei? Ninguém avança para a frente sem pagar as dívidas que contraiu. ________________________________________________Francisco Cândido Xavier – Ação e Reação – pelo Espírito André Luiz

domingo, 24 de janeiro de 2016

Anjo em formação

Nossa mente fragmentária dificilmente compreende o ensino espírita segundo o qual “tudo se encadeia no Universo”. O eu nos separa dos outros, das coisas e dos seres. Sentimo-nos, apesar de todas as raízes que nos prendem à terra e de todos os liames que nos amarram aos outros, como seres independentes. Isolamo-nos na trincheira ilusória do nosso eu para enfrentar o mundo e os homens. Não raro nos dispomos a enfrentar Deus e os anjos, duvidando de tudo, como se a medida precária, a fita métrica da nossa razão constituísse o fio de prumo da realidade universal. Preferimos a afirmação de Protágoras de que o homem é a medida de todas as coisas (e o homem nesse caso somos nós e não os outros) à lição platônica de que é Deus a medida única do todo. Essa atitude de isolamento arrogante, que gera o orgulho e a vaidade, fecha-nos no pequenino universo do nosso eu particular. Daí a conhecida afirmação de Sartre, característica do nosso tempo: “os outros são o inferno”. E como vivemos com os outros, deles dependendo, a eles amarrados pela estrutura social e pela dinâmica espiritual, sentimo-nos no inferno. A mensagem de André Luiz, renovando a lição essencial do Cristo, vem lembrar-nos que não somos apenas homens, mas anjos em formação. Como homens sofremos porque nos situamos na zona intermediária da evolução, entre os animais e os anjos. Nossas angústias, nosso tédio, nosso desespero decorrem do conflito corpo-espírito. Mas nossas esperanças se alimentam das claridades celestes que se acendem progressivamente em nossa alma. Nosso corpo nos isola no mundo, mas nosso Espírito nos liga a todas as coisas e a todos os seres. Esse corpo se fecha nas sensações materiais, reduzidas à percepção sensorial. Mas nosso Espírito se abre nas emoções espirituais que nos dão a percepção extra-sensorial. A solução dos nossos problemas está assim em nós mesmos. A fase de transição que hoje vivemos na Terra exige de nós a compreensão global da vida. E o caminho para essa compreensão é o serviço ao próximo – que nos liga aos outros –, o desenvolvimento das nossas experiências através do trabalho, a busca de uma visão nova da vida como processo evolutivo – em que os fins imediatos são apenas meios para atingirmos a finalidade real da existência._________________J. Herculano Pires

O auto-castigo

Deus não castiga o suicida, pois é o próprio suicida quem se castiga. A noção do castigo divino é profundamente modificada pelo ensino espírita. Considerando-se que o Universo é uma estrutura de leis, uma dinâmica de ações e reações em cadeia, não podemos pensar em punições de tipo mitológico após a morte. Mergulhado nessa rede de causas e efeitos, mas dotado do livre arbítrio que a razão lhe confere, o homem é semelhante ao nadador que enfrenta o fatalismo das correntes de água, dispondo de meios para dominá-las. Ninguém é levado na corrente da vida pela força exclusiva das circunstâncias. A consciência humana é soberana e dispõe da razão e da vontade para controlar-se e dirigir-se. Além disso, o homem está sempre amparado pelas forças espirituais que governam o fluxo das coisas. Daí a recomendação de Jesus: “Orai e vigiai”. A oração é o pensamento elevado aos planos superiores – a ligação do escafandrista da carne com os seus companheiros da superfície – e a vigilância é o controle das circunstâncias que ele deve exercer no mergulho material da existência. O suicida é o nadador apavorado que se atira contra o rochedo ou se abandona à voragem das águas, renunciando ao seu dever de vencê-las pela força dos seus braços e o poder da sua coragem, sob a proteção espiritual de que todos dispomos. A vida material é um exercício para o desenvolvimento dos poderes do Espírito. Quem abandona o exercício por vontade própria está renunciando ao seu desenvolvimento e sofre as consequências naturais dessa opção negativa. Nova oportunidade lhe será concedida, mas já então ao peso do fracasso anterior. Cornélio Pires, o poeta caipira de Tietê, responde à pergunta do amigo através de exemplos concretos que falam mais do que os argumentos. Cada uma de nossas ações provoca uma reação da vida. A arte de viver consiste no controle das nossas ações (mentais, emocionais ou físicas) de maneira que nós mesmos nos castigamos ou nos premiamos. Mas mesmo no auto-castigo não somos abandonados por Deus, que vela por nós em nossa consciência._________________________J. Herculano Pires

Legendas do Obreiro da Verdade

Compreender que as necessidades e as esperanças dos outros são fundamentalmente iguais às nossas. Auxiliar sem exigir que o beneficiado nos tome as ideias. Reconhecer que a Divina Providência possui estradas inúmeras para socorrer as criaturas e iluminá-las. Aprender a tolerar com paciência as pequenas humilhações, a fim de prestar os grandes testemunhos de sacrifício pessoal que a Causa da Verdade lhe reclamará possivelmente algum dia. Esquecer-se pela obra que realiza. Guiar-se pela misericórdia e não pela crítica. Abençoar sem reprovar.• Construir ou reconstruir, sem ofender ou condenar. Trabalhar sempre sem o propósito de ser ou parecer o maior ou o melhor ante os demais. Cultivar ilimitadamente a cooperação e a caridade. Coibir-se de irritação e de azedume. Agir sem criar problemas. Observar que sem a disciplina individual no campo do bem, a prática do bem se faz impossível. Respeitar a personalidade dos companheiros. Encontrar ocasião para atender à bênção da prece. Deter-se nas qualidades nobres e olvidar as prováveis deficiências do próximo. Valorizar o esforço alheio. Nunca perder tempo. Apagar inimizades ou discórdias através da desculpa fraterna e do serviço constante que devemos uns aos outros. Criar oportunidades de trabalho para si, ajudando aos outros no sentido de descobrirem as oportunidades de trabalho que lhes digam respeito à capacidade e às possibilidades de realização, conservando em tudo a certeza inalterável de que toda pessoa é importante na edificação do Reino de Deus. __________________________________Emmanuel

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O martírio dos suicidas

Entrevista de Yvonne Pereira Há 80 anos, 1926, um livro começava a ser escrito. Sem precedentes na literatura mediúnica, ele trazia as descrições de um homem e suas vidas, existências que culminaram com uma das piores tragédias que um espírito pode se imputar: o suicídio. Era a trajetória, o martírio, a esperança de recuperação, e a certeza de que para evoluir bastava tentar... O autor era um mundialmente famoso escritor português, Camilo Castelo Branco, que havia se suicidado em 1890, aos 65 anos, por não suportar a cegueira que o acometia e que impedia de dedicar-se às letras, atividade que tanto amava. Como Espírito, escolheu a médium Yvonne Pereira para ditar seu infortúnio e essa opção não foi aleatória, Yvonne era única não só pelas impressionantes faculdades mediúnicas que possuía, mas também por ter sido contemporânea de Camilo em sua existência anterior, em Portugal, e por ter também se suicidado naquela vida. Essa condição foi fundamental para que Yvonne conseguisse repassar aos leitores exatamente o que Camilo desejava. O livro ganhou o nome de Memórias de um Suicida e é considerado o mais importante sobre o assunto, tanto pelas informações que contém quanto pela contribuição em ter livrado muitas pessoas desse ato desesperado. Memórias também foi responsável por trazer ao Brasil o trabalho executado pelo Centro de Valorização da Vida – CVV. Foi a partir da leitura do livro que, em 1962, criaram a instituição que tem finalidade única de prevenir o suicídio. Comemorando então a importância de Memórias de um Suicida, a Maiêutica deste mês é uma compilação de duas entrevistas inéditas que Yvonne concedeu em 1979 a Mauro e Elisabeth Operti e a Altivo Carismi Pamphiro e que serão publicadas na íntegra no livro Pelos Caminhos da Mediunidade Serena, lançamento das Publicações Lachartre. O livro, organizado pelo biógrafo de Yvonne, Pedro Camilo, vai trazer uma coletânea de entrevistas nas quais a médium discorre sobre suas impressionantes faculdades, seus livros, os Espíritos com os quais conviveu, entre outras curiosidades. Pude lê-lo em primeira mão; uma preciosidade! E garante que as perguntas escolhidas para compor esta matéria são parcelas minúsculas das entrevistas inéditas; de certa forma isso muito me entristece, pois conferi a maravilha do todo. Consola-me, porém, o fato de que muitos irão procurar os livros de Yvonne justamente por vislumbrar seus conhecimentos nestas páginas... Como conheceu o Espírito Camilo Castelo Branco, autor do livro? Quando tinha 12 anos vi o Espírito Camilo numa festa de aniversário de uma coleguinha, na cidade de Brasópolis, sul de Minas. Convidada para aquela festinha, fui e vi o Camilo muito triste, encostado numa mesa, com a mão no rosto; mas eu não sabia quem ele era. Mais tarde, observando um romance que uma tia lia, vi o retrato do Camilo e o reconheci. Havia afinidade entre nós. Camilo viveu em Portugal na época de meu suicídio em Lisboa (numa vida anterior a esta). Daí eu supor que o meu pai daquela vida e o Camilo foram contemporâneos, e naturalmente eu também. E como meu pai da vida passada era um intelectual calculo que eles se conheciam. Além disso, ainda havia com o Camilo a afinidade pelo suicídio. Como se deu o início da produção de Memórias de um Suicida? Em 1926 assisti a uma sessão na fazenda do presidente do Centro Espírita de Lavras e vi o Camilo, que me deu sua primeira mensagem convidando-me para fazer um livro com ele – os bons Espíritos não impõem, eles convidam o médium. O Camilo começou, então, a me dar as primeiras mensagens no Centro Espírita de lavras. Mais tarde, reconheci que Memórias de um Suicida ficou muito incompleto; eram só as narrativas do Camilo. Tanto que a crítica hoje diz que, nesse livro, há 30% de Camilo e 70% de Leon Denis. De fato é isso mesmo. O livro estava incompleto; não havia explicações doutrinárias, conclusões filosóficas... O Camilo não conhecia a Doutrina Espírita para dizer tudo isso. Ele narrou o que se passou com ele. Esse livro ficou guardado por muito tempo... Comigo, como manuscrito, foram 25 anos, e só o entreguei no fim de 1954. Por quê? Bem, eu não o aceitei. Achava que era mistificação – eu não conhecia bem a Doutrina quando comecei a recebê-lo. Nem mesmo O Livro dos Médiuns eu havia estudado – e ele é a base dessa instrução toda sobre a vida no além-túmulo, inclusive da existência de casas, de hospitais etc. Acontece que esse noticiário todo não é novo, porque aquele grande médico sueco, Swedenborg, foi o primeiro que andou falando essas coisas, e com muito detalhe e beleza. Depois disso, as mensagens examinadas pelo Ernesto Bozzano falam também de relatos da vida de além-túmulo que foram recebidos antes da Codificação. Então, só depois que conheci tudo isso é que fiquei descansada. Acredito, porém, que muita coisa na obra é analogia, porque nós não temos palavras para descrever o que há no além-túmulo. Seria preciso que criássemos muitos termos, apreendêssemos mais alguma coisa para poder repetir, traduzir, tudo, tudo quanto os Espíritos querem falar. Então como fez para escrever o que não pretendia? O que me valeu, não só nesse livro como nos outros, é que vejo tudo quanto os Espíritos dizem. Vejo coisas que não conheço, muitos aparelhos que eu não acreditava que existissem! Via muitos aparelhos, inclusive para regressão de memória – parece uma cinta de ferro na cabeça! Eu não ficava muito em mim, porque do alto eu via meu corpo lá em baixo, escrevendo o livro. Quando acordava, estava com a cabeça toda dolorida, mas, com uma prece, aquilo tudo desaparecia e eu me sentia bem. Seria como se você visse antes de escrever, para poder escrever melhor? Por exemplo: quando escrevi sobre aquele poço, onde ficavam muitos suicidas, eu mesma não sabia o que era aquilo, se era criação mental dos Espíritos-guias ou daquelas mentes alucinadas. No mundo não há expressão para traduzir o sofrimento de um suicida. Olha que eu sofro isso desde pequena... Eu passava as noites inteiras com aquela aflição remanescente do suicídio. Era uma angústia indescritível! Eu senti essa angústia durante grande parte da minha vida e ela só começou a desaparecer depois da publicação do livro. Mas eu sofria muito quando eles me mostravam aquelas cenas todas. Posso descrever até o cheiro do enxofre e daquelas matérias do vulcão. Eu via aquilo escorrer... Via as paredes duras e delas descendo aqueles metais fétidos... Conversando com Chico, ele me disse que aquilo era um vulcão extinto. Você via isso no momento em que estava escrevendo? Não, eu vi antes. Desde pequena eu via essas cenas. Também fui suicida e sofri muitíssimo no além. Então foi uma espécie de recordação? Sim. Creio que aquela cinta que puseram na minha cabeça era para regressão de memória. Meu espírito foi salvo pelo Charles, mas ele não podia ir lá me retirar daquele antro. Ele serviu-se da linha da umbanda. É por isso que eu respeito a umbanda. Eu vi. Puseram uma corda por onde desciam os Espíritos de umbanda. Quando escrevi o romance, eles me puseram a tal cinta que creio, foi para provocar a regressão de memória. Aquilo doía muito. Então, havia uma cratera da qual fui retirada pelos Espíritos de umbanda através de uma corda. Eu respeito a umbanda por causa disso. Há muita coisa que não está certa na umbanda, não resta a menor dúvida; há muitas mistificações... Mas os Espíritos adiantados se servem desses Espíritos para fazer o bem. Quantas vezes eu fui com o Dr. Bezerra fazer esses trabalhos, na Terra mesmo, ou no astral inferior... Você sentia tudo? Minha mediunidade toda é desse tipo positivo, que sofre tudo. Se era afogado ou enforcado, eu chegava a ficar com o pescoço roxo, a carótida crescia, a língua vinha para fora, os olhos arregalavam... Era uma coisa horrorosa! Eu não via como ficava; os companheiros de trabalho me contavam depois. A conseqüência do suicídio por queda de altura é, também, horrorosa, porque ele nunca chega embaixo. Já escrevi isso num livro meu. Ele fica se despenhando toda vida, sentindo que vai morrer e a queda não termina nunca, Léon Denis, que é um dos mais importantes continuadores da obra de Kardec, fala que essa tortura costuma vir com a reencarnação, pois o perispírito traz essas impressões, podendo dar origem a doenças nervosas que a medicina não cura. A única coisa que suaviza, que começa a curar é o Evangelho. Tenho uma sobrinha que todo mundo pensava que estava com indícios de mediunidade, mas ela tinha era obsessão e até convulsões, porque há casos de suicidas reencarnados, que trazem esses desequilíbrios nervosos que parecem epilepsia, mas não são. Para essa minha sobrinha, o Dr. Bezerra de Menezes escreveu uma das melhores mensagens que recebi na vida. Ela foi suicida! Agora se sabe que não há que se desenvolver a mediunidade. Ela não tem a menor condição para isso, pois tem o sistema nervoso completamente enfermo. O cérebro, também, não pode estar bom. Eu, por exemplo, depois que me dediquei muito à Doutrina, tenho que dar graças a Deus, porque me reequilibrei, mas a única coisa que reequilibra é, justamente, o trabalho do Evangelho, o trabalho doutrinário. Como é o sofrimento de um suicida? É o sofrimento superlativo e quem não foi suicida não pode saber, não pode fazer uma idéia do que é. Imagine uma aglomeração desses suicidas, que ficam numa confusão horrorosa e não compreendem o que está se passando, porque há vários tipos de suicidas juntos, no mesmo local, cada um com as suas reminiscências e as suas vibrações. Eles ficam desesperados porque se sentem “mortos-vivos”, e são verdadeiros “mortos-vivos” porque se sabe que o fluido vital ainda está neles, demora para se dissipar – podemos ler isso em Gabriel Delanne. Uns ainda se sentem afogando – a gente vê o trecho do mar em que estão se afogando! - ; outros se vêem horrorizados com um trem de ferro; alguns se vêem desesperados com os venenos e outros com tiros no ouvido – e tudo isso na mesma região e ao mesmo tempo. Essas vibrações se chocam; é um verdadeiro inferno, não tenho outra expressão! São impressões que um ser humano que não foi suicida não pode avaliar. Eu compreendi muito bem porque também fui suicida, também estive lá. Como médium de incorporação, recebi tudo quanto foi Espírito suicida, e eu sentia as impressões e o sofrimento deles. Afogamento é a coisa mais horrorosa que se pode sentir. Agora, a morte por trem de ferro é a pior de todas; a pessoa fica numa confusão horrorosa, porque se vê vivo e catando os pedaços do corpo; e cada pedaço que cata ele sente que é seu, que está com ela e ao mesmo tempos não está. É algo que ninguém pode avaliar nem quase compreender. Como são os hospitais que amparam os suicidas? São uma beleza mesmo! E note-se que essa esfera onde está o hospital é inferior, não é muito boa não. É outra dimensão, mas por aqui mesmo. Ali há muito sofrimento, mas é tudo muito bonito. Somente não há coloração. É quase tudo branco. Eles têm tudo lá: escadarias, móveis, aventais, flores... Tudo muito bonito. Até hoje eu vou lá. Entro por um corredor, subo uma escada à direita, torno a virar à esquerda. Uma vez eu fui durante o dia e me perguntaram: “Você aqui a esta hora?” Tenho certeza de que, quando eu desencarnar, vou para lá, porque esta minha existência é terapêutica de lá. Ainda sou paciente, estou internada lá. Então não tenho que ir para outra parte; até hoje eu vejo aqueles médicos, toda aquela gente e os reconheço. Reconheço até alguns daqueles personagens já reencarnados. Você também fala sobre veículos usados para transportar os Espíritos suicidas. Poderia adicionar algum comentário sobre isso, inclusive falar também sobre os animais que você viu lá? Antes de tudo, é preciso lembrar que quem escreveu o livro não fui eu, foram os Espíritos. Com relação aos meios de transporte, eu os vi de duas espécies. O primeiro era para retirar os Espíritos daquele vale, que é quase a Terra – estou desconfiada de que aquele Vale dos Suicidas não é no espaço coisa nenhuma, é aqui no perímetro da Terra... Quem retirava aqueles Espíritos eram os servidores da colônia, que utilizavam um veículo redondo, cheio de janelinhas ao redor. Era todo acolchoado no interior, muito bonito e cômodo. Os Espíritos sentavam-se e ficavam muito bem acomodados – acredito que esse conforto era, antes de tudo, um primeiro ato de caridade para aqueles Espíritos se consolarem; em cada detalhe percebíamos a ação da misericórdia divina. Não sei de que material aquilo era feito. Pelos conhecimentos que tenho sobre o mundo espiritual, sei que era alguma matéria, porque coisa imaterial não pode existir, senão seria o nada – a eletricidade, por exemplo, é um formidável elemento, mas não a vemos, vemos só os seus efeitos. Aqueles veículos subiam no ar e rodavam, como dizem que fazem os discos voadores. Quando eles chegavam na entrada da colônia, os passageiros desciam e entravam por um portão. Todos preenchiam uma espécie de ficha, onde se anotava tudo: nome, local em que viveram, gênero do suicídio que tiveram, grau de instrução, orientação religiosa, etc. Dali é que eles seguiam finalmente, para a colônia propriamente dita. Ali era só entrada. Nesse momento é que mudava o meio de transporte, surgiam, então, as carruagens, muito bonitas, muito artísticas. Havia até trenó com cachorros e carruagens puxadas por cavalos muito lindos, todos brancos. Na colônia tudo era branco, até os cavalos. As crinas iam revoltas, agitadas pelo vento. Eram perispíritos de animais? Acredito que sim pelos conhecimentos que tenho sobre esse assunto nas obras clássicas da Doutrina. Não nas de Kardec, mas de Gabriel Delanne. Podemos concluir que poderia ser, porque se até as plantas têm perispírito, como muito bem nos indica André Luiz, que dirá um animal, um mamífero. Acredito que fossem os perispíritos dos cavalos. Mas poderia ser, também, uma construção mental dos Espíritos, porque no além-túmulo podemos construir tudo, justamente com esse elemento do mundo espiritual que vem a ser fluido cósmico universal, cujas modificações são quase infinitas, como dizem as obras clássicas. Vi também aves enfeitando os jardins do hospital. Seriam os perispíritos de aves? Isto eu não posso garantir. Não sei. Poderia ser também criação dos Espíritos para enfeitar o ambiente, porque aqueles fundadores da colônia eram verdadeiros artistas; enfeitavam o mais possível. Eu me lembro de ter visto lá, numa enfermaria onde ficou o Camilo Castelo Branco e aqueles seus companheiros, um quadro da Virgem, de Murilo, muito bonito, verdadeira arte. Aquele quadro não era estático, ele se movimentava. E isso o que é? Não tenho como explicar tudo... Pode ser uma analogia. Nós não temos palavras para explicar essas coisas do mundo espiritual. Ainda estamos muito bisonhos nesse sentido. O livro tem produzido frutos, tanto no sentido de salvar criaturas do suicídio como na criação de obras do movimento espírita... Sim. E uma dessas obras é o Centro de Valorização da Vida, CVV. Esse movimento é mundial, mas ainda não havia no Brasil. Jacques Conchon, espírita de São Paulo, criou essa instituição influenciado pelo Memórias de um Suicida, por causa do apelo que o livro faz para que os homens criem algo para evitar o suicídio... Eles fazem plantão noite e dia... São verdadeiros abnegados... Jacques Conchon disse que a situação mais difícil de recuperar um candidato a suicídio é o caso de amor, porque aí eles não podem fazer nada. Se o problema é doença, eles tratam, põem em hospital; se é financeiro, alugam casa, compram mobília, arranjam emprego. Tudo isso é causa de suicídio. Já os casos de amor são mais difíceis. Em 15 anos eles perderam dez casos. Eu creio que a proporção é grande. Eram todos casos de amor... Isso talvez se dê porque não se pode controlar o coração de uma pessoa. Se alguém é abandonado pelo outro a quem ama, o que fazer? O remédio para uma pessoa apaixonada que é desprezada é a conformidade com a situação, é voltar-se para Deus ou, então, seguir o conselho do Léon Tolstoi: arranjar um outro amor. Léon Tolstoi dá esse conselho. No livro Sublimação ele fala: “Não vale a pena se matar nem se desesperar; arranja outro amor. Porque o nosso coração não pode viver sem amar e ser amado”. É da natureza humana... Não, meu filho, é da natureza divina! Porque Deus é amor e somos descendentes de Deus. É o melhor conselho, o de Tolstoi. Como enxerga o seu trabalho como médium? É engano pensar que eu esteja em missão. Não recebi uma missão. Todo meu trabalho foi de reparação dos meus erros. A misericórdia de Deus dá, para grandes criminosos do passado, a mediunidade, para que ele, numa única existência, possa resgatar muita coisa, pois a mediunidade beneficia muita gente! O médium normalmente nem sabe o quanto beneficia. Aliás, o meu dever inadiável, inapelável, era só receber Memórias de um Suicida. Se eu o escrevesse estaria bem, não precisava escrever outro. Mas a misericórdia divina me deu mais, pois até agora tenho mais de dez publicados. Mas o que eu devia fazer era esse, só. Pude fazer mais alguns e, quem sabe, ainda posso publicar outros? Minha atividade mediúnica é um resgate. À proporção que iam saindo os meus livros, a angústia ia amenizando. Hoje eu sou uma criatura completamente equilibrada, não tenho mais essa angústia. Haja o que houver na minha vida, essa angústia não existe mais em mim. Fonte: Extraído da Revista Universo Espírita – ano de 2006